"Tortura foi sistematizada e modernizada na prisão de Evin", diz terapeuta
28 de maio de 2013A psicoterapeuta Nargess Eskandari-Grünberg, de 48 anos, é vereadora pelo partido Verde na cidade alemã de Frankfurt, onde se engaja de forma voluntária pela política de migração e integração de estrangeiros.
Em seu consultório, a iraniana de nascimento trata vários conterrâneos. Alguns estiveram presos na penitenciária de Evin, localizada na periferia de Teerã. Ela conta que ainda hoje quem está preso lá precisa usar vendas nos olhos durante um longo tempo. "Eu mesma estive presa lá, mas até com uma planta da penitenciária não conseguiria dizer onde estive exatamente", relata a psicoterapeuta.
Muita gente em celas pequenas
Nargess Eskandari-Grünberg foi presa pelo regime dos mulás quando ainda era jovem e levada para a penitenciária de Evin. Ela havia protestado pelos direitos das mulheres e por reformas no país. Acabou presa vários anos na penitenciária, sem que seu caso fosse levado a julgamento. Quando foi enfim libertada, ela fugiu para a Alemanha. Em seu consultório de Frankfurt, a psicoterapeuta ouve muitos casos semelhantes de seus pacientes.
Muitos deles foram também presos por razões políticas. "Depois de tudo o que ouço, concluo que a penitenciária de Evin não mudou muito desde então. Ela continua um lugar cheio de brutalidade", fala a vereadora. "Acima de tudo, há problemas de acomodação e condições precárias de higiene. Há gente demais vivendo em celas pequenas", completa.
Segundo ela, para 300 a 400 presidiários, há seis banheiros. Não se sabe, contudo, o número exato de presos no local. De acordo com a Sociedade Internacional de Direitos Humanos, a penitenciária foi construída para abrigar originalmente 320 pessoas. Há estimativas de que em janeiro de 2012, havia ali mais de 8 mil presos.
"Pés são a segunda memória"
Como décadas atrás, a tortura e o terror continuam sendo métodos de inquérito aplicados na penitenciária, relata Eskandari-Grünberg. "O objetivo é obter informações e forçar os presos a denunciar terceiros. A meta é destruir as pessoas e sua identidade", acrescenta a vereadora.
Nas prisões iranianas corre um provérbio: "os pés são a segunda memória". A referência da frase, conta Eskandari-Grünberg, é aos métodos de tortura aos quais os presos são submetidos. Os guardas, segundo ela, usam com frequência chicotes para bater nos pés dos presidiários e assim obter confissões.
Pacientes da psicoterapeuta contam que o regime vem aprimorando seus métodos no decorrer dos anos: "A tortura foi sistematizada e modernizada", diz ela. Os ferimentos físicos nos presos em decorrência de abusos acabam desaparecendo com o tempo, enquanto as sequelas mentais e emocionais permanecem, diz.
Ex-presidiários, segundo ela, lutam para vencer sobretudo os sentimentos de culpa. "Durante os interrogatórios, a pressão é violenta. Até que o preso não tenha outra saída senão citar nomes. Os envolvidos carregam para sempre essa culpa de ter denunciado alguém", relata a psicoterapeuta.
Decepcionada com o governo alemão
Eskandari-Grünberg se diz decepcionada com a postura do governo alemão frente a esse desrespeito constante aos direitos humanos no Irã. A Alemanha, segundo ela, sempre ampliou suas relações comerciais com Teerã. "Não importa quem esteja no governo, quase sempre os interesses comerciais se sobrepõem à proteção dos direitos humanos. Não acho isso apenas triste, mas escandaloso", conclui a vereadora.