Tesouros no porão
3 de maio de 2003Qualquer museu sempre possui em seu acervo muito mais do que pode expor. As reservas técnicas estão repletas nos museus de Frankfurt. E nem tudo se presta a ser exibido, por várias razões: ou porque a peça é demasiado grande, não é suficientemente espetacular, ou é muito sensível à luz.
Manter todos esses tesouros devidamente acondicionados e pagar os funcionários encarregados da sua conservação pesa no orçamento dos museus, às voltas, nos últimos anos, com a diminuição de verbas e subsídios do Estado. "Para encher seus cofres, eles bem poderiam vender peças dispensáveis ou duplas", opina o ex-secretário de Cultura da cidade e ex-presidente do Instituto Goethe, Hilmar Hoffmann.
Mil pratos de porcelana e as vacas magras
Nem todos concordam com a proposta: "É claro que nós iríamos cansar o visitante se expuséssemos, por exemplo, todos os nossos mil pratos de porcelana chinesa", diz a vice-diretora do Museu de Arte Aplicada, Margret Bauer. No entanto, ela considera importantes objetos de estudo todos os 40 mil móveis, moedas, peças valiosas por seu design e tudo o mais que se encontra no acervo. "Além do mais, aspectos a que antes nunca se deu atenção, de repente podem se tornar interessantes", argumenta.
Mas em épocas de vacas magras, ter reservas técnicas repletas também representa um capital para os museus, que só raramente têm condições de realizar novas aquisições. "Os museus voltam a se concentrar no trabalho com o que têm em seus depósitos e que constitui a memória cultural", observa o diretor do Museu de Arte Moderna, Udo Kittelmann.
Como muitos de seus colegas, ele passou a exibir com mais freqüência obras das próprias coleções. Outro recurso em tempos de crise é dar maior ênfase ao empréstimo de objetos museais: "Nós cooperamos com outros museus em várias partes do mundo", relata o vice-diretor do Museu Alemão do Filme, Hans-Peter Reichmann.
Torres, colheres e o vestido de Claudia Cardinale
O acervo do Museu Alemão de Arquitetura inclui 200 mil plantas e 600 maquetes de arquitetura internacional do século XX até o presente, entre estes 32 espólios completos. As maquetes são guardadas em grandes armários negros, que abrigam, entre outras preciosidades, a "Torre de Einstein", de Erich Mendelsohn e que foi construída em Potsdam, o "Restaurante Japonês de Peixe", de Frank O. Gehry, e algo que não poderia faltar na própria cidade em que foi construído: a maquete do jardim da infância projetado por Hundertwasser.
Somente trezentos objetos de arte, dos 65 mil que constam do acervo, podem ser exibidos no Museu das Culturas do Mundo. "Para poder representar realmente uma cultura, temos que colecionar de tudo, desde colheres até peças esculpidas", expõe Eva Raabe, que dirige um dos departamentos. No Städel, um dos museus mais conhecidos da Alemanha por suas coleções de arte, só há espaço para se expor 600 quadros.
Por isso, não há chance de que os visitantes vejam um dia um quadro redondo, com 2,5 metros de diâmetro, de Moritz von Schwind. Juntamente com o restante do acervo, no total de 2700 quadros, 600 esculturas e cerca de 100 mil desenhos e litogravuras, ele está acondicionado no porão do museu.
História do cinema guardada a -10º C
Nos arquivos do Museu Alemão do Filme, a norma é uma temperatura de dez graus abaixo de zero, para melhor conservação do material. Seu acervo também é imenso, incluindo 800 mil fotografias, 10 mil cópias de filmes e 22 mil cartazes. Para a instituição, tudo o que está relacionado ao filme tem interesse, segundo o vice-diretor Reichmann, inclusive os desenhos e plantas para a construção dos cenários e os figurinos.
A história do cinema ali também é documentada por duas mil câmaras e ilhas de edição, além de 5 mil roteiros e 1500 discos de acetato. Também as cartas de amor de Romy Schneider a Curd Jürgens estão guardadas, pois ainda não podem ser exibidas. Sejam os prêmios concedidos a algum filme, roteiros de Wim Wenders ou trajes usados por Claudia Cardinale, os porões dos museus alemães abrigam muitas curiosidades e tesouros.