Turbulência na política alemã ecoa em Bruxelas
23 de maio de 2005A proposta repentina do chanceler federal Gerhard Schröder deixou a União Européia em estado de choque. Acredita-se que Berlim, até as eleições que devem acontecer no segundo semestre deste ano, deva se abster de qualquer decisão de peso em Bruxelas. Uma situação complexa, visto que o país é a economia mais forte do bloco e membro do grupo dos "países contribuintes", ou seja, aqueles que mais pagam que recebem dos cofres da UE.
Responsabilidade européia
Uma solução acerca do controverso orçamento da União dificilmente será tomada por um governo às beiras de deixar o poder. O anúncio de eleições alemãs "não facilita nada neste sentido", comentou o ministro luxemburguês das Relações Exteriores, Jean Asselborn. Já a comissária para Orçamento, Dalia Grybauskaite, alfinetou Berlim ao afirmar que também governos em campanha eleitoral não deveriam esquecer a "responsabilidade européia". A perspectiva de uma solução a curto prazo é, porém, mínima.
Acredita-se que assuntos ligados à UE devam servir de plataforma eleitoral tanto do SPD de Schröder quanto dos conservadores da atual oposição cristã-democrata. O temor do cidadão alemão frente à concorrência da mão-de-obra barata do Leste Europeu e o debate em torno de uma liberalização do mercado de trabalho nos países da UE vão certamente virar palavra de ordem de um lado e outro.
Oposição ao ingresso da Turquia na UE
Também o ingresso da Turquia no bloco pode ficar cada vez mais na corda bamba, principalmente considerando que as negociações oficiais com o país começam no próximo 3 de outubro. A conservadora União Social Cristã (CSU) já havia anunciado que pretendia fazer da oposição à presença da Turquia na UE uma de suas bandeiras eleitorais, mesmo quando as eleições ainda estavam previstas para setembro de 2006. Angela Merkel, a provável candidata da CDU ao posto de chanceler federal, é uma adversária convicta de Ancara nos quadros de Bruxelas.
Perigo de paralisia
No contexto de instabilidade política que reina na Alemanha, não é só a oposição que lança mão de temas controversos na esperança de arrebatar votos do eleitorado. Na próxima quinta-feira (26/05), Schröder segue para Tolouse, onde defende o "sim" dos franceses no plebiscito do domingo à Constituição Européia. Embora a presença de um chefe de governo na iminência de se despedir do poder não seja vista por Paris como uma grande ajuda para convencer a população.
Diplomatas nos bastidores da UE temem que uma rejeição dos franceses e dos holandeses à Constituição, aliada à súbita campanha eleitoral na Alemanha, leve a uma paralisia nos meandros do bloco.
Fortalecimento dos conservadores no Parlamento
Já no Parlamento Europeu, a atmosfera é de euforia entre a ala conservadora, liderada pelo alemão Gerd Pöttering, da alemã CDU. Uma possível vitória dos democrata-cristãos no segundo semestre deste ano iria dar mais peso às facções de centro-direita em Estrasburgo.
Em Bruxelas, percebe-se ainda que a Alemanha vive momentos nada tranqüilos: os ministros que deveriam vir de Berlim para participar de encontros nesta segunda-feira (23), acabaram ficando em casa. Tanto Peter Struck (Defesa) quanto Joschka Fischer (Exterior) tiveram algo mais importante para fazer no dia.