Trump diz que "encorajaria" Rússia a atacar quem deve à Otan
11 de fevereiro de 2024O ex-presidente americano e pré-candidato à reeleição Donald Trump disse que "encorajaria" a Rússia a "fazer o que diabos eles quiserem" com qualquer um dos países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que não tenha cumprido as metas de gastos militares estipuladas pela aliança.
Durante um evento de pré-campanha neste sábado (10/02) em Conway, na Carolina do Sul, Trump aludiu a um suposto encontro não especificado da Otan, durante o período em que ele ocupou a Presidência dos Estados Unidos, onde ele teria ouvido de um chefe de Estado de um "grande país" a confissão de que não estaria cumprindo com a meta da aliança de destinar 2% do PIB a gastos militares.
"'E se nós não pagarmos e formos atacados pela Rússia, o senhor nos protegerá?'", parafraseou Trump, referindo-se à pergunta que diz ter ouvido daquele chefe de Estado. "Eu respondi: 'Você não pagou? Você está devendo?'"
"'Não, eu não te protegeria. Na verdade, eu os encorajaria [a Rússia] a fazerem o que diabos quiserem'", afirmou o ex-ocupante da Casa Branca entre 2017 e 2021.
A declaração de Trump gerou apreensão entre membros da aliança, já que o que caracteriza a Otan é justamente o compromisso de defender qualquer país-membro da aliança que seja atacado, e principalmente países europeus temem as consequências de uma eventual derrota da Ucrânia perante a Rússia.
A tendência de cortes em gastos militares, inaugurada com o fim da Guerra Fria, foi interrompida em 2014 após a Rússia anexar parte do território da Ucrânia. Naquele ano, países-membros da Otan concordaram em voltar a elevar essas somas até atingir a meta de 2% do PIB até 2024.
Em 2014, três países cumpriam esse patamar de gastos militares. Em 2022, ano da invasão russa da Ucrânia, o número passou a 7 dos atuais 31 membros da aliança, segundo a Otan.
Os comentários de Trump vêm em um momento em que a Ucrânia peleja em seus esforços de guerra para repelir a invasão russa e de bloqueio do envio de ajuda americana ao país por republicanos no Congresso, que pressionam por medidas mais duras contra imigrantes.
Casa Branca reage e diz que comentário é "chocante e insano"
A Casa Branca, atualmente ocupada pelo democrata e pré-candidato à reeleição Joe Biden, reagiu aos comentários de Trump dizendo que "encorajar invasões contra nossos maiores aliados por parte de regimes homicidas" é algo "chocante e insano", e que põe em perigo a estabilidade global, e a segurança nacional e economia dos EUA.
Candidato favorito à Presidência pelo Partido Republicano e bem posicionado nas pesquisas de intenção de voto, Trump é um crítico de longa data da Otan e do que vê como fardo financeiro excessivo dos EUA para garantir a defesa de outros 30 países.
No passado, ele já fez outros comentários questionando o valor da Otan e a ajuda americana à Ucrânia. Os EUA são o maior apoiador do país do leste europeu, tendo enviado mais de 75 bilhões de dólares (R$ 372 bilhões) a Kiev desde a invasão, segundo o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, enquanto outros países contribuíram, juntos, com mais de 100 bilhões de dólares (R$ 495 bilhões).
Independente de Trump voltar ou não à Casa Branca, aliados europeus temem que os EUA estejam se tornando menos confiáveis. Alguns têm falado abertamente sobre a necessidade de aumentar gastos militares e estão traçando planos para um cenário alternativo de aliança sem os americanos.
Chanceler federal da Alemanha, a segunda maior apoiadora de Kiev, Olaf Scholz disse recentemente ao jornal alemão Die Zeit que o país não poderia apoiar a Ucrânia sozinho sem os EUA.
Trump enfrenta mais de 90 acusações na Justiça por ter supostamente tentado virar a eleição que perdeu, por manter ilegalmente segredos de Estado após deixar o cargo, e por ter feito pagamentos ilícitos a uma atriz pornô. Ele nega todas as acusações.
ra (Reuters, AP, ots)