Sob temor de crise, Itália se prepara para nova eleição
28 de dezembro de 2017O presidente da Itália, Sergio Mattarella, dissolveu nesta quinta-feira (28/12) o Parlamento, com o objetivo de abrir caminho para eleições gerais que ameaçam abrir um período de instabilidade política na terceira maior economia da União Europeia.
Parte da incerteza se dá pelo fato de a eleição, marcada para 4 de março, ser a primeira realizada desde a reforma eleitoral, aprovada em outubro. Segundo o novo sistema, que beneficia coalizões, o pleito não deverá ter um vencedor claro.
"Não vamos fazer drama sobre o risco de instabilidade: estamos bastante vacinados contra isso", disse o atual premiê, Paolo Gentiloni, em referência às constantes trocas de governo na Itália – foram mais de 60 desde o fim da Segunda Guerra.
Populismo e incerteza
O movimento anti-estabilishment 5-Estrelas (M5S) está à frente nas pesquisas de opinião, com cerca de 28% das intenções de voto, seguido pelo governante Partido Democrático (PD), de Gentiloni, que tem 23%.
Mas a maioria das cadeiras no Parlamento deve ir para a aliança feita pelo partido Força Itália, de Silvio Berlusconi, dono de 16% das intenções de voto, e as legendas populistas de direita e eurocéticas Liga Norte (13%) e Irmãos da Itália (5%).
O panorama deve ser um teste não apenas para a política italiana mas também para a União Europeia, que viu no último ano, em meio à crise migratória, a ascensão de partidos nacionalistas e populistas de direita em alguns de seus Estados-membros.
Em tradicional entrevista coletiva de fim de ano, o primeiro-ministro apelou aos políticos que não espalhem medo e façam promessas surreais durante a campanha, que deve ser centrada na dívida estatal italiana e na questão migratória.
"Acho que é de interesse de nosso país ter uma campanha eleitoral que limite ao máximo possível a difusão de medo e ilusão – são esses os riscos que temos diante de nós", afirmou Gentiloni.
Novo sistema
O novo sistema eleitoral, uma mistura de representação proporcional e voto nominal, deve beneficiar partidos que formam coalizões antes da eleição, algo que o Movimento 5-Estrelas sempre descartou.
Na Itália, haverá a partir de agora um sistema misto: um terço dos parlamentares será eleito em colégios majoritários com apenas um candidato por partido ou coalizão em cada distrito, sendo eleito o mais votado; o restante será escolhido de forma proporcional, através de listas fechadas.
Quem opôs mais resistência a este sistema foi o Movimento 5-Estrelas, que considera que ele foi idealizado por essas legendas para beneficiar as coalizões e prejudicar suas aspirações - o partido sempre assegurou que vai disputar as eleições sozinho.
O M5S também protestou contra o método escolhido pelo governo para aprovar o sistema eleitoral através de votos de confiança, para eliminar o debate parlamentar dos artigos e os possíveis franco-atiradores, os parlamentares que votam em segredo contra as diretrizes do seu próprio partido.
O novo sistema eleitoral prevê que 36% das cadeiras da Câmara dos Deputados e do Senado serão atribuídas com um sistema majoritário baseado em circunscrições de indicação única, e 64%, de forma proporcional.
Entre outras coisas estabelece um limite eleitoral de 3% dos votos para que os partidos possam entrar nas câmaras e de 10% em caso de estarem agrupados em coalizões.
A dissolução do Parlamento marca, dias antes de seu fim oficial, o encerramento de uma das legislaturas mais confusas das últimas décadas na Itália, que teve três governos distintos - Enrico Letta, Matteo Renzi e Gentiloni - e termina como começou: confusa e envolta em incerteza.
O temor é de que o resultado de março possa gerar um limbo político, com nenhum partido ou aliança chegando à marca 40% dos votos, algo que, num "cenário italiano", analistas veem como uma margem razoável para governar com tranquilidade.
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