SPD fortalece perfil anticrise ao optar pela candidatura de Steinbrück
2 de outubro de 2012Depois de semanas de expectativa, o Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) anunciou na sexta-feira passada (28/09) que o ex-ministro das Finanças Peer Steinbrück, de 65 anos, vai enfrentar a chanceler federal Angela Merkel nas eleições de 2013.
Com isso, os dois outros possíveis candidatos – o presidente do SPD, Sigmar Gabriel, e o líder da bancada social-democrata, Frank-Walter Steinmeier – dão lugar a uma pessoa que não ocupa cargo púbico desde as eleições parlamentares de 2009.
O SPD segue uma estratégia clara ao nomear Steinbrück, avalia o professor emérito de política da Universidade Livre de Berlim, Gero Neugebauer. "Ao lado de Steinmeier, Steinbrück é aquele que tem aceitação na classe média. Mas, diferentemente de Steinmeier, Steinbrück é alguém que defende suas posições de forma ofensiva, alguém disposto a correr riscos."
Decisão estratégica
Steinbrück ocupava o cargo de Ministro das Finanças durante a crise gerada pela falência do banco Lehman Brothers, em 2008, e permaneceu na memória de muitos alemães como um gestor de crises competente e especialista em finanças. A nomeação dele reforça a competência do SPD quando o assunto é a crise da dívida europeia.
Com Steinbrück, o SPD aposta em um "homem de ação", coisa que o partido não tinha desde a saída do poder do ex-chanceler federal Gerhard Schröder. Para Neugebauer, a opção por Steinbrück é uma decisão racional e tática. "O SPD vai ao encontro dos eleitores. Em tempos de crise, estes esperam estabilidade, segurança e mudanças e anseiam por liderança."
E justamente esse é o perfil de Steinbrück. Por um lado, ele é visto como pragmático. Por outro, expõe suas posições de forma clara – uma decisão estratégica do SPD, já que Steinbrück não é o candidato que mais fala ao coração dos social-democratas, afirma Neugebauer.
O fato de Steinbrück não ocupar nenhum cargo desde a sua saída do Ministério da Fazenda, em 2009, não é necessariamente uma desvantagem para ele ou para o partido. Ao contrário, o candidato Steinbrück vai para a campanha eleitoral sem grandes máculas. "Três anos sem um cargo significam também três anos sem estar tão presente, de forma que as pessoas não podem atribuir erros a ele", conclui Neugebauer.
SPD não vai dar uma guinada à direita
A ala esquerda do partido teve que engolir a opção por Steinbrück, que era e é um dos adeptos da Agenda 2010, o programa de reformas iniciado na era Schröder que há anos é criticado como antissocial pelos setores mais à esquerda do SPD. Eles gostariam de alterar alguns pontos da agenda, como a diminuição gradual dos valores das aposentadorias.
Também o gerenciamento da crise de 2008, quando Steinbrück atuou ao lado de Merkel, criou em muitos integrantes do SPD a impressão de que o então ministro das Finanças era mais amigo dos bancos do que dos trabalhadores.
Mas, de lá para cá, Steinbrück parece ter feito concessões à ala esquerda do SPD: uma proposta recente dele prevê suspender a responsabilidade do Estado pelos bancos, proibir negócios financeiros altamente especulativos e separar os negócios de investimento dos negócios de varejo dos bancos.
O cientista político Thorsten Faas, da Universidade de Mainz, diz que a proposta é um aceno de paz à ala esquerda do SPD. De uma forma ou de outra, ele diz não acreditar que o SPD dê uma guinada à direita com Steinbrück.
Com a chamada "troika" – formada por Steinbrück, Gabriel e Steinmeier – o SPD abrange uma ampla variedade de posições e temas que certamente serão debatidos na campanha eleitoral. "Trata-se de uma constelação interessante do ponto de vista estratégico, se for possível fazer com que os três trabalhem juntos também no futuro: Steinbrück, que tende mais para o centro; Gabriel, que representa a ala de centro-esquerda do partido; e Steinmeier, que aborda mais a política externa. Essa combinação pode funcionar bem", avalia Fass.
A "troika"
Essa nova abrangência temática dá ao SPD a chance de cativar novos eleitores e tirar Merkel do poder, diz Neugebauer. "Steinbrück representa um partido que discute amplamente, com o qual muitos se identificam. Merkel está sozinha. Nisso reside a dificuldade do conceito eleitoral dela. Ela precisa esclarecer com quem ela debate o quê, de onde tira suas forças e que não tem que decidir tudo sozinha."
As pesquisas mostram que a maioria dos alemães escolheria Merkel e não Steinbrück se as eleições fossem hoje. Isso não é um grande problema para o candidato do SPD, avalia Neugebauer. "A experiência mostra que, para os alemães, a pessoas não é tão importante. Ao contrário de outros sistemas eleitorais, como nos Estados Unidos ou na França, os eleitores estão mais atentos ao partido e suas políticas."
O SPD e Steinbrück têm agora doze meses para reverter a desvantagem em relação a Merkel.
Autor: Friedel Taube (fc)
Revisão: Alexandre Schossler