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Turquia cobra da Otan posição contra a Síria

Roselaine Wandscheer25 de junho de 2012

Com histórico de proximidade política, as relações entre Ancara e Damasco abalaram-se desde que conflitos entre oposicionistas e Assad assolam a Síria. Tiros em caça turco levam Turquia a pedir reunião especial da Otan.

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Foto: Reuters

Os 27 ministros do Exterior da União Europeia criticaram clara e nitidamente o regime do presidente Bashar al-Assad. No entanto, o bloco europeu rejeita terminantemente uma resposta militar ao ataque sírio ao caça turco.

O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, afirmou que não se deseja uma "guerra substituta" na região, embora todos os ministros estejam de acordo que o ataque à aeronave turca foi "inaceitável", como consta de um comunicado da UE publicado nesta segunda-feira (25/06), em Luxemburgo.

Invasão militar não é cogitada

A UE conclamou o governo sírio a esclarecer o ocorrido imediatamente perante Ancara. "Mesmo que tenha havido uma invasão temporária do espaço aéreo sírio, isso não justificaria um comportamento desse. Uma coisa não justifica a outra", afirmou o ministro alemão.

A Alemanha, segundo ele, não participa de especulações sobre uma possível intervenção militar na Síria. O mandamento da hora é diminuir a tensão, disse Westerwelle. Os ministros da UE conclamaram juntos o presidente Assad a implementar, enfim, o plano de paz do enviado especial da ONU, Kofi Annan. E Catherine Ashton, encarregada da UE para assuntos de política externa, afirma que o Conselho de Segurança da ONU precisa aumentar a pressão sobre o regime Assad através de sanções.

Requerimento perante a Otan

Em Bruxelas, o Conselho da Otan irá se reunir nesta terça-feira, a fim de debater a questão. A Turquia entrou com requerimento de realização de uma sessão especial da aliança militar, com a presença dos 28 embaixadores de seus países-membros.

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Ministros alemão Westerwelle e holandês RosenthalFoto: dapd

Laurent Fabius, ministro francês do Exterior, ressaltou que "este avião estava desarmado, em viagem de rotina, e foi atacado a tiros sem qualquer aviso prévio. Isso é absolutamente inaceitável".

Uma intervenção militar na Síria, no entanto, não está sendo cogitada, confirmou também o ministro holandês do Exterior, Uri Rosenthal. "Não estamos pensando nisso. Não queremos uma intervenção, mas a implementação do plano de paz de Annan", concluiu o ministro.

A proibição de entrada na UE e bloqueio de contas bancárias de cidadãos sírios ligados ao regime Assad são algumas das sanções aplicadas pelo bloco. O número dos alvos das sanções subiu para um total de 129 pessoas físicas e 49 empresas.

Reações turcas

Apesar de tudo, Cagri Erhan, professor de política da Universidade de Ancara, afirma não acreditar que Ancara irá responder à Síria através de um ataque militar. "A guerra não é uma opção", disse Erhan. Embora a Turquia apoie as Forças Armas Sírias Livres, o país não assume oficialmente este apoio.

Erdogan in Damaskus mit Syriens Präsident Bashar Assad
Erdogan em Damasco com Assad: velhos temposFoto: AP

O histórico das relações turco-sírias é, contudo, positivo. No início de 2011, o chefe turco de governo ainda falava da "amizade turco-síria".

Mas desde que oposição e governo lutam há mais de um ano na Síria, a amizade entre os dois países encontra-se abalada. Ancara teve intenção de mediar o conflito, mas acabou sendo ignorada pelo regime Assad. Depois disso, os diplomatas dos dois países seguiram respectivamente para casa.

Destinos interligados

Os destinos dos dois países estiveram por longo tempo interligados. Durante séculos, a Síria fez parte do Império Otomano. Os turcos dominavam toda a região, até parte do Norte da África. Na Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano desmorou e os árabes se libertaram da hegemonia turca.

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Peter Philipp, especialista em Oriente MédioFoto: DW

Do ponto de vista histórico, havia, contudo, diversas ligações entre os povos, aponta o especialista em Oriente Médio Peter Philipp. Hoje, porém, não há mais reflexos deste período, acredita ele. "Não acho que a política cotidiana seja influeciada por isso", conclui.

Tensão e relaxamento

As tensões entre os dois países são, contudo, antigas. Nos tempos de Guerra Fria, a Turquia fazia parte das potências ocidentais, enquanto a Síria mantinha relações cordiais com a União Soviética. Até hoje, a Rússia é o único país a ter sua base militar no Mediterrâneo no porto da cidade síria de Tartus.

Nos anos 1990, Damasco e Ancara enfrentaram tensões: a Síria ofereceu asilo a Abdullah Öcalan, líder do Partido dos Trabalhadores Curdos. A Turquia reagiu com ameaça de guerra e Öcalan acabou tendo que deixar a Síria, tendo sido preso na Turquia. Depois disso, as relações entre os dois países normalizaram-se, as fronteiras foram abertas e suspensa a necessidade de visto para os habitantes de cada lado.

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Refugiados sírios na TurquiaFoto: DW/G.Anderson

Políticas distintas

Na região, a Turquia mantém uma política da boa vizinhança, apostando na neutralidade e no diálogo. O governo turco chegou a mediar, por exmplo, conversas entre a Síria e Israel. Já o governo sírio sempre manteve-se mais retraído em suas ações diplomáticas.

Mas a ruptura entre Ancara e Damasco aconteceu somente em 2011, quando o governo turco foi obrigado a decidir se apoiaria Assad ou a oposição. A Turquia acabou deixando sua neutralidade de lado e apoiou os movimentos oposicionistas sírios, dando abrigo também a mais de 30 mil refugiados nas regiões de fronteira. "Com isso, a Turquia não é mais hoje o vizinho cordial da Síria", observa Philipp.

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Aeronaves turcas: perigo em espaço aéreo sírioFoto: AP

Consequências imprevisíveis

O analista não crê, contudo, que a Turquia resolva atacar a Síria militarmente, pois com a longa fronteira de 900 quilômetros entre os dois países, uma guerra poderia desestablizar muitas regiões turcas. Enquanto a Turquia é membro da Otan, a Síria tem um pacto de apoio com o Iraque. Ou seja, um conflito mais acirrado poderia levar a uma polarização de alianças, acarretando consequências inimagináveis para ambos os lados.

SV/dw/rtr/dapd/dpa
Revisão: Carlos Albuquerque