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Tudo em família no governo Maduro

Evan Romero-Castillo (mp)6 de agosto de 2015

Anúncio de que primeira-dama vai concorrer ao Parlamento chama a atenção para nepotismo na Venezuela. Parentes do atual presidente, de Chávez e outras autoridades estão presentes em quase todas as instituições do Estado.

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Foto: Reuters

Um anúncio feito pelo presidente Nicolás Maduro voltou a chamar a atenção da imprensa internacional sobre a ocorrência de casos de nepotismo na Venezuela.

“Cilia Flores vai à batalha”, declarou Maduro, referindo-se ao interesse de sua mulher de buscar uma vaga no Congresso. As candidaturas devem ser oficializadas nesta semana, e o processo eleitoral começa em dezembro.

“Aqui não tem machismo que vai limitá-la”, disse o chefe de governo, deixando claro que não tem qualquer problema com a presença de parentes próximos nas diferentes instituições do Estado.

A mesma postura está em linha com a adotada pelo ex-presidente Hugo Chávez e pelo atual presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, cuja mulher, Marlenys Contreras, foi nomeada ministra do Turismo em abril deste ano.

Os Flores e os Maduro

“Filhas, irmãos, pais, sobrinhos, cunhados e compadres das mulheres e dos militares mais poderosos do regime fizeram dos cargos públicos a folha de pagamento que sustenta famílias privilegiadas”, disse o político da oposição Claudio Fermín, um dia antes do lançamento da candidatura da primeira-dama.

Os casos de nepotismo atribuídos a Maduro e Flores, casados há quase dois anos, não são recentes. O site poderopedia.org – uma publicação que acabou se tornando referência para entender quem é quem na alta esfera política e econômica venezuelana – cita fontes que garantem que Flores influenciou no ingresso irregular de 37 familiares na folha de pagamento do Parlamento.

Venezuela Cilia Flores
A primeira-dama Cilia Flores: candidatura dela à Assembleia Nacional chamou a atenção para nepotismoFoto: imago/Xinhua

Isso teria ocorrido no período em que Cilia Flores foi presidente da Assembleia Nacional, entre 2006 e 2011. Ela assegura que todas essas pessoas próximas participaram de rigorosos concursos públicos.

Seu sobrinho Carlos Erick Malpica Flores – um dos nomes favorecidos com uma vaga na Assembleia Nacional – é agora diretor da Tesouraria Geral da Nação e vice-presidente de Finanças da petrolífera estatal PDVSA. O advogado Walter Gavidia, ex-marido de Flores e ex-deputado no Parlamento Latino-americano (Parlatino), preside a Missão Negra Hipólita, uma fundação que tem o objetivo de ajudar sem-teto.

O filho de Flores e Gavidia, Walter Jacob, é presidente da Fundação Pro-Patria 2000. A organização deverá construir casas populares em áreas expropriadas da empresa Polar – a maior produtora de alimentos da Venezuela. Ao contar a história, o diário argentino Clarín lembra que o filho de Flores entregaria as propriedades diretamente aos beneficiários.

Em abril deste ano, o diário espanhol El Mundo descreveu os Maduro-Flores como “a família mais poderosa da revolução”, posicionando-a acima dos parentes do ex-presidente Chávez, que ainda mantêm “uma quota importante de poder”.

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O presidente do Parlamento, Diosdado Cabello: sua esposa e seu irmão chefiam ministérios no paísFoto: JUAN BARRETO/AFP/Getty Images

A matéria sugeria que somente assim era possível explicar a ascensão de Nicolás Maduro Guerra – conhecido como Nicolas Jr. – um jovem “de currículo desconhecido”, na hierarquia estatal.

Segundo o site poderopedia.org, como diretor do Corpo de Inspetores Especiais da Presidência, o filho de Maduro assumiu a responsabilidade de avaliar o funcionamento das políticas públicas e “combater a corrupção”.

Nicolas Jr. foi responsável pela organização do festival “Suena Caracas” e coordena o projeto da Escola Nacional de Cinema, que será inaugurada em setembro.

Os Cabello e os Chávez

A família do presidente da Assebleia Nacional, Diosdado Cabello, parece seguir os passos dos parentes da companheira do presidente venezuelano. A esposa de Cabello chefia o Ministério do Turismo e seu irmão mais novo controla tanto o Ministério da Indústria como o Centro Nacional de Comércio Exterior (Cencoex).

Antes, José David Cabello foi ministro de Infraestrutura e superintendente do organismo responsável pelos controles aduaneiros e cobrança de impostos.

O irmão mais novo de Diosdado Cabello também foi diretor-geral do principal aeroporto do país e da empresa aérea nacional Conviasa. Por sua vez, Daniela, a filha de Cabello com a ministra Marlenys Contreras, aparece tantas vezes na televisão venezuelana que já é conhecida como a cantora da “revolução bolivariana”.

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Rosa Virginia, filha de Chávez, é casada com o vice-presidente venezuelano, Jorge ArreazaFoto: picture-alliance/dpa

A morte do presidente Hugo Chávez não colocou a sua família à parte dos cargos públicos do Estado. Asdrúbal, o primo do “comandante”, é ministro do Petróleo e Minas. Adán, irmão mais velho de Chávez, é governador do estado de Bariñas. Argenis, outro irmão do ex-presidente, chefia a Direção Executiva da Magistratura, um órgão auxiliar do Supremo Tribunal de Justiça.

No entanto, as personalidades mais promissoras do clã são mais jovens: María Gabriela, considerada a filha preferida de Chavez, é embaixadora suplente da Venezuela na ONU. Ela contaria com o respaldo de um segmento do chavismo para substituir Maduro se for necessário.

Rosa Virgínia, filha mais velha do ex-presidente, estaria à sombra da irmã. Ela é presidente da Missão Milagro, uma fundação que ajuda pessoas com doenças oftalmológicas. O que Rosa Virgínia teria a seu favor é o fato de ser casada com o vice-presidente venezuelano, Jorge Arreaza.

Muitos perguntam se os servidores públicos escolhidos a dedo por seu parentesco com autoridades têm, apesar de tudo, qualificações para as funções que assumiram. Mas o problema parece um pouco mais complexo. Esses casos mostram que tanto os concursos para cargos de faixa média e alta como as avaliações do desempenho profissional dos funcionários têm pouco peso.

Tais casos parecem lembrar as práticas nepotistas dos governos social-cristãos e social-democratas anteriores ao presidente Chávez. Deixam também a impressão de que, 14 anos após o início da “revolução bolivariana”, o chavismo só fez manter uma das formas de corrupção que prometeu erradicar.