Ucrânia ordena retirada de tropas da Crimeia
24 de março de 2014O presidente interino da Ucrânia, Olexandr Turtchinov, ordenou nesta segunda-feira (24/03) a retirada das tropas ucranianas da península da Crimeia, no Mar Negro, recentemente anexada pela Rússia sem o reconhecimento da comunidade internacional.
Também foi decidido que os parentes dos soldados e outros civis em condição de risco deverão ser levados de volta a território ucraniano. A medida, segundo o presidente, se aplica a "todos que se encontram sob pressão para deixar suas casas".
Na manhã desta segunda-feira soldados russos munidos de equipamento militar pesado e helicópteros armados ocuparam uma das últimas bases ainda sob controle ucraniano na Crimeia. Entre 60 e 80 soldados foram removidos, e o comandante da base naval foi retirado de helicóptero.
O novo governo da península acusou a Ucrânia de cortar o abastecimento de energia da região. De acordo com o vice-premiê da Crimeia, Rustam Temirgaliyev, atualmente apenas 50% do fornecimento total acordado entre as duas partes chega à península. Ele acusa a Ucrânia de utilizar o fornecimento de energia como forma de pressão.
A empresa local de energia Krimenergo acusa a ucraniana Ukrenergo pelos cortes no abastecimento. Em Kiev, o primeiro-ministro interino da Ucrânia, Arseniy Yatsenyuk, havia declarado anteriormente que a península continuaria recebendo energia, mas que a Rússia deveria pagar.
Tropas na fronteira
Neste domingo, um alto comandante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) afirmou que a aliança militar acompanha cuidadosamente o destacamento de tropas russas perto da fronteira com a Ucrânia.
O Kremlin nega qualquer intenção de invadir a Ucrânia, mas deixou claro que pretende "proteger" seus compatriotas russos na fronteira, que, segundo afirma, têm sido vítimas de nacionalistas ucranianos desde a instalação do governo pró-Ocidente no país, no mês passado.
Vários chefes militares ucranianos disseram no domingo que temem por um ataque iminente das forças russas na região sudoeste da Ucrânia.
A movimentação de tropas russas na fronteira com a Ucrânia também gerou preocupação à chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel. O porta-voz do governo, Steffen Seibert, afirmou nesta segunda-feira em Berlim que "o acúmulo de tropas nessa região não pode ser compreendido como um esforço de distensão".
Merkel teria deixado isso bem claro ao presidente russo, Vladimir Putin, em conversa telefônica na noite de domingo. A Putin, a chanceler reiterou que a anexação da Crimeia viola claramente leis internacionais, e não será reconhecida. Ela afirmou ainda que a Rússia será responsabilizada caso a situação na Crimeia resulte em derramamento de sangue.
Além disso, Merkel alertou que a Rússia não deve promover a desestabilização da República da Moldávia, tida por muitos observadores internacionais como o próximo alvo da política expansionista de Moscou.
Introdução do rublo
O rublo, a moeda corrente russa, foi introduzido nesta segunda-feira como a moeda oficial da Crimeia. As transações comerciais, no entanto, continuarão a ser realizadas na moeda ucraniana, a hryvnia.
"A partir de hoje, podemos oficialmente realizar pagamentos em rublos. A hryvnia continua em circulação até o dia 1º de janeiro de 2016", afirmou, via Twitter, o primeiro-ministro da Crimeia, Serguei Aksyonov.
O período de transição da moeda ucraniana para o rublo – até 1º de janeiro de 2016 – já havia sido estipulado na semana passada, quando o Parlamento russo aprovou a anexação da Crimeia à Rússia.
A agência russa de notícias RIA Novosti reportou que, segundo o vice-primeiro-ministro Temirgaliyev, as pensões seriam pagas em rublos a partir desta segunda-feira, e que 300 milhões de rublos já teriam sido separados para essa finalidade.
Moscou considera abrir uma zona especial econômica na Crimeia, no intuito de reforçar a enfraquecida economia local. "Queremos conceder vantagens especiais à nova região da Rússia", declarou o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev. As medidas deverão incluir isenções tributárias e o pagamento de benefícios hoje não existentes em outras partes da Rússia.
RC/rtr/dpa/afp