O consumidor sob a lupa
18 de julho de 2007Imagine a seguinte situação: uma propaganda de perfume é exibida no saguão de partida de um aeroporto, onde milhares de passantes a vêem, dia após dia. Alguns param e admiram. Outros passam divertidos, outros parecem atônitos.
Em condições normais, os publicitários apenas podem imaginar a reação do público a uma nova campanha. Porém cientistas do Instituto Fraunhofer de Circuitos Integrados (IIS), situado em Erlangen, sul da Alemanha, estão desenvolvendo uma tecnologia que torna imediatamente acessíveis dados desse tipo.
Uma minicâmara de vídeo registra cada observador da propaganda e sua expressão facial. Algoritmos complexos detectam os rostos na imagem, distinguem entre homens e mulheres, contam o número de pessoas que viram o anúncio e analisam se estas parecem alegres, surpresas, tristes ou zangadas. E tudo isso acontece em tempo real.
Potencial revolucionário
A versão final desse software pode revolucionar a forma como se faz publicidade, acredita Ross Anderson, da Foundation for Information Policy Research, um importante think tank para monitoração das novas tecnologias, baseado no Reino Unido.
No lugar de um lento processo baseado em grupos de interesse, os publicitários poderão ver logo a reação a suas campanhas e mudar rapidamente de tática.
O IIS concluiu um protótipo básico, capaz de distinguir entre "feliz" e "infeliz", porém continua trabalhando na sintonia fina de outras emoções. A taxa de sucesso na diferenciação dos sexos já é de 90%, revela Christian Küblbeck, diretor do projeto.
Questão delicada
Por outro lado, Anderson reconhece que o sistema apresenta problemas de política de privacidade. "Há uma enorme compulsão, hoje em dia, de identificar todo o mundo, em todo o lugar", comenta.
Em muitos lugares já é comum a videovigilância de lojas, por motivos de segurança. Na Alemanha, estações ferroviárias e aeroportos são sistematicamente filmados para o combate ao terrorismo, enquanto em diversas metrópoles inglesas as câmeras de rua já fazem parte da paisagem urbana.
Melissa Ngo, do Electronic Privacy Information Center de Washington D.C., chama a atenção para os aspectos de direito de privacidade, especialmente delicados quando as pessoas estão sendo observadas para fins comerciais.
Da filmagem à estatística
"Com esse tipo de tecnologia, sempre haverá questões significativas. As pessoas também devem ter o direito de dizer 'não'", insiste Ngo.
Assim, sempre que haja videovigilância, os implicados têm que ser informados e entender para que fins a informação será utilizada, quem terá acesso a ela e por quanto tempo ela será armazenada.
No caso da tecnologia do Instituto Fraunhofer, o aplicativo não identifica indivíduos, guardando a informação para uso ulterior. Em vez disso, ele a compila, revertendo-a em estatísticas, assegura Küblbeck. "Não armazenamos padrões nem tentamos reidentificar a pessoa."