Talibã toma capital provincial Kunduz no Afeganistão
8 de agosto de 2021Forças talibãs tomaram neste domingo (08/08) as cidades de Kunduz e Sar-e-Pul, no norte do Afeganistão, aumentando, assim, para quatro o número sedes regionais conquistadas em três dias. Trata-se das primeiras vitórias dos fundamentalistas islâmicos desde o início da retirada das tropas de paz internacionais.
Após dias de fortes combates, Kunduz e Sar-e-Pul, sedes das províncias homônimas, estão agora em poder do Talibã. As Forças Armadas nacionais só ocupam espaços limitados, como um aeroporto e uma base militar, informaram fontes militares e representantes das duas regiões.
"Toda Kunduz caiu em mãos dos talibãs, só aeroporto provincial está sob controle das forças de segurança", relatou a deputada Nelofar Koofi, que representa a província de Kunduz na câmara baixa do parlamento afegão. Falando à agência de notícias AFP, Amruddin Wali, do Conselho Provincial de Kunduz, contou que os rebeldes tomaram a capital em "feroz combate de rua".
Kunduz já estivera em poder do Talibã por um breve período em 2016, sendo logo liberada. Este atual avanço rápido no país integra uma campanha agressiva para aproveitar o vácuo de poder deixado pela retirada das tropas estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos no país.
Vácuo de poder perigoso
No Twitter, os militantes islamistas alegaram ter se apoderado de um grande número de veículos blindados, armas e outros equipamentos militares. Por sua vez, o Ministério da Defesa de Cabul declarou que as tropas governamentais estão lutando para recuperar essas duas cidades estratégicas.
"As forças de comando lançaram uma operação de expulsão. Algumas áreas, inclusive a rádio nacional e prédios da TV, foram liberadas dos terroristas talibãs", consta do comunicado oficial.
No sábado, os talibãs tomaram Sheberghan, capital da província de Jowzjan, também no norte do país, reduto do notório senhor de guerra Abdul Rashid Dostum. Menos de 24 horas antes, sua primeira conquista na nova fase da guerra civil fora Zaranj, um importante centro de comércio, próximo à fronteira com o Irã.
Após capturar os distritos circundantes, os talibãs perseguiram um plano sustentado para tomar a cidade. "Isto é o princípio, e veremos como outras províncias cairão nas nossas mãos, muito em breve", declarou um comandante talibã. Outras capitais provinciais sitiadas incluem Herat, no oeste, e Lashkar Gah, na província meridional de Helmand.
Londres chama seus cidadãos
Na mais recente de uma série de operações com o fim de debilitar o governo democraticamente eleito de Ashraf Ghani, na sexta-feira os talibãs assassinaram o diretor do centro nacional de mídia e informação do Afeganistão, Dawa Khan Menapal.
O atentado ocorreu numa mesquita da capital afegã, Cabul, durante as solenes preces de sexta-feira. Como anunciaram os terroristas num comunicado, tratou-se de um "ato direcionado" para punir o porta-voz-chefe "por seus atos".
Considerando o "agravamento da situação de segurança", à medida que os combates com o Talibã se intensificam no Afeganistão, o Reino Unido apela a todos os seus cidadãos para deixarem imediatamente o país.
"Todos os britânicos no Afeganistão são aconselhados a partir agora por via comercial", instou o Ministério do Exterior: "É muito provável que os terroristas tentem realizar ataques no Afeganistão. Os métodos específicos de ataque estão evoluindo, e sua sofisticação aumenta", explicou em seu website.
ONU adverte
O Talibã faz sua grande ofensiva de ocupação coincidir com a partida das tropas estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos, após duas décadas de "missão de paz".
Após lançar uma ofensiva de grande envergadura em maio, os rebeldes continuam a avançar rapidamente, à medida que as unidades internacionais se retiram: já tendo tomado vastas parcelas de território rural, agora visam cidades estratégicas.
A enviada especial das Nações Unidas para o Afeganistão, Deborah Lyons, comentou neste sábado que a guerra no Afeganistão entrou numa fase "nova, mais mortífera e mais destrutiva", com mais de mil civis mortos só em julho.
Advertindo que o país se encaminha para uma catástrofe, Lyons apelou ao Conselho de Segurança da ONU para emitir uma "declaração inequívoca de que os ataques a cidades têm que parar agora".
av (Lusa,AFP,Reuters,AP)