Situação na maior usina nuclear da Europa "fora de controle"
4 de agosto de 2022Especialistas dizem que a usina nuclear de Zaporíjia, na Ucrânia, a maior da Europa, está "extremamente vulnerável" a um colapso, depois que o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que todas as medidas de segurança foram "violadas" pelas forças russas, que ocupam o local desde março. A usina também está perto de áreas de combate entre os ucranianos e os invasores russos.
Se a usina perder a energia da rede devido a um potencial aumento de combates na região, os geradores e baterias de backup não seriam suficientes para resfriar os seis reatores e os grandes reservatórios de combustível altamente radioativo, disse Shaun Burnie, especialista nuclear do Greenpeace Ásia Leste.
Somam-se a essas preocupações as suspeitas de que as forças russas estariam usando Zaporíjia como depósito de armas e cobertura para o lançamento de ataques. O secretário de Estado americano, Anthony Blinken, disse que a Rússia estaria usando a instalação nuclear como o "equivalente a um escudo humano". A declaração foi feita naconferência da ONU sobre não proliferação nuclear, nesta semana.
Usar a usina para esses fins viola a Convenção de Genebra, que prevê cuidados especiais se "instalações contendo forças perigosas" estiverem localizadas perto de combates. Cerca de 500 soldados russos estão atualmente no local.
Quando os primeiros combates começaram nas proximidades da usina, no início de março, foi a primeira vez na era atômica que uma guerra chegou tão perto de uma grande instalação desse tipo.
E, depois que as forças russas ocuparam a usina em meados de março e permitiram que a equipe ucraniana continuasse seu trabalho, as notícias de Zaporíjia, que atualmente opera três de seus seis reatores, passar a ser intermitentes.
Segurança nuclear "violada" por ocupantes russos
Agora, no entanto, aumenta novamente a preocupação de que a planta não esteja sendo suficientemente mantida.
"[É uma] violação de todas as medidas de segurança nuclear possíveis que você possa imaginar", disse Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em entrevista à DW.
"É verdade que há explosivos e outros materiais estocados perto dos reatores?", questiona ele sobre informações de que mísseis e outras armas poderiam ser lançados do local, com contra-ataque impossível devido à extrema ameaça de um acidente.
Grossi também está preocupado com o fato de os funcionários ucranianos sob comando dos ocupantes russos em Zaporíjia não conseguirem cumprir adequadamente suas funções e ainda enfrentarem ameaças de violência.
"Estou tentando montar uma missão técnica, liderada por mim, para ir até lá [Zaporizhia] para resolver vários problemas", disse à DW.
Mas o acesso será impossível sem o acompanhamento das forças de paz da ONU, explica Grossi, razão pela qual ela está com contato com o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Em entrevista à AP, Grossi disse que a AIEA tem apenas contato "irregular" com funcionários do local. Ele também está preocupado de que os equipamentos necessários, incluindo peças de reposição para manutenção dos reatores, não estejam sendo entregues devido a cadeias de suprimentos interrompidas.
"Não temos certeza se a planta está recebendo tudo o que precisa", afirmou, acrescentando que a situação está "completamente fora de controle".
Planta "extremamente vulnerável”
Shaun Burnie, do Greenpeace, concorda que é vital que funcionários locais treinados mantenham suas posições e possam trabalhar com segurança na usina. Embora a Rússia tenha mais que o dobro de reatores do que a Ucrânia, a maioria deles são modelos mais antigos, o que significa que seus engenheiros não têm experiência para operar a tecnologia em Zaporíjia, que é mais moderna.
A equipe local também seria necessária no caso de inundações regulares do rio Dnieper, que flui nas proximidades da usina e pode danificar as barragens e reservatórios que fornecem água de resfriamento para os reatores.
Petro Kotin, chefe da estatal ucraniana Energoatom, operadora de usina nuclear, acusou a Rússia de sequestrar até 100 funcionários de Zaporíjia.
"Algumas dessas pessoas voltam ao trabalho com a psique abalada, declarando que amam o mundo russo por causa das torturas que sofreram dos invasores", disse Kotin.
Burnie está duplamente preocupado após uma recente visita à usina nuclear de Chernobyl, que anteriormente também ocupada pela Rússia, local do pior desastre nuclear do mundo em 1986.
Lá, sua equipe descobriu uma zona de exclusão restrita repleta de minas – o que impediu o monitoramento efetivo da área. Ele disse que também descobriu que equipamentos vitais de monitoramento em Chernobyl foram destruídos, roubados e danificados pelas forças russas.
Grossi, vem pedindo a libertação da usina dos "invasores" russos, dizendo que o presidente russo, Vladimir Putin, está envolvido em "terrorismo nuclear".