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Trump frustra sonho americano de iranianos

3 de fevereiro de 2017

"O grande satã" é o destino de muitos iranianos, principalmente acadêmicos e profissionais técnicos. Com o decreto que os proíbe de entrar nos EUA, eles se mostram preocupados e indignados.

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Mulheres iranianas passam em frente a um grafite antiamericano em TeerãFoto: picture alliance/dpa/A. Taherkenareh

Há três semanas, Mahasti queria viajar para os Estados Unidos. O filho dela mora em Washington e virou pai de gêmeos há algumas semanas. Mas a viagem não aconteceu porque, no aeroporto de Teerã, ela foi informada de que o seu nome estava escrito errado na passagem aérea. "Um erro especialmente idiota", afirma a iraniana, de 69 anos. 

Entenda: como o Irã virou uma república islâmica

Opinião: Decreto é perigoso e contraproducente

As consequências acabaram sendo bem piores do que ela poderia imaginar: na sexta-feira (27/01) passada, o presidente americano, Donald Trump, expediu um decreto proibindo cidadãos de sete países de maioria muçulmana de entrar nos EUA, entre eles o Irã. A regra, justificou, vale para 90 dias e tem por objetivo proteger o país de ataques terroristas.

Mahasti se mostra indignada. "Quem eu poderia pôr em risco nos Estados Unidos? Meus próprios filhos?" Os dois filhos dela – um engenheiro de computação e uma designer gráfica – se mudaram para o país nos últimos seis anos. Eles participaram da loteria do green card e ganharam.

Um milhão de "green cards"

A imprensa iraniana avalia que mais de 1 milhão de iranianos têm um green card. Estatísticas oficiais afirmam que cerca de 300 mil cidadãos americanos que vivem nos Estados Unidos nasceram no Irã, o que torna o país americano o lar da maior comunidade iraniana fora do Irã.

Desde a Revolução Islâmica, os EUA são considerados o principal inimigo do sistema político iraniano e frequentemente chamados de "o grande Satã". Na prática, porém, são o país dos sonhos de muitos iranianos, especialmente de acadêmicos e profissionais técnicos.

Há inúmeros exemplos de políticos iranianos do primeiro escalão que estudaram e se formaram nos EUA, por exemplo o ministro do Exterior, Mohammad Javad Zarif, ou o diretor da autoridade nuclear, Ali Akbar Salehi.

Em 2015, ambos participaram de forma decisiva das negociações que resultaram no acordo nuclear iraniano. Há 12 mil iranianos estudando nos Estados Unidos. Eles também são atingidos pelo decreto de Trump. Se eles deixarem o país, não poderão retornar nos próximos 90 dias.

Ajuda ao regime dos aiatolás

A proibição de ingresso beneficia os linhas-dura do regime iraniano, afirmou Zarif. No Twitter, ele disse que o decreto ficará na história como "um grande presente aos extremistas e seus apoiadores".

Em retaliação, o Irã quer impedir cidadãos americanos de entrar no país. O Ministério do Exterior anunciou que, em reação à decisão ofensiva dos EUA, será aplicado o princípio da reciprocidade até que a medida seja cancelada. Nesta sexta-feira, o ministério anunciou que não vai conceder visto de ingresso à equipe americana de luta livre olímpica, que participaria do mundial que acontece em fevereiro no Irã.

O decreto de Trump surpreendeu também os políticos conservadores no Irã, que estavam entusiasmados com a vitória do republicano. O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, que raramente elogia os Estados Unidos, havia elogiado Trump já durante a campanha eleitoral, afirmando que os Estados Unidos necessitam de alguém que diga a verdade sobre "as elites corruptas" e que faça o que diz.

Quatro dias antes do decreto, o chefe da Justiça, aiatolá Sadeq Larijani, havia usado palavras simpáticas para se referir a Trump: não há pressa para avaliar o novo presidente, disse. Nesta segunda-feira, ele mudou o tom: "Considerando a mentalidade americana, essa decisão desumana não é nenhuma surpresa". Ele classificou a proibição de ingresso de contrária aos direitos humanos.

Minorias religiosas

Larijani não é exatamente um defensor da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas. Ele até mesmo chamou de erro a sua assinatura. A declaração, que não é vinculativa, garante a liberdade de religião. No Irã, pessoas que se converteram ao cristianismo e também a minoria religiosa dos bahá'i são perseguidas.

Em 1990, os Estados Unidos criaram um programa especial para a proteção de minorias religiosas que contempla também o Irã. O programa Lautenberg permite que integrantes dessas minorias possam viajar para os Estados Unidos. Com o decreto de Trump, o programa também foi suspenso.

O último grupo, de cerca de 300 participantes estava, em parte, já a caminho dos Estados Unidos. Eles fariam uma escala na Áustria. Segundo o Ministério do Exterior do país europeu, não há condições legais para acolher essas pessoas. As autoridades americanas afirmaram que estão tentando resolver a situação de uma maneira que "questões humanitárias e de segurança sejam contempladas".