Turquia sugere que não vai mais conter refugiados
28 de fevereiro de 2020A Turquia "não tem mais condições de conter os refugiados sírios" em seu território, afirmou nesta sexta-feira (28/02) um porta-voz do partido AKP, do presidente Recep Tayyip Erdogan.
Nesta quinta-feira, um ataque aéreo atribuído ao regime em Damasco matou mais de 30 soldados turcos e deixou dezenas de feridos na província de Idlib, no norte da Síria.
O anúncio ocorreu no momento em que cerca de 300 migrantes atravessam o noroeste do país em direção às fronteiras com a Grécia e a Bulgária, segundo a agência de notícias DHA.
"Como resultado do ataque, os [refugiados] na Turquia estão indo para a Europa, e os que estão em território sírio estão indo para a Turquia", disse o porta-voz à emissora CNN Türk. "Nossa política de refugiados é a mesma de antes, mas, agora, estamos em uma situação em que não podemos mais contê-los".
O governo em Ancara, porém, negou que tenha aberto a fronteira rumo à Europa. "Não há qualquer mudança na política de refugiados e migrantes do nosso país, o que mais acolheu refugiados no mundo", comunicou o Ministério do Exterior.
O ministério ressalvou, porém, que uma piora da situação em Idlib pode elevar a movimentação de migrantes rumo às suas fronteiras. Segundo ele, os migrantes e refugiados sírios que estão na Turquia acompanham atentos os desenvolvimentos e "começam a se deslocar rumo à nossa fronteira ocidental".
A Comissão Europeia conclamou a Turquia a respeitar o atual pacto de refugiados com a União Europeia e comunicou que acompanha a situação.
A Turquia hospeda cerca de 3,6 milhões de sírios que fugiram da guerra civil em seu país. Em 2016, um acordo firmado com a União Europeia interrompeu o fluxo migratório para a Europa em troca de repasses financeiros. O acordo resultou da chamada crise dos refugiados de 2015, quando milhões de pessoas procuraram abrigo na Europa, a maioria delas vindas da Síria. Desde então, Erdogan ameaça repetidamente "abrir os portões" em meio a disputas com a Europa.
A DHA informou que um grupo de cerca de 300 migrantes, incluindo mulheres e crianças, chegou na manhã desta sexta-feira à cidade turca de Edirne, na região de fronteira com a Bulgária e a Grécia. Sírios, iranianos, iraquianos, paquistaneses e marroquinos estão no grupo.
Em resposta, a Grécia fechou postos de fronteira e elevou o patrulhamento na sua fronteira com a Turquia. Segundo dados da União Europeia, a Grécia teve mais de 60 mil solicitantes de refúgio vindos da Turquia em 2019 e espera mais de 100 mil pedidos em 2020. Os campos de refugiados do país estão lotados, e as condições de vida são insalubres.
O primeiro-ministro da Bulgária, Boyko Borissov, também anunciou que está reforçando a segurança ao longo da fronteira com a Turquia. Ele disse que pretende conversar por telefone com Erdogan para debater a situação.
Desde o início de dezembro, Idlib é alvo de uma campanha militar feroz por forças leais ao governo sírio, apoiadas por bombas aéreas da Rússia. Idlib é a última fortaleza rebelde e jihadista na Síria.
Nas últimas semanas, a província foi palco de confrontos entre a Turquia, que apoia os grupos rebeldes, e as forças do regime sírio, apoiadas por Moscou. As recentes mortes marcam uma grave escalada no conflito direto entre os dois países.
LE/lusa/afp/ap/rtr
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