Turquia teria espionado políticos alemães, diz jornal
29 de março de 2017O escândalo de espionagem por parte do serviço secreto turco na Alemanha atingiu um novo patamar. Além de membros da comunidade turca, políticos alemães, entre eles a deputada Michelle Müntefering, do Partido Social-Democrata (SPD), estariam na lista de supostos monitorados por Ancara em território alemão, segundo reportagem publicada nesta quarta-feira (29/03). pelo jornal Süddeutsche Zeitung, realizada em parceria com as emissoras NDR e WDR.
De acordo com autoridades alemãs, mais de 300 pessoas e instituições foram possivelmente espionadas pelo serviço secreto turco, sob a acusação de terem ligação com o clérigo muçulmano exilado Fethullah Gülen. Além de Müntefering, o nome da política local de Berlim Emine Demirbüken-Wegner, da União Democrata Cristã (CDU), também aparece na lista turca.
Ambas as políticas constam numa tabela de um dossiê feito por Ancara, numa lista intitulada "Centros de poder e ONGs", que teriam construído uma boa relação com o movimento Güllen. O documento foi entregue ao chefe do Serviço Federal de Informações (BND), a agência de inteligência alemã, por seu homólogo turco no mês passado, durante a Conferência de Segurança de Munique.
O Süddeutsche Zeitung afirma que provavelmente, ao entregar o dossiê, Ancara esperava obter ajuda administrativa.
O governo turco culpa Gülen, que vive nos Estados Unidos, de orquestrar a fracassada tentativa de golpe militar em julho do ano passado. A Turquia lançou desde então uma repressão maciça à oposição e acusou os simpatizantes do clérigo – que negou qualquer participação na insurreição – de serem terroristas.
Parlamentares criticam espionagem
Müntefering é integrante da Comissão de Exterior do Bundestag (Parlamento alemão), além de presidir o grupo parlamentar teuto-turco. Recentemente, a deputada criticou o governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, mas sempre defendendo a manutenção do diálogo com a Turquia.
A parlamentar afirmou nesta quarta-feira que Ancara ultrapassou mais uma vez uma fronteira. "Essa ação do governo turco mostra mais uma tentativa de oprimir posições críticas", disse Müntefering, num comunicado.
O líder da bancada do SPD no Bundestag, Thomas Opperman, afirmou que o governo turco precisa parar imediatamente com esse jogo. "Isso é intolerável", ressaltou. Ele exigiu ainda da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, um posicionamento claro sobre este novo incidente envolvendo o governo Erdogan.
A Procuradoria Geral da República anunciou na terça-feira que está investigando a suspeita de espionagem de seguidores de Gülen na Alemanha por parte do governo turco. O ministro alemão da Justiça, Heiko Maas, lembrou que espionagem é um crime e que as leis alemãs valem também para o serviço secreto turco.
CN/afp/ots