Suposto mentor de programa nuclear iraniano é morto
27 de novembro de 2020O cientista iraniano que é suspeito de ser o mentor de um antigo programa nuclear do país foi morto nesta sexta-feira (27/11) numa emboscada nos arredores de Teerã. O Irã acusou Israel de envolvimento no assassinato do pesquisador.
Segundo a imprensa iraniana, Mohsen Fakhrizadeh morreu no hospital depois de seu carro ter sido alvejado por vários atiradores. Até o momento, ninguém assumiu a autoria do atentado.
Israel se recusou a comentar a morte do cientista, assim como os Estados Unidos. Há quase uma década, Israel é suspeito de estar por trás de uma série de ataques a cientistas nucleares iranianos.
Até o momento chefe do departamento de pesquisa e inovação do Ministério da Defesa, Fakhrizadeh foi descrito pelo Ocidente como um dos mentores do programa de bomba atômica do Irã, que foi interrompido em 2003 e que Israel e os EUA acusam Teerã de ter reativado secretamente. O Irã, porém, nega estar trabalhando em armas nucleares.
Segundo a agência de notícias semioficial Fars, próxima da Guarda Revolucionária Iraniana, o ataque aconteceu em Absard, uma pequena cidade a leste da capital. Testemunhas ouviram o som de uma explosão e depois disparos de uma metralhadora, num atentado que teve como alvo o carro do cientista. Os feridos, incluindo os guarda-costas de Fakhrizadeh, foram depois levados para um hospital local.
Já a agência de notícias semioficial Tasnim noticiou que "terroristas explodiram outro carro" antes de alvejar o automóvel onde estava o cientista.
Fakhrizadeh liderou o chamado programa Amad, ou Esperança. Israel e o Ocidente alegaram que essa operação militar tinha como objetivo saber a viabilidade da construção de armas nucleares, mas Teerã sempre alegou que o programa era pacífico. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), o programa terminou no início dos anos 2000.
Embora ninguém tenha assumido a autoria do ataque desta sexta-feira, a imprensa iraniana observou o interesse que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, havia demonstrado no cientista. Em 2018, ao acusar Teerã de continuar em busca de armas nucleares, o premiê afirmou: "Lembrem esse nome, Fakhrizadeh."
Acusações a Israel
Após o atentado, o ministro do Exterior do Irã, Mohammad Javad Zarif, afirmou que o assassinato foi "um ato terrorista" e acusou Israel. "Os terroristas assassinaram hoje um proeminente cientista iraniano. Esta covardia – com sérios indícios de participação de Israel – mostra o belicismo desesperado dos seus autores", escreveu Zarif no Twitter.
O chefe da diplomacia iraniana apelou também à comunidade internacional para "pôr fim às suas vergonhosas posições ambivalentes e condenar este ato terrorista".
O conselheiro do líder religioso supremo do país, Ali Khamenei, e candidato à presidência nas eleições de 2021, Hossein Dehghan, também acusou Israel.
"Nos últimos dias de vida política do seu aliado no jogo [o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump], os sionistas procuram intensificar e aumentar a pressão sobre o Irã para travar uma guerra de pleno direito. Vamos descer como um raio nos assassinos deste mártir oprimido e faremos com que se arrependam das suas ações", ameaçou Dehghan.
O ataque ocorreu nos últimos meses do governo Trump, que perdeu as eleições para o democrata Joe Biden. Espera-se que Biden mude a postura do país em relação ao Irã, que sob a presidência do magnata retirou os Estados Unidos do acordo assinado por potências mundiais em Viena, em 2015, sobre o programa nuclear de Teerã, além de ter reinstaurado e endurecido as sanções contra o país do Oriente Médio.
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