Softwares de previsão ajudam na luta contra surtos e epidemias
11 de setembro de 2014Doenças sempre correram o mundo com o deslocamento de pessoas. Já na Idade Média, quando se viajava apenas a pé ou a cavalo, a peste bubônica, por exemplo, assolava a Europa. Com os meios de locomoção modernos, a propagação se tornou mais rápida e fácil. Aviões precisam de cerca de 24 horas para atravessar o planeta, transportando consigo todo tipo de germes e vírus.
O vírus mais em evidência do momento, o ebola, segue contido na África Ocidental. Mas o surto, que começou na Guiné em dezembro de 2013, espalhou-se por países vizinhos, como Serra Leoa, Libéria e Senegal, além da Nigéria. A situação piorou muito nos últimos meses.
Ferramentas como o Google Maps permitem mapear os casos de ebola e traçar a cronologia da epidemia, mostrando a propagação do vírus. Essa tecnologia é usada, por exemplo, pelos profissionais do HealthMap – uma equipe de pesquisadores epidemiologistas e desenvolvedores de software. Seu mapa interativo ilustra, por meio de uma linha do tempo, como a epidemia se espalhou a partir da Guiné.
Mas, para entender como um vírus se espalha pelo mundo, é fundamental olhar para os aeroportos e suas conexões, dizem pesquisadores. As conexões são decisivas para a rapidez com que um vírus se propaga. Nova York, por exemplo, está muito mais próxima e mais acessível para um vírus originário de Londres do que uma vila remota na Escócia, simplesmente pela quantidade de voos diretos entre essas duas metrópoles.
Cálculos de probabilidade
Partindo desse princípio, os físicos Dirk Brockmann, da Universidade Humboldt em Berlim, e Dirk Helbing, da Universidade Técnica de Zurique, criaram um modelo matemático que calcula como um vírus ou bactéria pode se propagar geograficamente e em qual cidade ele provavelmente chegará primeiro.
O modelo já foi usado para simular a propagação do vírus da gripe suína H1N1, da bactéria E.coli (EHEC) e da síndrome respiratória aguda grave (Sars). Agora a equipe adaptou a simulação para o recente surto de ebola.
Segundo Brockmann, o comportamento de viagem das pessoas é determinante para elaborar o padrão de propagação de um agente patogênico, sendo até mais importante que as próprias especificidades deste.
A simulação mostra uma rede de aeroportos e indica a probabilidade relativa de o ebola alcançar essas cidades. A partir do aeroporto de Conacri, capital da Guiné, Paris tem o maior risco de se tornar um ponto de entrada da doença na Europa. Sua probabilidade relativa de importação é cerca de 8%.
Porém, se calculado a partir da capital de Serra Leoa, Freetown, os aeroportos de Londres – Gatwick e Heathrow – somam um risco conjunto de 8,5%, seguidos pelo aeroporto de Zaventem, em Bruxelas.
"Nesse cálculo entram também fatores históricos, que poderíamos chamar de 'impressões digitais coloniais'. Vários países europeus continuam tendo um tráfego aéreo intenso para suas antigas colônias, como por exemplo, da França à Guiné", diz Brockmann.
A Alemanha, cujo principal aeroporto internacional está localizado em Frankfurt, tem um risco menor do que Inglaterra ou França. É mais provável, por exemplo, que o ebola atinja outros países africanos, como Gana, do que o território alemão.
Mas Brockmann ressalta que se trata de probabilidade relativa. O modelo pode estimar que o risco de importação do ebola é maior na França do que na Alemanha, mas, no momento, não é possível calcular a probabilidade absoluta de que haverá um caso de ebola, por exemplo, na Inglaterra nas próximas três semanas. "Mas estamos trabalhando nisso."
Google tenta prever epidemias
Outras ferramentas têm tentado prever a ocorrência de surtos ou epidemias. Há alguns anos, a Google afirmou que poderia prever surtos de gripe. Seu software Tendências da Gripe analisa termos de pesquisa e os relaciona a endereços de IP (que mostram onde um computador está)o. A ideia por trás: pouco antes da eclosão de uma epidemia, as pessoas pesquisam na internet usando termos relacionados à doença, como "gripe" e "sintomas".
Tendências da Gripe permite checar, em tempo real, o risco em determinado país. A empresa também lançou uma ferramenta semelhante para a dengue.
Mas, segundo um estudo publicado na revista especializada Science, a tecnologia do Google é incapaz de oferecer prognósticos reais. A ferramenta não registrou, por exemplo, uma epidemia de gripe em 2009 e, após uma atualização do software, o Tendências da Gripe está exagerando nos prognósticos de risco.
Segundo os pesquisadores na Science, a ferramenta estava prevendo mais do que dobro de consultas médicas por causa de gripe do que Centro de Controle de Doenças e Prevenções dos Estados Unidos, que faz suas previsões com base em exames laboratoriais.