Quebra do gelo
14 de novembro de 2008A reunião de cúpula entre a União Européia (UE) e a Rússia nesta sexta-feira (14/11), em Nice, revelou mais uma vez as divergências em relação à Geórgia, mas apontou para uma linha comum em relação à crise financeira.
O presidente russo, Dimitri Medvedev, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, disseram após o encontro que ambos os lados têm posições quase idênticas em todos os pontos relacionados à cúpula do G20 neste sábado em Washington. Ambos reivindicam, por exemplo, a reforma das instituições financeiras internacionais e um melhor controle dos mercados, mesmo que essas exigências ainda sejam bastante vagas.
Medvedev apóia a sugestão do colega de pasta francês de organizar uma segunda cúpula internacional sobre a crise financeira dentro de cem dias, disse Natalia Timakova, porta-voz do Kremlin. O segundo encontro seria necessário, uma vez que o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, não vai participar da reunião deste sábado.
Negociações prosseguem em dezembro
No início de dezembro, a UE e Moscou retomarão as negociações do acordo de parceria. Elas haviam sido interrompidas por causa da guerra na Geórgia. Sarkozy, que também ocupa a presidência rotativa semestral do Conselho da União Européia, aproveitou para exigir mais "progressos" na retirada das tropas russas da Geórgia.
No tocante ao conflito na Geórgia, o presidente francês salientou que a Rússia já cumpriu "uma grande parte" de suas promessas. Algumas questões primordiais, no entanto, continuam não resolvidas, como por exemplo, o status das províncias Ossétia do Sul e Abkházia. A UE insiste que ambas pertencem à Geórgia. A Rússia reconhece a integridade da Geórgia, desde que a Ossétia do Sul e a Abkházia sejam reconhecidas como independentes, observou Medvedev.
Sobre o cessar-fogo russo-georgiano na Ossétia do Sul, Sarkozy disse ter frisado a Medvedev a necessidade de serem registrados "avanços na retirada das forças russas". O presidente russo, por seu lado, insiste que o acordo de cessar-fogo foi todo cumprido.
Sarkozy ressalta importância da segurança pan-européia
Outro tema difícil nas relações entre Bruxelas e Moscou é a política de segurança. Sarkozy manifestou preocupação com as declarações do líder russo sobre a intenção de instalar mísseis no enclave de Kaliningrado. "Transmiti ao presidente Medvedev quão preocupados estamos com essas declarações e como é importante que não haja qualquer instalação enquanto não tivermos discutido a segurança pan-européia", declarou Sarkozy.
Medvedev anunciou na semana passada a intenção de instalar mísseis no enclave russo de Kaliningrado, que faz fronteira com dois países da UE, para neutralizar o sistema de defesa antimíssil que os Estados Unidos pretendem instalar na Polônia e na República Tcheca.
Sarkozy confirmou que propôs a realização de um encontro de cúpula da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) para discutir a segurança no continente europeu. Ele adiantou que ela poderá ocorrer em "meados de 2009".
Segurança energética é preocupação européia
Os interesses econômicos dominam as preocupações de ambos os lados nas negociações do acordo de parceria. A Rússia é um dos parceiros comerciais mais importantes da União Européia, sendo que um terço da energia consumida no bloco de 27 nações provém do país.
O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, resumiu da seguinte maneira suas críticas indiretas ao Kremlin, ao mesmo tempo em que manifestou sua visão das relações entre Bruxelas e Moscou: "O futuro das relações entre a União Européia e a Rússia tem de ser definido pela economia e não por mísseis".