Consternação
31 de maio de 2010Líderes mundiais reagiram com consternação diante do ataque da Marinha israelense a um comboio de ajuda humanitária que matou ao menos nove pessoas e deixou dezenas de feridos nesta segunda-feira (31/05).
O ataque aos ativistas que transportavam suprimentos para a Faixa de Gaza teria acontecido em águas internacionais. A imprensa israelense fala em até 16 mortos.
Os seis barcos com cerca de 700 ativistas pró-Palestina carregavam 10 mil toneladas de alimentos e tentaram furar o bloqueio marítimo imposto por Israel à Faixa de Gaza. Às 5h no horário local, eles foram interceptados pelas forças israelenses. O confronto foi gravado por uma equipe turca, que estava a bordo da embarcação que foi atacada.
Pedido de investigação
Após o ataque, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou Israel de praticar terrorismo de Estado.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, cobrou do governo israelense um rápido esclarecimento sobre o que de fato aconteceu. Ela defendeu uma investigação internacional. "Coloca-se a urgente questão da proporcionalidade", afirmou.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, conversou sobre o caso com o colega israelense Avigdor Lieberman por telefone. "Eu insisti que seja feita uma investigação abrangente, transparente e neutra de todas as circunstâncias", disse Westerwelle.
A União Europeia (UE) convocou para a tarde desta segunda-feira uma reunião extraordinária com embaixadores para discutir o ataque violento do comando israelense. A alta representante para a Política Externa da UE, Catherine Ashton, exigiu que Israel faça "um inquérito exaustivo sobre as circunstâncias". Ela também pediu abertura "imediata" e "sem condições" da Faixa de Gaza.
A Casa Branca comunicou que o presidente Barack Obama lamenta "profundamente" a perda de vidas e expressa preocupação com os feridos. "O presidente também expressou a importância de saber todos os fatos e circustâncias relacionados com os trágicos acontecimentos desta manhã o mais rápido possível."
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que era aguardado na próxima semana para conversas na Casa Branca, nos Estados Unidos, anunciou o cancelamento da visita na tarde desta segunda-feira.
"Estou chocado com as informações", disse Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, numa conferência sobre o Tribunal Penal Internacional em Campala. "Condeno essa violência. É vital que haja um inquérito completo para determinar como aconteceu esse banho de sangue", completou.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas também convocou uma reunião emergencial na tarde de segunda para discutir a crise deflagrada pelo ataque israelense.
Ataque
As imagens gravadas por uma televisão turca mostram soldados israelenses descendo de helicópteros no barco que liderava o comboio e o início do confronto com os passageiros. Também é possível ver pessoas feridas deitadas no chão.
As forças israelenses acusam os ativistas de terem iniciado o conflito. Segundo Israel, os soldados revidaram com armas de fogo após terem sido atacados com facas, armas de fogo e cacetes. Mas os ativistas insistem que os soldados já chegaram atirando.
"Eles começaram a violência. Nós fizemos todos os esforços possíveis para evitar o incidente", tentou explicar Mark Regev, porta-voz do primeiro-ministro israelense.
Segundo Israel, os ativistas foram advertidos sobre a ilegalidade de furar o bloqueio à Faixa de Gaza e avisados de que, se o comboio seguisse adiante, os barcos seriam interceptados e levados até o porto de Ashdod e que os ativistas seriam presos antes de serem deportados.
Além dos nove mortos, dezenas de pessoas ficaram feridas. O Almirante Eliezer Marom, chefe das Forças Armadas de Israel, disse que o confronto se limitou à embarcação turca, que levava 700 passageiros.
Bloqueio de Gaza
Israel declarou a Faixa de Gaza como "território inimigo" em agosto de 2007, oito meses depois de o grupo radical Hamas ter vencido as eleições parlamentares na região autônoma palestina.
O objetivo era aumentar a pressão para que o Hamas cessasse os disparos de foguetes, quase que diários, contra o território israelense. Outra medida foi a interrupção de energia elétrica e de bens de luxo para quase 1,5 milhões de habitantes.
Em 2008, Israel fechou a fronteira com a Faixa de Gaza e interrompeu o abastecimento de combustível. Somente suprimentos de ajuda humanitária podem ser importados e a entrada de matéria-prima no país é proibida.
NP/apn/dpa/rts/afp/lusa
Revisão: Alexandre Schossler