Tupolev Tu-154 é antiquado, mas seguro
29 de dezembro de 2016As causas da queda do avião russo no Mar Negro não foram reveladas. As autoridades nacionais estimam que ela tenha sido causada por combustível de má qualidade, um objeto estranho no motor ou erro do piloto. Um defeito técnico também é uma possibilidade. "Mas um Tupolev Tu-154 não cai assim, sem mais nem menos", afirma um especialista em aviação citado pela Sputnik, agência de notícias ligada ao governo russo.
O avião militar caiu no domingo, logo após a decolagem, matando todos os 92 ocupantes. Entre 1968 e 2013, produziram-se mais de mil unidades do modelo Tu-154, durante décadas um dos aviões de médio curso mais amplamente utilizados na Rússia. Atualmente ainda existem cerca de 300 exemplares, 100 dos quais estão regularmente em uso, também pelos militares russos. A maior companhia aérea russa, Aeroflot, se desfez de seu último Tu-154 em 2009.
Risco de segurança?
O Tu-154 não encarna exatamente a última palavra em tecnologia aeronáutica. Embora alcance altas velocidades, consome mais combustível do que os aviões de médio percurso mais modernos. Devido ao alto nível de ruído, só são permitidos na União Europeia os modelos mais recentes, cujos motores são equipados com uma espécie de silenciador.
"Também na cabine, o Tu-154 possui soluções mais conservadoras no lugar de tecnologias de ponta", ressalta Michael Santo, especialista em aviação da empresa de consultoria H&Z. "Ele foi projetado para pousar também em aeródromos remotos, sem infraestrutura completa. Seu equipamento é robusto o suficiente para pousar até em pistas de grama."
Ele acrescenta que o fato de as companhias aéreas russas apostarem em modelos mais recentes não tem relação com uma suposta falta de confiabilidade do Tu-154, mas com mais conforto e economia. "Ele é algo como o Lada dos ares", compara Santo.
Em princípio, porém, a tecnologia ultrapassada não representa risco de segurança para a aeronave. "Mais importante do que a idade de uma aeronave é o número de horas de voo, dos pousos e decolagens e, sobretudo, se a manutenção foi realizada regularmente e consistentemente", ressalta Santo.
Idade não é documento
O Tupolev que caiu tinha 33 anos e 6.689 horas de voo; outras aeronaves continuam voando regularmente com 40 ou 50 anos. "Com uma boa manutenção, esta aeronave deveria estar em excelentes condições", observa o jornalista e especialista em aviação Cord Schellenberg.
Instrumentos básicos analógicos, como altímetro, horizonte artificial e variômetro, não são nem melhores nem piores do que os modelos digitais. "O fato de acidentes aéreos terem se tornado menos frequentes, apesar do aumento do número de voos desde quando o Tu-154 foi lançado, tem relativamente pouco a ver com a transição dos instrumentos analógicos para os digitais", afirma Santo.
Ele explica que dois sistemas são particularmente importantes a bordo: o GPWS (Ground Proximity Warning System), que avisa o piloto quando o chão está próximo demais, e o TCAS (Traffic Collision Avoidance Sistem), que evita a colisão entre duas aeronaves, dando opções de evasiva.
"E praticamente todos os aviões são equipados com eles, independentemente do ano de produção", frisa o especialista. A causa mais comum de acidentes de aviação são erros humanos, seja na manutenção ou no controle do tráfego aéreo no solo, seja os cometidos pela própria tripulação.
Transparência nas investigações
Saber a verdadeira causa do acidente é importante não só para os parentes e amigos das vítimas, mas também para que se evitem acidentes futuros. "Entretanto, especialmente na Rússia, a impressão é que investigações sobre acidentes aéreos costumam ser influenciadas politicamente", pondera Santo.
Também no caso da queda no Mar Negro, diferentes porta-vozes se apressaram em eliminar uma série de causas. "Quando aeronaves do Ministério da Defesa desaparecem do radar e gente morre a bordo, está claro que não é essa a imagem que a orgulhosa potência militar Rússia gosta de deixar", diz Schellenberg.
Uma investigação aprofundada sobre um acidente de avião leva meses ou mesmo anos. Mas as autoridades russas querem já agora excluir um ataque terrorista. Isso surpreende Schellenberg. "Antes de tudo, os investigadores devem recolher e examinar todas as peças desse quebra-cabeças, para então decidirem se descartam certas hipóteses."