"Todos os líderes deveriam ir à COP26", diz enviado europeu
27 de outubro de 2021O vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, responsável pelas questões ambientais no Executivo do bloco europeu, afirmou em entrevista à DW que gostaria de ver todos os líderes comprometidos – e presentes – na próxima Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas, a COP26, a ser realizada em Glasgow, na Escócia, a partir de 31 de outubro.
O presidente Jair Bolsonaro, assim como os líderes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, está entre os que deverão enviar representantes à cúpula da ONU, em vez de comparecer pessoalmente. O Brasil levará a segunda maior delegação para o evento em Glasgow, mas a presença de Bolsonaro ainda não foi confirmada.
Críticos temem que os demais líderes presentes na conferência não consigam fazer um acordo significativo para o planeta sem a participação desses faltantes.
"Seria melhor ter todos presentes", afirmou Timmermans à DW em Bruxelas. "Mas mais importante do que a presença dos líderes, é o compromisso com o enfrentamento da crise climática, o compromisso com a redução de suas emissões. E todos esses líderes fizeram declarações relativamente ousadas nos últimos meses. Então veremos o que acontece."
O comissário europeu, que atuará como negociador-chefe da União Europeia (UE) na COP26, alertou que o mundo precisa fazer mais e ser mais ambicioso nas metas climáticas, a fim de conter o aquecimento do planeta.
Um relatório das Nações Unidas publicado na terça-feira (26/10) afirmou que as atuais promessas dos países para reduzir as emissões de gases de efeito estufa não são suficientes para evitar uma mudança climática catastrófica e o "sofrimento sem fim" que ela causará.
Sem ações urgentes, as temperaturas globais poderão aumentar, até o fim deste século, 2,7 ºC em relação à era pré-industrial – quase o dobro da meta de 1,5 ºC estabelecida no Acordo de Paris em 2015 –, alertou o relatório da ONU.
"Não somos ambiciosos o suficiente", disse Timmermans à DW. "Na COP26 precisamos tentar encontrar um consenso que nos levará a uma situação em que fiquemos abaixo dos 2 ºC [de aumento]. Precisamos fazer mais. Precisamos ser mais ambiciosos."
Planos climáticos da China
A China e suas políticas climáticas estão entre as principais preocupações na COP26. Timmermans deverá se reunir nesta quarta-feira em Londres com o enviado especial sobre mudanças climáticas do país, que é o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.
"Espero obter mais clareza sobre os planos da China", disse ele, num momento em que as atuais metas climáticas da nação asiática são tachadas também de pouco ambiciosas.
"Espero que possamos trocar informações sobre os três principais temas da discussão – que são a ambição de reduzir as emissões, o financiamento do clima e tudo o que diz respeito às regras do jogo", declarou. "Portanto espero que possamos esclarecer a situação da China – certamente esclarecerei a situação da UE e, com sorte, juntos poderemos criar a base para um resultado bem-sucedido na COP."
Financiamento climático aos mais pobres
Timmermans também se mostrou decepcionado com planos divulgados na terça-feira pelo governo do Reino Unido, que organiza esta cúpula do clima, sobre uma ajuda financeira anual para que países mais pobres possam travar sua batalha contra o aquecimento global.
Os planos britânicos sugerem que a promessa dos países desenvolvidos de entregar 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático para as nações mais pobres não será cumprida antes de 2023. O objetivo inicial era fazê-lo já em 2020.
"Eu gostaria de ver isso acontecer mais cedo", declarou Timmermans. "Mas chegaremos lá."
Pressionado sobre se a Europa decepcionou os países em desenvolvimento, ele se defendeu. "Não acho que a UE falhou", afirmou. "A UE é um dos maiores contribuidores do financiamento, mesmo além da porcentagem que temos na economia mundial. Portanto, a UE é aliada do mundo em desenvolvimento."
Mas Timmermans fez uma advertência resoluta: "Tenho que ser muito, muito claro: se não formos capazes de fornecer esse financiamento, não podemos – com toda a sinceridade – pedir aos países em desenvolvimento que façam mais."
"Eles precisam ser capazes de se adaptar e mitigar suas emissões, mas especialmente se adaptar a essas novas condições, e não podem pagar por tudo isso sozinhos. Então, realmente precisamos de 100 bilhões de dólares para garantir que ajudemos o mundo em desenvolvimento a fazer o que for necessário para sua população", concluiu o comissário.