Testemunha narra momentos de desespero e confusão
22 de março de 2016A portuguesa Mariza Sobral mora em Bruxelas há 11 anos. Nesta terça-feira (22/03), ela estava no aeroporto internacional Zaventem quando ocorreram os ataques com explosivos. Mariza relatou por e-mail o que vivenciou para a DW Brasil.
"Eu estava indo para Lisboa com minhas três filhas, uma de 4, uma de 6 e uma de 16 anos. Nosso voo era 8h15, então 6h30 já estávamos no aeroporto. Tava tudo muito calmo, muito bem. Às 7h45, já tínhamos feito o check-in. O aeroporto de Bruxelas é muito grande, tem que andar bastante. Quando chegou a hora de fazer a fila para o voo, nós sentamos no chão porque estávamos muito cansadas. Uma das minhas filhas quis ir ao banheiro, porque a porta para entrar no avião só abria às 8h, mesma hora que explodiu a primeira bomba. Fui ao banheiro com ela e, quando saíamos do banheiro, senti o chão estremecer. Um som muito alto. Corri para encontrar minhas outras filhas e falei: 'Gente, aconteceu alguma coisa, porque o som foi muito alto'. Todo mundo ficou muito assustado. Mas eles nos mandaram embarcar mesmo assim.
Quando entramos no avião, ouvimos outra explosão. Eu estava tão desesperada que pensei mesmo que pudesse ser um atentado terrorista, já que prenderam aqui o suspeito pelos ataques de Paris. Achei que fosse vingança por terem prendido o cara. Ficamos dentro do avião até 9h30. Quando vimos que o avião não ia decolar, por volta das 8h35, alguém perguntou para a aeromoça: 'Vamos ou não vamos decolar?'. A aeromoça respondeu que havia um problema no aeroporto, e que eles estavam aguardando autorização do aeroporto para decolar. O tempo foi passando, daí eu resolvi ligar meu celular para avisar meu marido e minha mãe que o voo estava atrasado. Quando ativei a internet, já veio a notícia de que duas explosões haviam ocorrido no aeroporto de Bruxelas. 'Então é isso, foi esse barulho que ouvimos', falei para minha filha.
Quando deu 9h, eles mandaram a gente sair do avião. Foi aí que bateu o desespero. A polícia pedindo para andarmos rápido… Porque eles tinham medo de o avião também ter algum problema, como bomba. Nós fomos levados para uma sala que já estava cheia de gente. Estava horrível, eu estava com criança pequena. Um sufoco. Você fica com medo, não sabe quantas bombas têm dentro do aeroporto. Eles foram nos transferindo de uma sala para outra, e depois para um grande pavilhão, que parecia uma oficina de avião. Eles estenderam um carpete no chão para as crianças sentarem. Todo mundo cansado. Eles então nos ofereceram comida, mas foi uma confusão porque estava todo mundo com fome. Ninguém respeitava as crianças. A fila para pegar comida era enorme, e para ir ao banheiro também. Todo mundo sentado no chão, porque não tinha mais onde sentar, e estava muito frio.
Nós ficamos lá mais umas duas horas, só escutando a polícia e as ambulâncias passando. Acompanhando as notícias, que só pioravam. Quando já eram quase 14h, eles vieram dar um comunicado de que acharam uma outra bomba no aeroporto, mas estava longe de onde estávamos, então não precisaríamos evacuar. Pediram para que não ficássemos assustados, porque a polícia estava controlando a terceira bomba. Eles disseram que não tinham como desativar a bomba, porque a bomba foi ativada à distância, então eles teriam que esperar a bomba explodir. O povo ficou ainda mais apavorado. Peguei as meninas, as coloquei perto de mim, e ficamos esperando a bomba explodir. E foi uma explosão muito alta. O cheiro de pólvora era muito forte, e as pessoas ficaram muito assustadas.
Mais tarde, eles passaram a chamar as pessoas que moram em Bruxelas para oferecer transporte até a cidade, já que o aeroporto fica numa cidade vizinha. No ônibus para sair do pavilhão, você ia escoltado por quatro motos da polícia, e um carro na frente e um atrás do ônibus. Percorremos todo o perímetro do aeroporto e vimos as coisas caídas, os vidros quebrados, tudo destruído. Passamos por uma rotatória lotada de jornalistas, e muita polícia. Eles nos levaram até um local distante do aeroporto, para que táxis ou familiares levassem as pessoas para casa. Até então, ninguém podia sair do aeroporto. Ninguém entrava e ninguém saía. Só polícia que circulava. Não foi fácil. A polícia e os seguranças proibiram todos de tirar fotos ou fazer vídeos. Quando eles viam alguém fazer isso, eles mandavam parar. Era muito desespero.
Agora eu estou em casa. Me segurei para não chorar, por causa das meninas, mas eu estou muito agradecida pela oportunidade de viver. Porque eu tinha acabado de passar pelo lugar onde as explosões ocorreram. Eu imagino o sofrimento das pessoas no metrô e no aeroporto."