Turquia diz que presidente alemão não será perdoado
25 de abril de 2015As declarações do presidente da Alemanha, Joachim Gauck, reconhecendo como genocídio o massacre de até 1,5 milhão de armênios geraram uma crise diplomática com a Turquia. Nesta sexta-feira (24/04), o Ministério turco do Exterior divulgou uma nota repudiando as palavras de Gauck, afirmando: "o povo turco não vai esquecer suas palavras nem perdoar o presidente alemão".
O comunicado diz ainda que Gauck não tem autoridade para lançar sobre a nação turca uma acusação que vai de encontro a fatos legais e históricos. Por fim, o ministério alerta sobre possíveis "efeitos negativos a longo prazo" sobre a relação turco-alemã.
Na quinta-feira, durante discurso num culto ecumênico em Berlim, Gauck abandonou a linha de cautela adotada pelo governo alemão a fim de evitar atritos com a Turquia e com os 3,5 milhões de pessoas de origem turca que vivem na Alemanha, usando a palavra genocídio para falar do massacre ocorrido há 100 anos.
"Com o nosso conhecimento atual e no contexto dos horrores políticos e humanitários das décadas passadas, hoje nos é muito claro: o destino dos armênios é parte da história de extermínios maciços, limpezas étnicas, deportações e genocídios, que marcou terrivelmente o século 20", afirmou Gauck . "Neste caso, nós alemães, coletivamente, temos ainda que fazer uma avaliação, ou seja, se há responsabilidade partilhada e talvez cumplicidade no genocídio dos armênios."
Bundestag também fala em genocídio
Também nesta sexta-feira, o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) usou o mesmo termo para classificar o massacre dos armênios. "Aquilo que aconteceu no Império Otomano em plena Primeira Guerra, sob os olhos do mundo, foi um genocídio", declarou o presidente do Bundestag, Norbert Lammert, diante do Parlamento.
Para os parlamentares alemães, não se trata de acusar os turcos pelas mortes. Assim como a Alemanha não tem orgulho de seu passado nazista, afirmaram porta-vozes de todos os partidos representados na Casa, a Turquia também deveria aprender a lidar com seu passado.
A chanceler federal Angela Merkel e o ministro do Exterior Frank-Walter Steinmeier participaram da sessão no Bundestag e assistiram em silêncio ao discurso de Lammert.
Turquia contesta
O governo turco rechaça o uso do termo genocídio para se referir à matança de armênios ocorrida entre 1915 e 1917 na área da atual Turquia. No início deste mês, Ancara retirou seus embaixadores de Viena e do Vaticano depois que a Áustria e o papa Francisco descreveram o massacre como genocídio.
O Ministério turco do Exterior também condenou nesta sexta-feira o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pela referência a genocídio durante eventos em homenagem às vítimas armênias. "Considerando as mortes em massa, exílios (...) que a Rússia executou no Cáucaso, na Ásia Central e no Leste da Europa no século passado (...), achamos que o país deveria ser o que melhor sabe o que é um genocídio e quais são as suas dimensões legais", afirma a nota de Ancara.
Dia de homenagens
Homenagens às vítimas do massacre de armênios ocorreram em diversas partes do mundo nesta sexta-feira. Uma cerimônia na capital da Armênia, Yerevan, reuniu líderes mundiais, que fizeram um minuto de silêncio e discursaram, lembrando a tragédia. Entre as autoridades estavam Putin e o presidente francês, François Hollande.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que "compartilha a dor" dos armênios, mas, como havia feito na quinta-feira, novamente refutou a descrição das mortes como genocídio.
O dia 24 de abril de 1915 marcou o início das perseguições à população armênia, que há séculos vivia sob domínio otomano. Centenas de milhares de armênios foram deportados, e a maioria de seus bens foi confiscada.
O termo "genocídio" foi definido pela ONU em 1948 como atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Mais de 20 países – entre eles Rússia e França – reconhecem a matança de armênios como tal.
MSB/dpa/rtr/afp/ap