Sinal dos tempos: tradição do 1° de abril está sumindo na sociedade
1 de abril de 2012Ainda não se sabe ao certo quem contou a primeira mentira na história do 1° de abril. A brincadeira anual poderia remontar à época dos antigos romanos, que comemoravam na data uma grande festa em homenagem à deusa Vênus. Orgias e diversos tipos de brincadeiras faziam parte da celebração.
Segundo outra explicação, a decisão de 1530 da cidade alemã de Augsburg de unificar a moeda estatal teria exercido um papel importante para o dia da mentira. A data escolhida para a unificação da moeda foi o dia 1° de abril.
No entanto, isso não aconteceu nessa data e muitos especuladores perderam dinheiro e foram acolhidos com gozação e deboche.
Reforma do calendário
Porém, a explicação mais plausível é que o rei francês Carlos 9° tenha iniciado a brincadeira do dia 1° de abril. Com a reforma do calendário gregoriano, ele estabeleceu em 1564 que o Ano Novo, até então comemorado em 1° de abril, passasse a ser comemorado em 1° de janeiro, o que não chegou aos ouvidos de muitas pessoas da época. No 1° de abril, os que sabiam zombavam daqueles que comemoravam o Ano Novo na data errada.
No início, as brincadeiras eram totalmente diferentes, sendo alteradas no decorrer da história. Nos séculos 17 e 18, as regras sociais tinham cada vez mais importância para orientar as travessuras. Dessa forma, os adultos podiam zombar das crianças, mas o contrário não era possível.
Mídias que criam histórias
Assim como muitos costumes, as piadas de abril também se transformaram ao longo do tempo. "Nossa noção de humor foi em grande parte formada pelas mídias. Nós assistimos piadas na televisão ou damos risadas de brincadeiras de rádio e temos aí uma elite funcional que, no plano midiático, está sempre recriando as piadas de abril", disse o etnólogo Gunther Hirschfelder.
E assim, nós somos enganados quase que apenas pela mídia, com notícias inventadas e histórias falsas. As mentiras da BBC são legendárias.
Em 1° de abril de 1957, a emissora britânica informou sobre a colheita de espaguete no cantão suíço de Tessino. Nos seus televisores, os espectadores assistiram pasmados aos camponeses suíços colherem das árvores longos espaguetes.
Piadas clássicas tornam-se raridades
No dia a dia, as piadas tornaram-se raras. Para Gunther Hirschfelder, a culpa é do aumento da pressão de trabalho sobre as pessoas. Para brincadeiras, não sobra tempo. Hoje, simplesmente não há mais espaço para brincadeiras, e isso não poderia ser diferente no dia da mentira.
"Atualmente, em nossa sociedade, grande parte dos contatos são realizados em um espaço virtual, através da internet ou do telefone, e as piadas de abril quase não são mais possíveis, pois dependem do contato direto. Isso requer uma situação real e não digital", explicou Hirschfelder.
Apesar do embaraço, alguns até podem sentir falta das brincadeiras e desejar reviver os costumes do dia da mentira. Afinal, quando alguém faz uma piada conosco, quer também dizer que nos dá atenção.
Autora: Ralf Gödde (dd)
Revisão: Carlos Albuquerque