Trump retira apoio a declaração conjunta do G7
10 de junho de 2018O presidente americano, Donald Trump, voltou a abalar a relação dos EUA com seus aliados tradicionais neste sábado (09/06), ao retirar seu aval a uma declaração conjunta emitida pelos líderes dos países industrializados do G7 ao fim de uma cúpula e insultar o anfitrião do encontro, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.
Minutos após a divulgação do comunicado conjunto, em que os líderes do G7 se comprometeram a combater o protecionismo, Trump publicou um tuíte a bordo do Air Force One, classificando Trudeau de "desonesto" e retirando o endosso de Washington à declaração.
O presidente deixou o encontro em La Malbaie, no Canadá, antes do encerramento, para viajar a Cingapura, onde deve se reunir com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, na próxima terça-feira.
Após a partida de Trump, Trudeau deu uma entrevista coletiva. O premiê afirmou que novas tarifas impostas pelos EUA ao Canadá são "insultantes". Ele afirmou que medidas em retaliação às de Washington entrarão em vigor no dia 1º de julho. "Os canadenses são educados e razoáveis, mas não seremos intimidados", disse.
"O primeiro-ministro Justin Trudeau, do Canadá, agiu de maneira tão dócil e moderada durante nossas reuniões no G7 para então dar uma entrevista coletiva depois que eu fui embora e dizer que 'as tarifas dos EUA são meio insultantes' e que 'ele não vai ser intimidado'. Muito desonesto e fraco. Nossas tarifas são uma resposta às dele de 270% sobre laticínios", escreveu Trump.
Com base nas "falsas declarações" do premiê canadense, Trump disse ter instruído representantes dos EUA a não endossar o comunicado conjunto.
Em resposta, o gabinete de Trudeau afirmou que o primeiro-ministro não disse nada na entrevista coletiva que não houvesse dito antes – tanto em público quanto em conversas particulares com Trump.
Neste domingo, em entrevista à emissora CNN, o principal assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, reforçou que Washington abandonou o comunicado conjunto porque o premiê canadense "nos apunhalou pelas costas" e instigou uma "traição contra o presidente Trump".
Segundo o documento que havia sido assinado pelos líderes do G7 ao final da cúpula, as sete nações concordaram com a necessidade de um "comércio livre, justo e mutuamente benéfico". "Nós nos esforçamos para reduzir barreiras tarifárias, barreiras não tarifárias e subsídios", diz o texto.
O comunicado final, resumindo os pontos de consenso entre os países, é emitido tradicionalmente ao fim da cúpula que ocorre anualmente entre os líderes das nações do G7 – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, mais União Europeia.
O sucesso do documento conjunto, no entanto, vinha sendo ameaçado devido a divergências com o presidente americano, sobretudo na questão do comércio. As tensões provêm em grande parte da decisão de Trump de impor tarifas rígidas sobre as importações de aço e alumínio a cinco de seus seis aliados do G7, entre eles o Canadá, o segundo maior parceiro comercial dos EUA.
Recentemente, iniciou também uma investigação comercial que poderá provocar tarifas adicionais sobre carros importados, ameaça que Trump reiterou neste sábado.
Apesar das pesadas tarifas impostas tanto a adversários quanto a aliados, o próprio Trump surpreendeu neste sábado, antes de deixar La Malbaie, ao afirmar ser favorável a um mundo livre de tarifas.
Em aparente aceno a Trump, o comunicado do G7 prometeu pressionar por reformas rápidas na Organização Mundial do Comércio (OMC), que, segundo o presidente americano, tem sido um "desastre" para seu país. "Nós nos comprometemos a modernizar a OMC para torná-la mais justa o mais rápido possível", diz o texto.
A declaração de oito páginas do G7 também incluiu um compromisso conjunto de impedir o desenvolvimento de armas nucleares pelo Irã, embora não tenham sido incluídos no texto detalhes de como isso será alcançado. Trump irritou aliados ao retirar, em maio, Washington do pacto nuclear com o Irã – fechado em 2015 com China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha.
Em relação ao clima, contudo, não houve um consenso entre os sete países. Sem os Estados Unidos, as demais nações rechaçaram a decisão do presidente americano de retirar o país do acordo climático de Paris no ano passado, sublinhando ainda mais a divisão dentro do G7.
Aliados reagem à atitude de Trump
Após Trump voltar atrás quanto ao comunicado conjunto, um representante da União Europeia disse que o bloco se aterá ao documento, como foi acordado por todos os participantes.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, também destacou que, apesar da retirada de Trump, Berlim continua apoiando a declaração emitida pelo G7.
Em entrevista à emissora alemã ARD, a chefe de governo afirmou que o anúncio do presidente americano "por meio do Twitter foi algo desanimador e um tanto deprimente", mas insistiu que "ainda há boas razões para lutar pela parceria transatlântica".
Merkel também anunciou que, assim como o Canadá, a União Europeia está preparando medidas retaliatórias às tarifas americanas sobre o aço e o alumínio.
O ministro do Exterior alemão, Heiko Maas, por sua vez, afirmou que, "com um único tuíte", Trump foi capaz de "destruir a confiança muito rapidamente". "O mais importante agora é que a Europa permaneça unida e defenda seus interesses ainda mais agressivamente."
Um funcionário da presidência da França também reforçou o apoio do país ao documento do G7, afirmando que qualquer um que abandone os compromissos assumidos na cúpula demonstraria "incoerência e inconsistência".
Em comunicado, o gabinete de Macron enfatizou que "a cooperação internacional não pode ser ditada por ataques de raiva e declarações descartáveis". "Precisamos ser sérios e dignos de nosso povo. Nós assumimos compromissos e os mantemos", escreveu o Palácio do Eliseu.
O gabinete de Trudeau, por sua vez, declarou: "Nos concentraremos no que alcançamos aqui na cúpula do G7."
LPF/dpa/rtr/afp/efe/lusa
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