Crise partidária
11 de março de 2008Um novo cenário político alemão ficou claro nas recentes eleições estaduais de Hessen. Cinco partidos conseguiram a cota mínima de 5% dos votos para se representar na Assembléia Estadual. Para assumir o poder, o Partido Social Democrata (SPD) teria que se coligar com Verdes e A Esquerda, composto de ex-comunistas e antigos social-democratas.
Foi este namoro entre o SPD e A Esquerda que quase provocou, nas últimas semanas, a queda do presidente do partido social-democrata e governador do estado da Renânia-Palatinado, Kurt Beck. Alguns membros do SPD rejeitam qualquer tipo de coligação com A Esquerda.
Kurt Beck negou, no início da semana, que havia quebrado sua palavra e concordado com uma cooperação em nível estadual com A Esquerda. Ele também descartou sua demissão como líder dos social-democratas.
Crise de identidade
Beck admitiu que os esforços de seu partido para impedir o crescimento de A Esquerda falharam. O governador afirmou, no entanto, que irá tolerar cooperações em nível municipal, mas não em nível nacional. "A Esquerda é um partido adversário e continuará assim", afirmou Beck. O presidente social-democrata mencionou "diferenças inconciliáveis" entre o SPD e A Esquerda na política financeira, social e de relações exteriores.
Atualmente, o SPD é o parceiro na coalizão de governo com o partido da chanceler federal Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU). A "grande coalizão" levou o SPD a certa crise de identidade, enquanto cai cada vez mais na preferência dos eleitores.
Uma pesquisa de opinião do instituto Infratest dimap apontou que somente 20% dos alemães votariam hoje em Kurt Beck, caso a eleição para chanceler federal fosse direta. Merkel teria mais de 60% da preferência eleitoral.
Prós e Contras
Johannes Kahrs, porta-voz da ala conservadora do SPD denominada de ala Seeheimer, opina que o partido terá que ganhar novamente a confiança popular após o "infeliz escorregão" à esquerda em Hessen. Para Kahrs, a declaração de Beck desta semana foi um começo. A decisão de coligar ou não com um determinado partido deve ser tomada já antes da eleição, explica o porta-voz. Kahrs exige um consenso partidário sobre o tema.
Wolfgang Thierse, vice-presidente do Parlamento alemão, não vê alternativas para o curso indicado pelo presidente social-democrata. Thierse sugere, conforme a oferta de pessoal e de conteúdo, uma cooperação pragmática em nível regional e municipal.
Citando o ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrück, a revista Der Spiegel escreveu que os social-democratas teriam entregado as próximas eleições, que deverão ser realizadas em setembro de 2009, ao partido de Angela Merkel (CDU).
Dagmar Metzger x Andrea Ypsilanti
Nesta terça-feira (11/03), a bancada social-democrata no Parlamento alemão irá discutir os acontecimentos em Hessen e a relação do partido com A Esquerda. A bancada estadual do SPD de Hessen também discutirá o assunto em Wiesbaden, capital do estado.
Espera-se uma declaração da deputada estadual social-democrata Dagmar Metzger, que se opôs à formação de um eventual governo estadual de coalizão entre SPD e A Esquerda. A recusa de Metzger foi o motivo da desistência da social-democrata Andrea Ypsilanti em se candidatar ao governo do estado, pois lhe faltaria justamente este voto para ser confirmada no cargo.
Nas últimas eleições estaduais de Hessen, num total de 110 assentos na Assembléia Estadual, SPD e CDU obtiveram 42 cadeiras cada; os liberais ganharam 11, o Partido Verde saiu com nove e A Esquerda obteve seis assentos.