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Só o bê-á-bá não basta

Roselaine Wandscheer11 de fevereiro de 2004

Violência nas escolas volta a ocupar mídia alemã. Excesso de liberdade, falta de responsabilidade social ou de coragem civil? Culpa da televisão e da internet? Pais, polícia, educadores e psicólogos procuram soluções.

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Foto: Christoph&Friends

Após a divulgação do caso de um jovem de 17 anos maltratado durante vários meses nas dependências de uma escola profissionalizante pelos próprios colegas, sem que alguém da classe ou os professores tomassem providências, começaram a pipocar notícias semelhantes em vários cantos do país.

O caso de Hildesheim, ao sul de Hanôver, chocou pelos requintes de crueldade. Um grupo de rapazes de origem alemã, turca e russa espancou e filmou, durante vários meses, as torturas praticadas durante as pausas contra um colega de 17 anos. As imagens foram exibidas na internet.

Outros jovens da classe que sabiam do caso não abriram a boca. Os quatro principais acusados estão soltos, enquanto correm as investigações contra um professor que não teria intermediado, embora estivesse na sala ao lado. Também uma garota da escola teria sido vítima de assédio sexual na escola.

Em Coburg, norte da Baviera, um garoto de 13 anos foi hospitalizado, inconsciente, após ser brutalmente espancado numa parada de ônibus por dois colegas da escola que já o vinham maltratando há longo tempo. Chocante, também, a notícia de que um trio de 15 anos que maltratou um garoto um ano mais novo, em Erding, na Baviera. Os maus-tratos duraram pelo menos duas semanas e foram gravados em vídeo.

Incentivo à coragem civil − O fenômeno da violência nas escolas não é novo e preocupa cada vez mais. Muitos estabelecimentos já reagiram, como um ginásio de Colônia, no oeste alemão. Como a grande maioria das escolas alemãs, ele vem analisando os casos e implantando desde alguns anos medidas práticas para a contenção da violência. Um grupo de trabalho, formado por pais e professores, reúne-se mensalmente para discutir e procurar soluções para os problemas que aparecem na escola.

Kinder Schulweg
Foto: AP

A partir deste trabalho iniciado há alguns anos, foram introduzidas oficinas em que profissionais especializados treinam auto-afirmação, autodefesa e gerenciamento de conflitos com os quase mil alunos da 5ª à 13ª série. Como em todos os outros estabelecimentos, a observação da ordem e disciplina durante as pausas está a cargo de um professor (Aufsicht), nestas horas responsável pela segurança das crianças.

Também vem ajudando a presença esporádica na escola de policiais conhecidos no bairro. Diferentemente do Brasil, o policial na Alemanha transmite às crianças a imagem de amigo que ajuda. Eles inclusive batem uma bola ou jogam pingue-pongue com a garotada.

Assédio moral, rixas entre meninos e meninas e demonstrações de força masculina à parte − já velhos conhecidos dos professores −, o que preocupa são as formas como esta violência se manifesta e os níveis que ela atinge. Vira e mexe, no entanto, eles são confrontados com novas formas de manifestação do problema.

A escalada do conflito, muitas vezes, deve-se ao medo de dedurar alguém e ser o próximo a apanhar. O estímulo para que aprendam a exercer coragem civil e responsabilidade social neste caso é essencial.

Círculo vicioso da responsabilidade − Psicólogos defendem que os professores devem ser mais bem treinados para enfrentar as situações de conflito. Os mestres, por seu lado, criticam a derrocada de valores na sociedade e o desinteresse dos pais pelo que acontece com os filhos. "As crianças iniciam a primeira série sem noções básicas da boa educação", reclama uma professora primária. Fechando o círculo vicioso, os pais cobram maior engajamento dos professores.

Muitas vezes, os abusos e maus-tratos nem passam por um estágio inicial de xingamentos verbais, partindo direto para as torturas sugeridas na internet ou nos tantos programas "populares" exibidos pela televisão, conhecidos no Brasil, Japão ou Estados Unidos. Justiça seja feita, uma questão ainda não tão grave na Alemanha. Mas não são apenas os pais e a escola que devem procurar soluções.

Também as autoridades responsáveis pela educação têm aí uma grande responsabilidade, que não está sendo cumprida a contento. A falta de perspectivas entre os jovens, dificuldades na integração de estrangeiros e a falta de rigor na legislação sobre porte de armas no país das sociedades de atiradores são apenas algumas das grandes questões a ser resolvidas.