Grupo pró-democracia de Hong Kong encerra atividades
25 de setembro de 2021O grupo pró-democracia Hong Kong Alliance, que realizava uma vigília anual na cidade para lembrar os centenas de mortos no Massacre da Praça da Paz Celestial, ato pró-democracia ocorrido em Pequim em 4 de junho de 1989 e violentamente reprimido pelas Forças Armadas chinesas, informou neste sábado (25/09) que decidiu encerrar suas atividades diante da pressão crescente de Pequim.
O coletivo de ativistas, conhecido como HK Alliance e cujo nome em português é Aliança em Apoio aos Movimentos Democráticos Patrióticos na China, é o grupo mais recente da cidade a sucumbir diante de uma forte repressão imposta pelas autoridades chinesas.
Hong Kong foi colônia do Reino Unido e mantinha certa autonomia, mas desde 1997 está submetida à soberania da China, que nos últimos anos vem apertando o controle sobre a cidade. Políticos locais alinhados a Pequim aprovaram em junho de 2020 uma nova lei de segurança nacional, que prevê até a prisão perpétua para quem cometer subversão e vem sendo usada contra dissidentes e críticos do regime chinês.
A maioria dos membros do HK Alliance apoiou o encerramento das atividades. Vários de seus líderes já estão presos por terem participado de iniciativas pró-democracia. "É uma dissolução muito dolorosa", disse Tsang Kin-shing, membro da aliança. "O governo usa todos os tipos de leis para forçar os grupos da sociedade civil a se desmembrarem."
Ativistas acusados de subversão
Autoridades locais já haviam congelado ativos no valor de 2,2 milhões de dólares de Hong Kong (R$ 1,5 milhões) que pertecem ao grupo, depois de acusar seus membros de incitarem a subversão.
Albert Ho e Lee Cheuk-yan, dois dos líderes da aliança, já foram condenados e presos após a realização de grandes protestos contra o governo em 2019. Eles assinaram um documento pedindo que o grupo se dissolvesse tendo em vista "o atual ambiente social".
"Ainda tenho esperança de apresentar as crenças do Hong Kong Alliance para o mundo e seguir com esse movimento que já durou 32 anos", escreveu a vice-presidente do grupo, Chow Hank Tung, que está presa.
Pequim tenta esconder massacre de 1989
O HK Alliance havia sido fundado em maio de 1989 para apoiar o movimento estudantil pró-democracia em Pequim. Um mês depois, o Exército chinês invadiu a Praça da Paz Celestial e esmagou os protestos. A contagem oficial aponta 300 mortos, mas testemunhas dizem que milhares podem ter morrido.
O governo chinês em seguida apagou toda a memória do evento dos registros oficiais, mas o grupo baseado em Hong Kong a manteve viva realizando vigílias com velas todos os anos no dia 4 de junho. Eles também costumavam aproveitar o evento para pedir aos líderes chineses o fim do sistema de partido único e que eles "construíssem uma China democrática".
Autoridades de segurança nacional de Hong Kong informaram o grupo no início do ano que eles estavam sendo investigados já sob a nova lei de segurança nacional, e requereram documentos e listas com os nomes de seus membros, mas a aliança recusou-se a entregá-los, sob o argumento de que seria uma ordem ilegal. As autoridades então acusaram os líderes do grupo de subversão, deflagrando uma repressão ainda mais forte.
bl (AFP, Reuters)