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Ucrânia segue passos do autoritarismo russo

5 de agosto de 2012

Um ano após controversa prisão da primeira-ministra Yulia Timoshenko, analistas avaliam que regime Yanukovitch, na Ucrânia, tem muitas semelhanças com autoritarismo de Putin. Porém as diferenças também são grandes.

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Foto: AP

Neste domingo (05/08) completa-se um ano desde que Yulia Timochenko, então primeira-ministra da Ucrânia, foi colocada atrás das grades. Em seguida, ela enfrentou um processo controverso, sendo condenada a sete anos de prisão. A Justiça ucraniana a acusou de abuso de autoridade, no contexto dos contratos de fornecimento de gás fechados com a Rússia.

As críticas vindas do exterior sobre o julgamento parecem não impressionar o governo em Kiev. Enquanto cumpre pena, Timochenko também responde a outro processo, por sonegação de impostos. Outro integrante de seu governo, o ex-ministro do Exterior Yuri Lutsenko, também está preso.

No caminho do Kremlin

À primeira vista, o caso lembra a Rússia. Lá, o ex-magnata russo do petróleo Mikhail Khodorkovsky, crítico do presidente Vladimir Putin, já cumpre pena de prisão há cerca de nove anos, acusado de corrupção. Sobretudo os países ocidentais atribuem motivação política às acusações contra Khodorkovsky – coisa que o governo em Moscou refuta.

O caso Timochenko é considerado, sobretudo pela mídia ocidental, um exemplo de como a Ucrânia vem ficando parecida com a Rússia, desde a posse do atual presidente, Victor Yanukovitch.

"A intenção do atual regime é cuidar para que nunca precise entregar o poder", avalia o Gerhard Simon, professor de Ciência Política com foco no Leste Europeu, pela Universidade de Colônia. Segundo ele, existe na Ucrânia, assim como na Rússia, um "partido do poder", no caso, o Partido das Regiões de Yanukovitch, que tenta dominar o sistema político em todos os níveis.

Yulia Timochenko no julgamento em Kiev
Yulia Timochenko no julgamento em KievFoto: dpad

"Prata da casa"

Outro paralelo entre a política russa e a ucraniana é o desejo de Kiev de "enfraquecer a oposição e torná-la controlável", afirma Simon. "Isso vem sendo feito na Rússia há muitos anos, e agora o sistema político da Ucrânia encontra-se no mesmo caminho", acredita especialista.

Há ainda outros paralelos. Quando Putin, ex-agente da KGB, assumiu a presidência da Rússia pela primeira vez no ano 2000, ele ocupou os principais cargos do país com antigos ou ainda ativos funcionários do serviço de inteligência, e com gente de confiança de sua cidade natal, São Petersburgo.

Yanukovitch faz algo parecido. Muitos cargos de primeiro escalão na Ucrânia foram preenchidos por pessoas de sua província natal, Donetsk. Metade do quadro de servidores do governo já trabalhou por lá. O regime ucraniano tem se inspirado até mesmo na legislação russa. Há poucas semanas, o Parlamento em Moscou endureceu a punição contra "difamação", colhendo com isso muita crítica de ativistas dos direitos humanos. Uma proposta de lei parecida tramita agora também na Ucrânia.

As diferenças

Em contrapartida cientista político Andreas Umland, da universidade Academia Mohyla de Kiev, acredita que, apesar das muitas semelhanças, entre Ucrânia e Rússia ainda imperam as diferenças. "Há na Rússia uma tentativa de se obter um poder vertical, para controlar os atos do Parlamento, fortalecer o poder do presidente, intimidar ou neutralizar a oposição." Já na Ucrânia, segundo ele, não há condições viáveis para tal sistema.

"Não há dinheiro, nem amplo apoio popular, nem uma elite unida e nem um aparato político para amparar o presidente, como na Rússia", acredita Umland. Por isso, classifica "o regime semiautoritário ucraniano" como "instável" e mais efêmero do que o modelo russo.

Manifestações da oposição na Ucrânia são frequentes
Manifestações da oposição na Ucrânia são frequentesFoto: Rzeutska / DW

O jornalista ucraniano Vitaly Portnikov também acredita que o modelo político atualmente em vigor na Ucrânia é bastante diferente do russo, cujo modelo oligárquico de governança se impôs após o desmoronamento da União Soviética.

"Diferentes grupos de oligarcas e servidores públicos se uniram", conta o redator-chefe do canal de televisão TVi, de Kiev. Na Ucrânia houve um sistema parecido, mas o presidente Yanukovitch o mudou, diz Portnikov. "Yanukovitch toma sozinho suas decisões", com Putin não acontece isso, ressalta o jornalista que trabalhou em Moscou.

Risco de ameaça à democracia

Por isso, Portnikov enxerga grandes semelhanças também entre a Ucrânia e Belarus, regida com mão de ferro pelo presidente Alexander Lukachenko há mais de 15 anos – opinião partilhada por outros observadores. Em Belarus, havia uma oposição forte, e os protestos contra o regime não foram reprimidos com violência.

Porém com a proximidade das eleições parlamentares, no fim de outubro, a Ucrânia poderá ficar ainda mais próxima da Belarus. Desde a "Revolução Laranja" de 2004, todas as eleições ucranianas foram avaliadas como democráticas pelos observadores ocidentais. Agora, no entanto, a ameaça de recuo no processo democrático assusta Portnikov. "Eu aguardo uma fraude eleitoral total", declara Portnikov.

Já no que diz respeito à liberdade de imprensa, a Ucrânia se aproxima cada vez mais da Rússia, acusa o jornalista. Desde a posse de Yanukovitch, há dois anos, o canal de televisão em que trabalha sofre frequentemente pressão das autoridades. Até bem pouco tempo, o diretor geral da TV vinha sendo investigado por sonegação fiscal, porém o processo foi suspenso.

Autor: Roman Goncharenko (msb)
Revisão: Augusto Valente