Torcida portuguesa vai da esperança à frustração em Brasília
26 de junho de 2014Era preciso quase um milagre para que os portugueses permanecessem na Copa: teriam que vencer Gana com uma diferença de dois gols e torcer para que a Alemanha batesse os Estados Unidos também por dois gols. Ainda assim, os torcedores mantiveram-se esperançosos e compareceram ao estádio Mané Garrinha, em Brasília, para tentar empurrar a seleção do ídolo Cristiano Ronaldo.
“Se Portugal se classificar hoje, eu derrubo um pilar desse estádio de felicidade”, prometeu o português André Palmela, de 24 anos. “Vou beber toda a cerveja do hotel e dos bares próximos para comemorar."
Juntamente com um grupo de 200 torcedores, batizado de “Recheio”, Palmela deixou a cidade portuguesa de Setúbal no início de junho para acompanhar o time comandado pelo técnico Paulo Bento. Brasília foi a terceira escala dos torcedores, que também assistiram aos jogos em Salvador (contra a Alemanha) e em Manaus (contra os Estados Unidos).
Apesar da fraca campanha portuguesa até então – uma derrota e um empate – o grupo ainda acreditava que Portugal poderia chegar às oitavas. E já pensava em ir atrás dos ingressos do jogo no dia 1 de julho. “Nossos jogadores estão quebrados com o calor que faz aqui”, tentava explicar Carlos Branco, 48.
“Estamos em uma terra de fé. Vamos ganhar de 3 a 0 e esperar que a Alemanha faça seu trabalho também”, apostava João Mendes, 39, antes de o árbitro Nawaf Shukralla dar o apito inicial à partida.
Mal terminou de falar, o português foi atropelado por um torcedor abraçado à bandeira de Gana. “Acho que vamos perder essa, mas o resultado não é importante. O que importa é fazer amigos”, ressaltou Kevin Ndoro, do Zimbábue. Já que seu país de origem não conseguiu chegar à Copa, ele agora vai torcer para as seleções africanas no Mundial.
Torcidas harmoniosas
O confronto entre as duas seleções à beira da eliminação foi marcado pela harmonia dos 67.540 torcedores na arquibancada. Apesar do forte coro de “Portugal” que se ouvia dentro do estádio a cada avanço português no campo adversário, as belas jogadas ganesas eram, da mesma forma, aplaudidas. Houve ainda brasileiros que deixaram de lado a ligação com os antigos colonizadores e levaram as cores do país africano no rosto e nas roupas.
Na medida em que a partida se aproximava do final, a esperança dava lugar à consternação: Portugal venceu Gana por 2 a 1, mas a vitória alemã por 1 a 0 sobre os EUA não foi suficiente para dar a classificação à seleção lusa.
“Muitos portugueses creditavam a derrocada de sua seleção ainda na primeira fase da Copa à devastadora derrota para a Alemanha no primeiro jogo. “Começamos muito mal, perdemos por 4 a 0 e tivemos a expulsão de um jogador importante”, analisou a professora Filipa Vasconcelos. “Ali começou nossa frustração."
Já para alguns integrantes da Leões da Fabulosa, torcida organizada da Portuguesa em São Paulo, a arbitragem falhou em vários lances da partida. Eles foram taxativos: “Esperávamos mais do Cristiano Ronaldo”, disse Guilherme Sampaio.
Os irmãos Brian, Joseph e Michael estavam entre os poucos portugueses que deixaram o Mané Garrincha ainda com animação. O motivo era simples: o coração dividido entre Portugal e Estados Unidos, onde os rapazes nasceram e foram criados. Filhos e netos de portugueses, eles garantiram que queriam ver as duas seleções nas oitavas de final. Mas, se por um lado lamentavam a despedida portuguesa, por outro, vibravam com a classificação americana.
Ainda assim, porém, eles confessam que, quando o assunto é Copa, tendem mais para as origens lusitanas. “Futebol faz mais sentido para Portugal do que para os EUA”, disse Brian. "Realmente, uma pena."