"Tenho uma relação emocional com o Brasil"
"Minha relação com o Brasil não começou por impulso meu – foram meus pais que decidiram mudar para Brasília em 1985. Meu pai trabalhou na embaixada alemã na capital federal como adido de agricultura e florestas. Honestamente, não me lembro porque meus pais ficaram tão interessados em mudar para um país quente como o Brasil – eles, que sempre tiraram férias com meus dois irmãos mais novos e comigo na Escandinávia.
Eu tinha 19 anos e acabado de encerrar o ensino fundamental, tinha começado meus estudos de Biologia na universidade em Bonn e não acompanhei meus pais. Mas visitava minha família em Brasília – meu irmão e minha irmã foram junto com meus pais – nas férias da faculdade. E também comecei a pensar em como poderia conciliar os estudos com o Brasil.
Assim, no início de 1990, consegui fazer o meu trabalho de conclusão de curso da universidade alemã em parceria com a Universidade de Brasília. Eu fazia parte de um instituto de sistemática e estudava, entre outras coisas, fenômenos que levam a uma maior biodiversidade. Me concentrei numa família de plantas e cartografei as ocorrências no Distrito Federal. Minhas estadias no Brasil, nessa época, não foram tão longas – por duas ou três vezes, passei um mês no país para fazer a pesquisa de campo.
Foi diferente durante o doutorado. Meus pais já tinham voltado a morar na Alemanha e eu fiz pesquisas de campo mais extensas, durante um ano e meio, entre 1994 e 1995.
Sem dúvida, essas experiências com o Brasil mudaram a minha vida. Foi uma mudança de fato emocional, tanto para mim quanto para os meus pais, que, mesmo depois de voltar para a Alemanha, mantinham muito o contato com as pessoas no país. Meu irmão acabou se casando com uma brasileira – atualmente, eles moram em Washington, nos EUA, e minha cunhada diz estar desiludida tanto com a situação da segurança quanto com a política brasileira. Eu acho que a situação atual do Brasil é bastante complexa.
Ainda domino o português e tento me manter informada sobre o Brasil. No trabalho, sou chefe do grupo América aqui do DLR (sigla em alemão para Centro Aeroespacial Alemão) há quase dez anos – mesmo tendo passado bastante tempo fora do âmbito ligado ao Brasil, já que não existiam postos que tinham relação com o país quando entrei aqui e, por isso, fui designada para trabalhar com a Europa Oriental por um longo período. Hoje em dia, quase sempre os assuntos dos quais trato tem relação com o Brasil, mas não é um contato diário.
Também quero que meus dois filhos, de 15 e 17 anos, estabeleçam uma relação com a América Latina – talvez eles se voltem mais para o Chile, porque minha irmã se mudou para lá e eles já conhecem o país.
Tenho uma ligação muito especial com o Brasil. Acho que trouxe uma postura de tranquilidade de lá: quando enfrento situações difíceis ou que não dão certo num primeiro momento, encaro com o bordão 'vai funcionar de algum jeito'. A música também é muito importante para mim. E gosto da forma mais solta, mais leve de lidar com a vida dos brasileiros. Percebi muito essa leveza quando voltei para a Alemanha.
Também acho que aprendi a valorizar o que temos aqui Europa. Eu sofri um acidente de trânsito em Brasília na época da faculdade e, por não dominar muito bem o português, fiquei bem insegura. Acabei tendo que pagar por danos no automóvel do homem que, na verdade, causou o acidente: um engavetamento no qual meu carro ficou preso no meio. Foi uma experiência negativa, já que eu não tinha certeza de que teria o apoio das autoridades quando fui à polícia.
Na série Como o Brasil mudou minha vida, a DW conta a história de alemães que viveram no país.