Tensão em Israel piora com destruição de edifício e foguetes
12 de maio de 2021O conflito entre Israel e o grupo militante palestino Hamas agravou-se nesta terça-feira, com os disparos de mais de cem mísseis contra Israel e novos ataques aéreos israelenses na Faixa de Gaza, que já deixaram dezenas de mortos e feridos.
Os ataques de ambos os lados se repetiram praticamente sem intervalos ao longo do dia, no que parece ser um dos confrontos mais intensos entre Israel e o Hamas desde a guerra de 2014. A intensidade do disparo de mísseis a partir de Gaza foi tão forte que o sistema de defesa antiaéreo de Israel pode ter ficado sobrecarregado, e colunas de fumaça foram vistas em diversos locais de Gaza.
O Hamas disse ter disparado 130 foguetes no ataque mais recente desta terça, em resposta à destruição horas antes, por Israel, de um edifício de 13 andares em Gaza que, segundo os israelenses, continha escritórios de autoridades do Hamas. As Forças Armadas israelenses disseram ter dado uma hora para os ocupantes do edifício o abandonarem antes do ataque aéreo, e não está claro se houve vítimas.
Vítimas dos ataques
Desde segunda, mais de 250 foguetes foram disparados em direção a Israel, mas cerca de um terço deles caiu ainda em Gaza, segundo o Exército israelense. Enquanto os foguetes cruzavam os céus, era possível ouvir em mesquitas as pessoas cantando "Deus é grande", "vitória ao Islã" e "resistência".
Sirenes de alerta foram disparadas em Tel Aviv, e o aeroporto internacional foi fechado temporariamente. Um dos foguetes atingiu um ônibus na cidade de Holon, ao sul de Tel Aviv, e três pessoas, incluindo uma menina de cinco anos, ficaram feridas. Seis israelenses também foram feridos quando um foguete atingiu um edifício de apartamentos.
Três mulheres morreram em Israel atingidas por foguetes desde segunda – uma delas era de nacionalidade indiana e trabalhava como cuidadora no país. No mesmo período, 28 palestinos, incluindo dez crianças e uma mulher, foram mortos em Gaza, a maioria por ataques aéreos, segundo autoridades locais. As Forças Armadas israelenses afirmam que pelo menos 16 deles eram militantes.
Escalada do conflito
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, alertou que o confronto ainda seguirá por algum tempo. Em discurso transmitido pela televisão na noite desta terça, ele disse que o Hamas e o grupo extremista palestino Jihad Islâmica "pagaram, e irão pagar, um alto preço". "Essa mobilização levará tempo, com determinação, unidade e força", afirmou.
As Forças Armadas do país enviaram reforços à fronteira com Gaza, e o ministro da Defesa, Benny Gantz, determinou a mobilização de 5 mil soldados da reserva. Ele também afirmou que Israel tem "muitos alvos na fila" que poderiam ser atingidos em Gaza. "Isso é apenas o começo", disse.
O líder do Hamas Ismail Haniyeh afirmou que "se Israel quiser escalar, estamos prontos para isso", e que os militantes de seu grupo "defenderam Jerusalém".
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, criticou as ações de Israel e convocou os palestinos a se rebelarem. "Os sionistas não entendem nada além da linguagem da força, então os palestinos precisam fortalecer seu poder e sua resistência para forçar os criminosos a se renderem e pararem com seus atos brutais", disse Khamenei em um discurso transmitido pela TV estatal iraniana.
O embaixador de Israel na Alemanha, Jeremy Issacharoff, afirmou à DW que seu país está trabalhando para reduzir as tensões e culpou o Hamas pela violência recente.
"Estamos conversando com os níveis mais altos de governos no mundo, e tenho conversado com meus equivalentes na Alemanha para pedir aos palestinos, jordanianos, essas opções para que façam todo o possível para distensionar o conflito e retomar a calma e a tranquilidade", afirmou.
"Não vemos os mesmos passos sendo dados pelo Hamas ou pela Autoridade Palestina para desarmar a situação", disse. Issacharoff afirmou também que o Hamas "está claramente direcionado à provocação" e que Israel está tentando limitar os danos em seus ataques aéreos na Faixa de Gaza.
Reação internacional
O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta quarta para discutir o conflito. Tor Wennesland, coordenador especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, fez apelos por um cessar fogo imediato, mas disse no Twitter que a situação "está se desenvolvendo para uma guerra completa".
O ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Maas, defendeu a resposta de Israel aos foguetes disparados de Gaza. "O disparo de foguetes na direção de Israel é inaceitável e precisa parar", escreveu Maas no Twitter. "Israel tem o direito de se defender nessa situação. A escalada de violência não pode ser tolerável nem aceitável."
A Casa Branca também condenou o disparo de foguetes e disse que Israel tem o direito de se defender.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos se declarou profundamente preocupado com o aumento da violência entre Israel e grupos militantes palestinos. "Condenamos toda a violência e toda a incitação à violência, assim como as divisões étnicas e as provocações", disse um porta-voz.
O alto representante da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que ataques contra civis são inaceitáveis. "Estamos profundamente preocupados com os recentes confrontos e com a violência", disse Borrell, pedindo para que tudo seja feito para evitar o aumento das tensões. "A prioridade deve ser evitar mais vítimas civis", afirmou.
A França alertou para os riscos de uma grande escalada da tensão no Oriente Médio e pediu contenção aos dois lados para "permitir um regresso à calma o mais rapidamente possível", declarou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Disputa em Jerusalém
Os ataques desta terça foram precedidos de episódios de violência em Jerusalém Oriental, o setor palestino da cidade ocupado e anexado por Israel, iniciados na sexta-feira , quando 208 palestinos e seis policiais israelenses ficaram feridos, a maioria na Esplanada das Mesquitas, onde muçulmanos se reuniam para a última sexta do mês de jejum do Ramadã.
Colaborou para o conflito a ameaça de despejo de quatro famílias palestinas do bairro Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, em favor de colonos judeus. A ONU urgiu Israel a suspender os despejos e disse que eles poderiam equivaler a "crimes de guerra".
Na segunda-feira, cerca de 520 palestinos e 32 policiais israelenses ficaram feridos em novos confrontos com a polícia na Esplanada das Mesquitas, nos arredores da Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do islã e o local mais sagrado do judaísmo, além de em outros locais em Jerusalém Oriental.
O Hamas havia ameaçado Israel com uma nova escalada militar se as forças israelenses não se retirassem da esplanada.
Israel considera Jerusalém sua capital, incluindo a parte leste, cuja anexação não recebeu reconhecimento internacional. Os palestinos reivindicam essa parte da cidade como capital do Estado que buscam criar na Cisjordânia e em Gaza.
O início dos confrontos coincidiu com o Dia de Jerusalém, que marca a conquista, de acordo com o calendário hebraico, da parte palestina da Cidade Santa por Israel, em 1967.
bl (AP, AFP, DW)