UE acusa Rússia de chantagem ao cortar gás a países europeus
27 de abril de 2022A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, recebeu com indignação o anúncio de que a Rússia interromperá a partir desta quarta-feira (27/04) seu fornecimento de gás natural para a Polônia e a Bulgária, ambos membros da União Europeia (UE), mas garantiu que o bloco já estava preparado para eventuais cortes e planeja uma resposta "coordenada".
"O anúncio da Gazprom [companhia estatal russa de energia] de que está interrompendo unilateralmente o fornecimento de gás a clientes na Europa é mais uma tentativa da Rússia de usar o gás como instrumento de chantagem", disse Von der Leyen em comunicado.
Segundo a chefe do Executivo europeu, a medida é "injustificada e inaceitável" e "mostra mais uma vez a falta de confiabilidade da Rússia como fornecedora de gás".
Von der Leyen acrescentou que a UE fez planos de contingência para tal situação e que negociações de crise ocorrem neste momento em Bruxelas. "Estamos preparados para esse cenário. Estamos em estreito contato com todos os Estados-membros", declarou.
"Estamos elaborando nossa resposta coordenada da União Europeia. Também continuaremos trabalhando com parceiros internacionais para garantir fluxos alternativos. E continuarei trabalhando com líderes europeus e mundiais para garantir a segurança do abastecimento de energia na Europa", garantiu a presidente da Comissão Europeia.
"Os europeus podem confiar que estamos unidos e em total solidariedade com os Estados-membros impactados por esse novo desafio. Os europeus podem contar com o nosso total apoio."
A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), sediada em Paris, também condenou o anúncio da Rússia, tachando a medida de "armamentização do fornecimento de gás".
"A decisão da Gazprom de cortar completamente o fornecimento de gás para a Polônia é mais um sinal da politização por parte da Rússia dos acordos existentes e só irá acelerar os esforços europeus para se afastar do fornecimento de energia russa", escreveu no Twitter o diretor executivo da IEA, Fatih Birol.
Cortes de gás
A Polônia e a Bulgária foram informadas na terça-feira pela russa Gazprom que seu fornecimento de gás natural russo seria interrompido a partir desta quarta. A medida de Moscou foi vista como uma escalada dramática em um conflito que está se tornando cada vez mais uma batalha contra o Ocidente.
Os dois países, assim como outros da União Europeia, recusaram-se a pagar pelo gás natural em rublos, uma exigência de Moscou para estabilizar e impulsionar sua moeda diante das sanções do Ocidente em meio à guerra na Ucrânia.
Além disso, a Polônia tem oferecido grande apoio à Ucrânia – é a nação que acolheu o maior número de refugiados da guerra, serve de rota de transporte para armas enviadas por países do Ocidente à Ucrânia e, nesta semana, confirmou que enviará tanques para Kiev.
Já a Bulgária era aliada de Moscou até a troca de seu governo por um líder de perfil liberal em dezembro de 2021. O país tem hesitado em oferecer apoio militar à Ucrânia, mas o primeiro-ministro Kiril Petkov e membros de seu governo irão a Kiev nesta quarta-feira para conversar com integrantes do governo ucraniano sobre possível ajuda ao país.
Enquanto a Polônia conta com amplo armazenamento de gás natural e em breve se beneficiará de dois novos gasodutos, a Bulgária obtém mais de 90% de seu gás da Rússia, mas autoridades do país disseram que já trabalham para encontrar outras fontes, como o Azerbaijão.
ek/lf (AP, AFP, Efe, ots)