Turquia ainda está longe da UE
6 de agosto de 2002A União Européia reconhece que a Turquia deu dois grandes passos rumo à democracia e o Estado de direito, mas ainda mantém muitas reservas à integração do país na comunidade, pois em alguns pontos o regime turco continua incompatível com a democracia. Além disso, a comunidade européia quer aguardar, primeiramente, para verificar se de fato serão aplicadas as medidas do pacote de reformas que o Parlamento em Ancara aprovou, com escassa maioria, no último sábado (4).
O quartel-general da UE em Bruxelas avaliou o pacote de forma positiva. "Com o banimento da pena de morte, a Turquia passou para o nosso lado", comentou o comissário responsável pelas questões da ampliação da UE, o alemão Günter Verheugen. Para ele, a decisão do Parlamento foi uma confirmação da política européia para os direitos humanos e minorias étnicas.
O otimismo do político social-democrata pode ser precipitado, em virtude das resistências internas na Turquia contra as concessões democráticas, aprovadas pelas forças pró-européias no Parlamento turco. O partido nacionalista turco MHP, por exemplo, ameaça inviabilizar a aplicação da reforma com um recurso ao Tribunal Constitucional.
Convite para negociações
Com a aprovação das medidas que a UE vinha cobrando há anos, Ancara espera ser convidada em breve para iniciar as negociações sobre o seu ingresso no até agora clube exclusivo de 15 países ricos europeus. Na conferência de cúpula programada para dezembro em Copenhague, a UE deverá anunciar sua decisão a respeito e aprovar o cronograma de sua ampliação. De forma que Ancara tem pouco tempo para superar outros obstáculos, como o conflito insolúvel da ocupação parcial do Chipre e o papel decisivo dos militares na Turquia.
A UE tem que refletir bem sobre sua resposta à Turquia. Se decepcionar os turcos e, o que pior, se fizer isso com argumentos ruins, Bruxelas pode dar munição aos islâmicos e aos eurocépticos e, ao mesmo tempo, enfraquecer as forças pró-européias no Parlamento em Ancara.
Militância curda na Alemanha
Realista, o ministro alemão do Interior, Otto Schily, preferiu avaliar a reforma no contexto das relações euro-turcas. "É de grande valor para as relações entre a União Européia e a Turquia", comentou o ministro. A democratização da Turquia atenderia a interesses próprios da Alemanha, uma vez que o maior grupo de estrangeiros residentes no país é oriundo de lá e boa parte deles é de curdos que fogem da perseguição política. Os curdos militantes já criaram problemas internos na Alemanha com a sua luta contra a opressão no seu país e pela criação de um Estado curdo independente.
No auge da militância do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), em meados dos anos 90, extremistas curdos criaram transtornos, com bloqueios de autoestradas alemãs, e chocaram a opinião pública com suicídios políticos. Inclusive mulheres se imolaram em nome da causa curda, ateando fogo ao próprio corpo diante de câmaras de TV e fotógrafos. O número de imigrantes curdos é estimado em 500 mil, entre os mais de dois milhões de imigrantes turcos.
Depois dos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, o PKK declarou sua autodissolução. Mas muitos acreditam que se trata apenas de uma estratégia de sobrevivência nesses tempos de guerra declarada ao terrorismo.