Economia verde
30 de janeiro de 2012O restrito acesso à água potável em várias regiões do globo foi o mote para a Siemens se lançar numa corrida tecnológica – e comercial. Em parceria com o governo de Cingapura, a empresa desenvolveu um purificador que devolve à água imprópria para o consumo humano um grau de pureza melhor do que o especificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Batizada como SkyHydrant, a solução já está em uso em mais de 450 comunidades asiáticas e africanas que sofrem com a falta de abastecimento desse recurso natural. E a Siemens se tornou um dos exemplos pioneiros que vêm do setor privado, listados num banco de dados especial organizado pela UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, na sigla em inglês).
A iniciativa foi lançada neste mês e quer acelerar a resistência frente às mudanças climáticas: enquanto muitos governos ainda mantêm um ritmo lento na tomada de decisões, o setor privado tenta acelerar o passo. Além da Siemens, marcas de peso como Coca-Cola, Nestlé e Levis concordaram em dividir com a comunidade internacional algumas experiências de adaptação ao clima voltadas para obter lucros ou evitar perdas.
A base de dados pode ser consultada online, na página da UNFCCC, e já conta com 100 casos espalhados pelo mundo. O trabalho de pesquisa durou seis meses e foi coordenado pelo brasileiro Emerson Resende, que atua no Programa de Adaptação do órgão, com sede em Bonn, na Alemanha.
Clima diferente e lucro
Além dos agentes tradicionais do mercado, como oferta de commodities ou preço da mão de obra, a indústria começa a considerar o efeito das mudanças do clima sobre seus negócios. Ou a buscar oportunidades e novos mercados nesse cenário em transformação, como foi o caso da Siemens e seu SkyHydrant.
A gigante alimentícia Nestlé dá início a novas práticas agrícolas em plantações de café e cacau para garantir a matéria-prima em áreas mais expostas às intempéries. A empresa está investindo cerca de 208 milhões de reais para treinar produtores nas Américas, África e Ásia para que façam melhor uso da água, dos fertilizantes e para que mantenham a fertilidade do solo.
A previsão de invernos mais quentes no Reino Unido despertou o senso de urgência do grupo inglês GlaxoSmithKline, dono da popular marca de sucos Ribena. O cassis, ou groselha-preta, é usado como base de várias bebidas da fabricante. Ele se desenvolve bem em clima frio e é cultivado em larga escala no Reino Unido.
Numa parceria com um instituto de pesquisa da Escócia, a marca patrocina um estudo para identificar espécies da planta que se adaptariam melhor sob as novas condições climáticas inglesas. Não se trata de semente transgênica, cujo cultivo é proibido na Europa, mas de cruzamento simples de variedades. A experiência já está colhendo bons frutos em fazendas de Gloucestershire, no sudoeste da ilha.
Adaptar para não perder
"Essas iniciativas mostram como o setor privado pode assegurar vantagens com antecedência ao se adaptar, e sem esperar por certezas políticas absolutas no nível internacional", comentou Christiana Figueres, chefe da UNFCCC.
Emerson Resende acrescenta que um dos objetivos do trabalho é mostrar exemplos claros que ajudem o público a entender o que é adaptação – e que ela não representa um "custo adicional para a empresa". "Muito pelo contrário, a adaptação pode ser lucrativa", disse em conversa com a DW Brasil.
Além de se tornar um exemplo listado pelo secretariado das Nações Unidas, a Levis alcançou novos consumidores com sua causa sustentável. Decidida a diminuir os custos de um dos recursos naturais mais ameaçados de escassez diante das mudanças climáticas, a água, a fabricante cortou gastos e lançou uma coleção como produto da empreitada: a Water
Desde março de 2011, ocasião do lançamento, a Levis estima que tenha economizado 156 milhões de litros de água ao simplesmente reduzir o número de lavagens do jeans. O efeito colateral: itens da coleção estão esgotados na venda online.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque