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Só morre quem é esquecido

Carlos Albuquerque2 de novembro de 2005

Diferente dos brasileiros, os alemães relembram seus mortos no 1° de novembro. Esta porém não é a única diferença na forma de reverenciar a memória dos que se foram.

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Lápide no cemitério de ColôniaFoto: Calbuquerque/DW

Existem poucas coisas comuns entre todas as pessoas deste mundo. Uma delas é a ausência que traz o falecimento de um ente querido. No entanto, a forma como esta ausência é celebrada, ou, utilizando um termo bastante atual, os rituais que separam vivos e mortos, diferem de cultura a cultura.

Na Alemanha, e na Europa em geral, o dia de relembrar os mortos é o Dia de Todos os Santos (01/11) e não o Dia de Todas as Almas ou Dia de Finados (02/11). O 1° de novembro é feriado oficial em Estados católicos como a Baviera, Sarre ou a Renânia do Norte-Vestfália e nas regiões católicas dos Estados do Leste Alemão.

Entretanto, a data de reverenciar a memória dos falecidos não é a única diferença entre brasileiros e alemães no que diz respeito às cerimônias fúnebres, que incluem lindos cemitérios, banquetes e novas formas de sepultamento.

Após a morte

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Ao caminho do cemitérioFoto: Calbuquerque

Segundo o Direito alemão, o corpo deve ser enterrado em um prazo máximo de 96 horas ou quatro dias após o falecimento. Um prolongamento do prazo é possível mediante uma petição. Após a morte, um médico, geralmente o médico da família, deverá ser chamado imediatamente. Ele escreve o atestado de óbito e encaminha o corpo ao necrotério, onde deve ficar até as cerimônias fúnebres.

Geralmente, a família contrata uma empresa funerária que trata das notas fúnebres, do local de sepultamento, da mesa de condolências, da urna funerária (caixão), dos paramentos, da sala de cerimônia, do banquete fúnebre, etc.

Na Alemanha, não há velório. O sepultamento, realizado em torno de cinco a seis dias após o óbito, é feito com caixão fechado. Como há a obrigatoriedade do dízimo, somente as pessoas que o pagam são consideradas pertencentes à Igreja e têm direito a missa. No caso de não pertencer, em vez do padre, um parente ou amigo da família poderá proferir algumas palavras durante a cerimônia fúnebre.

A caminho da eternidade

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Flores em jazigo na AlemanhaFoto: Calbuquerque

Após a missa ou cerimônia na capela do cemitério, onde estão presentes o caixão fechado, o livro de condolências e paramentos, familiares e convidados se dirigem para o jazigo ou túmulo, acompanhando o caixão até o local do enterro.

Cada pessoa ali presente recebe uma flor, que deve jogar sobre o caixão dentro do jazigo. É comum também que cada um receba uma pá com terra, que também joga sobre o caixão. As condolências são dadas então aos familiares, embora muitas vezes é pedido, nas notas de falecimento, que se poupe a família nesta hora de dor e que condolências não são desejadas.

Após o sepultamento, a família do falecido convida os presentes para o Leichenschmaus, ou seja, uma espécie de banquete fúnebre, onde parentes e amigos relembram a pessoa que morreu, até mesmo contando anedotas. Não há Missa de Sétimo Dia, ela é substituída por uma missa realizada seis semanas após o falecimento do familiar.

Novas formas de sepultamento

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Sepultamento: dispendioso conforme o jazigoFoto: Calbuquerque

O preço de um sepultamento na Alemanha pode variar entre 2200 e 13 mil euros. Um levantamento da Agência Alemã de Notícias apontou a cidade de Bielefeld como a mais cara da Renânia do Norte-Vestfália, onde um jazigo simples e as taxas do cemitério custam cerca de 3 mil euros, já o custo de um túmulo chega a 5 mil euros.

Jazigos e túmulos são alugados na Alemanha. O período de locação varia de cidade para cidade, geralmente de 20 a 40 anos. Em Colônia, por exemplo, o jazigo tem que ser comprado novamente após um período de 25 anos.

Devido ao alto custo de compra e manutenção dos túmulos, aumentam, cada vez mais, o número de incinerações, já que os jazigos para urnas são mais baratos (em torno de 300 a 400 euros). Outros tipos de sepultamento, como jogar as cinzas em torno de árvores ou sepultamentos anônimos, também tomam o lugar das cerimônias comuns. Entretanto, estas são soluções que preocupam os eclesiásticos.

Segundo um comunicado da Conferência dos Bispos Alemães, é importante que os vivos saibam onde seus mortos foram sepultados, para que se lembrem da própria mortalidade. "Os vivos celebram os mortos porque eles vivem e não para que eles vivam", afirma o comunicado.

Esta opinião também é partilhada pela Igreja Luterana, que observa as novas formas de sepultamento como resultado do envelhecimento solitário da população e do aumento do individualismo.

Como estava escrito em uma lápide do cemitério Melaten, em Colônia, de onde provêm as fotos deste artigo:

Só morre quem é esquecido.

E, por isto, celebro a minha morte com este mausoléu.