Turquia e UE disputam refugiados "classe A"
21 de maio de 2016A Turquia tem bloqueado a transferência para a União Europeia de refugiados sírios com alta qualificação profisssional. Segundo a revista alemã Der Spiegel, fontes da Alemanha, Holanda e Luxemburgo confirmam que Ancara retirou nas últimas semanas diversos vistos de saída já concedidos a engenheiros, médicos e profissionais especializados com boa formação.
A publicação acrescenta que diversos governos europeus têm criticado o fato de haver "candidatos difíceis" entre os migrantes indicados por Ancara à UE.
Numa reunião interna, um representante do governo de Luxemburgo teria apontado especificamente a grande incidência de "casos médicos graves ou refugiados com nível educacional muito baixo". O secretário de Estado parlamentar do Ministério do Interior alemão, Ole Schröder, também comunicou constatações semelhantes à comissão de política interna do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão).
Poder total para Ancara
Além disso, o governo da Turquia teria declarado oficialmente ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) que acadêmicos sírios não terão mais permissão para deixar o país.
No acordo com a UE, Ancara já tinha imposto uma cláusula em que se reserva o direito de escolher os refugiados que serão liberados para o bloco europeu. Normalmente, cabe ao Acnur decidir os eventuais candidatos a um programa de realocação.
A agência da ONU informou que tem adotado um processo abreviado, "em consenso com as autoridades turcas, assim como com os países de acolhimento", prossegue a Spiegel. De forma não oficial, no entanto, funcionários do Acnur contaram que seu papel é praticamente apenas carimbar as listas apresentadas por Ancara.
Desde a entrada em vigor do acordo EU-Turquia sobre os refugiados, em 20 de março, a migração descontrolada para a UE sobre o Mar Egeu recuou drasticamente.
O pacto prevê que a Turquia receba migrantes sírios que entraram na Grécia. Em contrapartida, a União Europeia se comprometeu a receber refugiados que se encontram na Turquia, além de conceder bilhões de euros ao país para financiar o alojamento dos migrantes sírios.
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