Tsipras em ofensiva diplomática na Europa
2 de fevereiro de 2015O novo primeiro-ministro da Grécia, o esquerdista Alexis Tsipras, desembarcou nesta segunda-feira (02/02) no Chipre, na primeira parada de uma ofensiva diplomática pela Europa em busca de apoio à sua política contra as medidas de austeridades impostas por Bruxelas.
O discurso adotado por Tsipras no Chipre deve ser o mesmo nas próximas escalas de sua viagem – Roma, Paris e Bruxelas. Em Nicósia, ele voltou a pedir a dissolução da chamada troica – o grupo de credores formado por Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu.
Porém, deixou claro que seu governo buscará negociar com os parceiros europeus e descartou pedir ajuda à Rússia. Além disso, alertou sobre a consequência de uma eventual saída do Chipre ou da Grécia da zona do euro.
"A UE e a zona do euro ficariam ambos desmembradas no Sudeste sem Grécia e Chipre", disse Tsipras.
França e Itália na mira
Tsipras está ciente de que ele não pode renegociar, por conta própria, o serviço da dívida pública da Grécia. Em Atenas, ainda se discute o discurso certo a ser empregado nas negociações: após o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, ter cancelado a cooperação com os inspetores da troica, o premiê procura agora um tom mais apaziguador. E, agora, fala em "uma solução vantajosa tanto para a Grécia quanto para a Europa."
Já no domingo, após um encontro em Paris com o ministro das Finanças francês, Michel Sapin, Varoufakis se posicionou claramente contra um conflito de interesses entre os países do norte e os Estados em crise do sul europeu.
Durante a campanha eleitoral, o tom era bem diferente: a liderança do Syriza, o partido de Tsipras, falava em "rasgar o memorando da política de austeridade" e rejeitar decididamente as imposições de Berlim.
Para a possível aliança contra a política de austeridade, os potenciais parceiros são principalmente França e Itália. Essa informação foi confirmada por Nicos Pappas, vice-ministro e braço-direito de Tsipras, em entrevista à emissora de TV grega Mega: nos próximos dias, disse, o primeiro-ministro vai visitar Chipre, Itália e França e, em breve, essa estratégia vai dar frutos.
"Vamos aproveitar todas as oportunidades para fazer contatos e estabelecer alianças", afirmou.
A analista política Dimitra Kroustalli escreveu no jornal To Vima que Tsipras estaria investindo, sobretudo, numa aliança com o presidente da França, François Hollande. Segundo ela, o socialista francês estaria sofrendo tanta pressão por parte da populista de direita Marine Le Pen que seria impossível para ele recusar uma solução de acordo para a Grécia.
No plano da política externa, iniciar o mandato com uma visita ao Chipre já é quase uma tradição para um presidente grego recém-eleito. Como era esperado, Tsipras defendeu um retorno da União Europeia ao caminho do crescimento.
"A Europa deve tomar decisões corajosas para que a agenda do crescimento retorne", afirmou Tsipras nesta segunda-feira, após encontro com o presidente cipriota, Nicos Anastasiades. "A Europa está em crise, não somente a Grécia e o Chipre."
Podemos se distancia
Atualmente, na Península Ibérica, Tsipras deve esperar por pouco apoio. O governo espanhol de centro-direita se distanciou expressamente das exigências do Syriza. O ministro das Finanças, Luis de Guindos, destacou que seu país ajudou a Grécia com 26 bilhões de euros. Da mesma forma, o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, também se mostrou em desacordo.
De qualquer forma, o chefe de governo grego vem recebendo apoio do partido esquerdista Podemos, considerado o equivalente espanhol do Syriza e que, atualmente, está à frente nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de dezembro.
Ambos os partidos estão muito próximos. Tsipras esteve presente ao congresso de fundação do Podemos. Em troca, o líder da legenda espanhola, Pablo Iglesias, visitou o comício de encerramento do Syriza antes das eleições parlamentares na Grécia.
Encorajado pelo sucesso do partido esquerdista na Grécia, Iglesias espera agora por uma guinada à esquerda nas eleições legislativas espanhol em novembro. Nesse caso, o partido esquerdista grego teria um importante aliado para a sua aliança contra a política de austeridade econômica europeia.
No entanto, nos últimos dias, o Podemos parece ter se posicionado com certa distância dos camaradas gregos, adotando um tom mais moderado. "Mantemos certa distância um do outro, porque a situação na Grécia e na Espanha é diferente. A Espanha é mais forte e pode reagir à crise", afirmou recentemente ao jornal El País o vice-líder do Podemos, Íñigo Errejón.