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PolíticaAfeganistão

Derrota dos EUA é "grande lição" para invasores, diz Talibã

31 de agosto de 2021

Extremistas declaram vitória e comemoram com tiros para o alto fim da retirada americana, mas garantem que visam boas relações com Washington e o resto do mundo.

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Porta-voz do Talibã Zabihullah Mujahid ao lado de outros talibãs
Porta-voz talibã Zabihullah Mujahid fala à imprensa na pista do aeroporto de Cabul: "Esta vitória pertence a todos nós"Foto: Wakil Kohsar/AFP/Getty Images

O Talibã comemorou a saída completa das tropas americanas nesta terça-feira (31/08), horas depois que o último avião dos EUA deixou o Afeganistão, mas também disse que deseja manter boas relações diplomáticas com os Estados Unidos e o resto do mundo.

A partida final dos americanos marcou o fim de 20 anos de intervenção. O conflito militar mais longo dos Estados Unidos chegou ao fim na noite de segunda-feira, quando as forças americanas abandonaram o aeroporto de Cabul.

Os combatentes do Talibã invadiram rapidamente o aeroporto e deram tiros para o alto em comemoração.

"Parabéns ao Afeganistão", festejou o porta-voz do Talibã Zabihullah Mujahid, em uma coletiva de imprensa realizada na pista do aeroporto de Cabul. "Esta vitória pertence a todos nós", acrescentou. "Queremos ter boas relações com os EUA e o mundo. Saudamos boas relações diplomáticas com todos eles", ressaltou.

"Grande lição para outros invasores"

Mujahid disse que a derrota americana no Afeganistão "é uma grande lição para outros invasores e para nossa geração futura" e "também uma lição para o mundo".

Mohammad Naeem, porta-voz do gabinete político do Talibã no Catar, expressou sentimento semelhante em um vídeo postado na internet. "Graças a Deus, todos os ocupantes deixaram nosso país completamente", disse.

O Talibã agora detém o controle total do aeroporto Hamid Karzai International. Seus veículos puderam ser vistos percorrendo nesta terça-feira a única pista no lado militar norte do campo de aviação. Pouco depois, os líderes talibãs fizeram uma caminhada de cunho simbólico pela pista.

"Momento de decisão e oportunidade"

Muitos afegãos temem viver sob o regime do Talibã, que governou o país de 1996 a 2001, período caracterizado pela marginalização de mulheres e meninas, abusos generalizados dos direitos humanos e um brutal sistema de justiça.

Zalmay Khalilzad, o enviado especial dos EUA para a Reconciliação do Afeganistão, disse que os afegãos enfrentaram "um momento de decisão e oportunidade" após a retirada das forças ocidentais. "O futuro de seu país está nas mãos deles. Eles escolherão seu caminho com total soberania", afirmou através do Twitter. "Esta também é a chance de encerrar a guerra deles."

O aeroporto de Cabul teve dias de caos e mortes depois que o Talibã assumiu o controle da capital, incluindo o palácio presidencial, em 15 de agosto.

Milhares de afegãos correram para o aeroporto na esperança de sair do país. Alguns deles morreram depois de se agarrarem desesperadamente à lateral de um jato de carga dos EUA enquanto a aeronave decolava.

Antes do prazo

A retirada americana ocorreu pouco antes do prazo final – 31 de agosto – estabelecido pelo presidente Joe Biden para encerrar a guerra que tirou a vida de mais de dezenas de milhares de afegãos e mais de 2.400 militares americanos.

O fim da retirada se seguiu a uma ameaça da ramificação regional do grupo terrorista "Estado Islâmico", rival do Talibã, de realizar novos ataques contra as forças americanas no aeroporto. Nesta segunda, o sistema antimísseis dos EUA interceptou cinco foguetes disparados contra o local.

Treze soldados americanos estavam entre as mais de 100 pessoas mortas no final da semana passada por um ataque suicida do EI nos arredores do aeroporto, onde afegãos desesperados se aglomeraram na esperança de embarcar em um voo para sair do país.

Todos os olhares se voltam agora para a forma como o Talibã vai lidar com seus primeiros dias com autoridade exclusiva sobre o país, com um foco nítido sobre se ele permitirá a partida livre daqueles que desejam partir – incluindo alguns estrangeiros.

Milhares querem sair

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que um pequeno número de cidadãos americanos permanece no país – "menos de 200" –, mas provavelmente perto de apenas 100. Muitos milhares de afegãos que trabalharam com o governo apoiado pelos EUA ao longo dos anos e temem retaliação também querem sair.

Aliados ocidentais expressaram tristeza nos últimos dias porque nem todos os afegãos que queriam fugir puderam embarcar nos voos de evacuação.

O Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução na segunda-feira, exigindo que o Talibã honre o compromisso de permitir que as pessoas deixem o Afeganistão livremente nos próximos dias e que conceda acesso à ONU e a outras agências de ajuda. Negociações estão em andamento para determinar quem administrará o aeroporto de Cabul.

O Talibã pediu à Turquia que cuide da logística enquanto mantém o controle da segurança, mas o presidente Recep Tayyip Erdogan ainda não aceitou a oferta. Não está claro quais companhias aéreas concordariam em voar para dentro e para fora de Cabul.

md/lf (APF, AP)