Taxa de cesarianas no mundo quase dobra em apenas 15 anos
12 de outubro de 2018A taxa de cesarianas realizadas no mundo quase dobrou entre 2000 e 2015, passando de 12% para 21% dos partos, revelou um estudo publicado nesta sexta-feira (12/10). O Brasil e a China estão entre os países com os maiores índices deste tipo de procedimento no mundo.
Publicada na revista especializada The Lancet, a pesquisa indicou que, segundo os dados mais recentes, em 2015 cerca de 29,7 milhões de cesarianas foram realizadas no mundo, o correspondente a 21% de todos os partos.
O estudo afirmou ainda que 60% dos países usam a cesariana em excesso, enquanto em 25% o método é subtilizado, ou seja, recomendações para casos médicos têm sido amplamente ignoradas. Dos 6,2 milhões deste procedimento realizados sem necessidade no mundo, metade deles é feito no Brasil e na China.
Especialistas estimam que a cesariana é necessária em apenas entre 10% e 15% dos partos devido a complicações como hemorragia, sofrimento fetal, hipertensão e posição do bebê.
Em pelo menos 15 países do mundo, mais de 40% de todos os bebês nascem por cesariana. No Brasil, Egito e Turquia, esse procedimento é aplicado em mais da metade dos partos.
"O grande aumento no uso da cesariana, principalmente em ambientes ricos para fins não médicos, é preocupante devido aos riscos associados para mulheres e crianças”, afirma a coautora do Marleen Temmerman, das universidades de Aga Khan, no Quênia, e Gante, na Bélgica.
Embora possa salvar vidas de mães e bebês, o procedimento pode também ter complicações e efeitos colaterais, incluindo riscos em futuros nascimentos. Além disso, as taxas de morte materna e invalidez são maiores em partos realizados por cesariana.
A pesquisa acompanhou as tendências do uso global de cesarianas em nove regiões com base em dados de 169 países da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Unicef. Anualmente, o uso deste procedimento tem aumentado 3,7%.
A cesariana é amplamente usada na América do Norte, Europa Ocidental, América Latina e Caribe. Ao analisar a China e o Brasil, os pesquisadores descobriram que o procedimento em gestações de baixo risco era mais utilizado por mulheres com maiores índices de escolaridade e que já tinham se submetido a uma cesariana.
Entre os motivos mais comuns pelos quais as mulheres optam por cesarianas estão experiências negativas no parto normal, medo de dor ou de efeitos do trabalho de parto, como incontinência e redução da função sexual.
De acordo com a coautora do estudo, Jane Sandall, do King's College de Londres, o aumento no número de cesarianas também é explicado pela "falta de parteiras para prevenir e detectar problemas, a perda de habilidades médicas para realizar com confiança e competência um parto natural e questões médico-legais”.
Muitos médicos costumam marcar esse procedimento para facilitar o fluxo de pacientes em maternidades e por estar menos vulneráveis a processos judiciais.
Segundo a pesquisa, as cesarianas, no entanto, têm uma recuperação mais complicada para a mulher e podem causar cicatrizes no útero, que são associadas a sangramentos, desenvolvimento anormal da placenta, gravidez ectópica e parto prematuro em gestações subsequentes.
"A cesariana é um tipo de cirurgia de grande porte, que acarreta riscos que exigem uma consideração cautelosa", acrescentou Sandall.
CN/rtr/afp/ots
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