Trump freia aproximação com Cuba
17 de junho de 2017O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira (16/06) uma revisão do acordo com Cuba firmado por seu antecessor, Barack Obama – passo que marca um recuo na aproximação entre os dois países, apesar de terem sido mantidas as relações diplomáticas.
"Com efeito imediato, estou cancelando o acordo completamente unilateral do governo anterior com Cuba", declarou Trump durante um discurso em Little Havana, bairro em Miami onde vivem muitos imigrantes cubanos e da América Latina.
Para o presidente, "o alívio das restrições sobre viagens e comércio, promovido pela gestão passada, não ajuda o povo cubano, apenas enriquece o regime". Ele ainda classificou o acordo de Obama com o governo "brutal" da família Castro como "terrível" e "equivocado".
Segundo a imprensa internacional, no entanto, Trump exagerou nas palavras. Em nota, o Departamento do Tesouro explica que as novas medidas não têm efeito imediato e que preveem apenas uma aplicação mais rigorosa das leis, afrouxadas quando Obama buscava uma aproximação.
Trump anunciou que serão restabelecidas algumas restrições a Havana, envolvendo viagens de americanos à ilha e negociações entre empresas dos Estados Unidos e entidades militares cubanas.
Retomados em 2016 após mais de 50 anos de proibição, os voos comerciais entre EUA e Cuba serão mantidos, bem como a permissão para que americanos voltem para casa com produtos cubanos. As viagens, no entanto, devem ser dificultadas a cidadãos americanos, bem como proibidas as visitas para fazer turismo.
Com a mudança, autoridades dos EUA devem reforçar a averiguação dos motivos da viagem, checando se os viajantes realmente se enquadram em uma das 12 categorias autorizadas, em vigor desde o governo Obama. Elas incluem visitas familiares e atividades educacionais, por exemplo.
A nova política também proíbe a maioria das transações comerciais entre companhias americanas e empresas ligadas às Forças Armadas Revolucionárias, que estão presentes em todos os setores da economia cubana.
Em discurso, Trump justificou as medidas afirmando que sua gestão vai fazer de tudo para evitar que o dinheiro americano seja usado para financiar um governo que, segundo ele, é repressor.
"Os lucros vindos do investimento e do turismo fluem diretamente para os militares. O regime toma o dinheiro e é dono da indústria", acusou o presidente. "Não queremos que os dólares americanos apoiem um monopólio militar que explora e abusa dos cidadãos de Cuba."
O presidente afirmou, porém, que as relações diplomáticas serão mantidas e que não fechará as embaixadas em Washington e Havana. "Nossa embaixada permanece aberta com a esperança de que nossos países possam traçar um caminho muito melhor", declarou ele.
Sobre as sanções contra o governo em Cuba, Trump declarou que elas serão mantidas até que "todos os prisioneiros políticos sejam libertados, todos os partidos políticos sejam legalizados e que sejam marcadas eleições livres e com supervisão internacional" no país.
O líder americano também desafiou o governo de Raúl Castro a sugerir um novo acordo que seja de interesse tanto do povo cubano como do americano.
A decisão anunciada em Miami é a mais recente das tentativas de Trump de desmantelar o legado do ex-presidente Obama. Além de estar tentando substituir o chamado Obamacare, sistema de saúde americano criado pelo antecessor democrata, o mandatário anunciou no início deste mês que vai retirar os EUA do Acordo de Paris sobre o clima.
Obama iniciou o processo de reaproximação com Cuba em dezembro de 2014, após mais de cinco décadas de relações diplomáticas rompidas. A embaixada americana em Havana foi reaberta oito meses mais tarde, e o ex-presidente adotou uma série de medidas para atenuar o embargo econômico imposto à ilha em 1962.
Em março de 2016, Obama fez uma visita histórica a Cuba, a primeira de um presidente americano em 88 anos. Em agosto do mesmo ano, foram retomados os voos comerciais entre os dois países.
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