Torre de Babel em Mettmann
31 de janeiro de 2004
A comédia Samba in Mettmann conta a história de uma brasileira que chega à pequena cidade de Mettmann, perto de Düsseldorf, querendo casar com o cervejeiro milionário do local. Além das malas, a futura noiva traz duas amigas. Mas, antes de pisar no altar, o casamento é desmanchado e o cervejeiro acaba pondo as três na rua – diretamente nas mãos do dono de lavanderia Olaf Kischewski. Daqui em diante a calma cidade provinciana, para não dizer parada, se transforma...
Uma das peculiaridades do filme é que, quando conversam entre si, as brasileiras falam em português e os diálogos não têm legenda. Quando conversam com outras pessoas, elas usam linguagem de surdo-mudo. Mesmo assim, o público alemão tem condições de entender o desenrolar da trama, exceto a razão pela qual o noivado foi desfeito na última hora. Já quem sabe português fica sabendo antes.
Um dos comediantes mais conhecidos da Alemanha, Hape Kerkeling interpreta o papel principal de Olaf Kischewski. Há 11 anos o humorista não aparecia nas telas cinematográficas. Apesar de o filme contar a história de três brasileiras, duas delas são interpretadas pela alemã Beatrice Masala (a noiva) e pela americana Pamela Knight. A única legítima é a modelo e cantora Janaína Berenhauser.
DW-WORLD: Inglês, alemão ou português – afinal, que língua vocês falaram durante a filmagem?
Janaína Berenhauser: Bom, eu falei português o tempo todo. As outras duas atrizes que fizeram também o papel de brasileiras, embora não sejam legítimas, falaram português e um pouquinho de alemão. Inclusive elas aprenderam português muito rápido e muito bem. Até porque para uma americana é difícil perder o sotaque.
DW: Na verdade não perdeu.
JB: Sim, lógico, qualquer brasileiro que assiste ao filme vai saber que ela e a Beatrice não são brasileiras verdadeiras. Mas elas aprenderam bem o português. Além disso, elas têm cara de brasileiras. Por isso acho que deu certo.
DW: Elas entenderam o que estavam falando?
JB: (rindo) A Beatrice sim, porque ela é de origem espanhola, acho. Mas a Pamela – muitas vezes ela não sabia o que estava falando. Era igual a um papagaio, só repetindo as palavras. Muitas vezes ela chegava para mim, dizendo: "Mas vem cá, o que é que estou falando?" Foi muito divertido. Mas não foram elas as únicas a aprender uma linguagem nova. No meu papel foi muito especial ter de aprender a de surdo-mudo. Na trama, a minha avó no Brasil seria surda e o avô do Hape Kerkeling também. Ficamos uma semana em Berlim e lá tivemos um professor que nos deu aula, explicando os nossos textos. No filme, a linguagem é a maneira de as brasileiras falarem entre si sobre seus segredos, sem o espectador poder entender.
DW: Ora você fala com as mãos, ora em português. A maioria dos alemães não vai entender você!
JB: Certo, não vai entender, já que o filme não tem legenda. Nós fizemos isto de propósito, porque durante o filme eu explico para Hape porque o casamento não se realizou. Este é o grande mistério do filme. Mas eu uso português e a linguagem de surdo-mudo. Quer dizer: ninguém no cinema entende minha explicação e todo mundo tem de ficar até o final do filme para entender porque o casamento não deu certo.
DW: Quem escreveu os textos em português?
JB: Uma portuguesa escreveu os textos, mas eu mudei o jeito de falar, porque o português de Portugal é um pouco diferente. Então às vezes eu falava com o diretor ou o Hape, dizendo que não é assim. Eles aceitavam tudo, inclusive me pediram até para ajudar se tivesse alguma coisa errada.
DW: Por que o filme se chama "Samba in Mettmann"? Na verdade ninguém samba no filme.
JB: (rindo) É, a gente faz assim, tipo um sambinha, bem sambinha mesmo, que qualquer alemão vai conseguir sambar. Mas samba é mais do que só mexer os pés e o quadril. É música, é alegria, é um mito. Samba envolve tudo.
DW: As brasileiras do filme têm algo em comum com as brasileiras reais?
JB: Eu tenho, porque sou de verdade. Acho que a gente conta um pouco a história de brasileiras que vêm para cá, que se casam com alemães ou com pessoas de outras culturas. Acontece muito na vida real. Mostramos um pouco dessa mistura de culturas e raças.
DW: Isto não é clichê?
JB: Pode ser que alguém entenda errado, mas eu levo pelo lado bom. Não acho que o filme mostre apenas clichês. Eu quero mostrar que Brasil não é igual à imagem que muitos têm, que Brasil não é apenas carnaval, mulher pelada, pessoas morrendo de fome e pobres jogando futebol na rua. Com o andar do filme a gente mostra mais do que esses clichês: mostra a alegria do povo brasileiro, que os brasileiros precisam de pouco para ser feliz, que precisam menos, por exemplo, que os europeus. O filme mostra que os brasileiros fazem festa até em situações difíceis e que estão muito ligados à família, que gostam de viver muito unidos.
DW: Você acha que o filme faria sucesso no Brasil?
JB: Acho que sim, até porque a mídia brasileira mostra muito interesse no filme. A gente até já pensou no assunto. Mas primeiro temos de ver se o filme faz sucesso aqui na Alemanha. Minha mãe, por exemplo, gostou muito do filme. Riu o tempo todo, sem entender nada.
DW: Você gostaria de trabalhar como atriz num filme brasileiro?
JB: Sim, gostaria muito. Queria muito mostrar o que estou fazendo, o que aprendi. Não apenas para os alemães, mas também para os brasileiros.