UE não reconhece resultado da eleição em Belarus
19 de agosto de 2020Os líderes da União Europeia (UE) decidiram nesta quarta-feira (19/08) não reconhecer o resultado das eleições presidenciais de Belarus, que garantiram um sexto mandato consecutivo ao autoritário presidente Alexander Lukashenko e desencadearam no país uma onda de protestos antigoverno.
Os chefes de governo e de Estado europeus também expressaram apoio às manifestações em massa a favor dos direitos democráticos e avisaram que estão preparando uma longa lista de nomes do país que sofrerão sanções por fraude eleitoral e repressão brutal contra manifestantes.
"As eleições não foram justas nem livres e não cumpriram os padrões internacionais. Não reconhecemos os resultados apresentados pelas autoridades bielorrussas", afirmou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, em entrevista coletiva virtual após presidir uma reunião feita por videoconferência entre líderes dos 27 países-membros da UE.
O político belga disse ainda que a situação na antiga república soviética é "cada vez mais preocupante" e garantiu que a mensagem dos chefes de governo e Estado do bloco é clara: "A UE se mantém solidária ao povo de Belarus e não aceita impunidade."
O presidente do Conselho Europeu avaliou que a situação no país não se trata de "geopolítica", mas de uma crise nacional, sobre o direito de eleger livremente suas lideranças.
Além disso, Michel considerou que a violência utilizada contra manifestantes, que há 11 dias consecutivos vão às ruas protestar contra os resultados eleitorais, foi "impactante e inaceitável" e, por isso, pediu que seja feita uma investigação sobre os fatos.
Segundo ele, a UE imporá "sanções a um número substancial" de pessoas consideradas responsáveis pela fraude eleitoral e pela violência, com medidas restritivas que já estão sendo preparadas. "Trata-se de punições seletivas, não contra o povo bielorrusso", afirmou.
Por sua vez, a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, cujo país detém atualmente a presidência rotativa da UE, reiterou que "as eleições [em Belarus] não foram justas nem livres e, por isso, não é possível reconhecer seu resultado".
Em Berlim, Merkel também condenou a "violência brutal" contra manifestantes pacíficos e pediu ao regime bielorrusso que liberte, sem impor condições, todos os detidos durante os atos.
Em conversa com jornalistas, a líder alemã disse que chegou a propor um telefonema com Lukashenko para debater a situação, mas ele não aceitou a oferta. "Lukashenko rejeitou a ligação telefônica, o que eu lamento. Só é possível mediar quando você está em contato com todos os lados", disse Merkel.
Também falando após a cúpula, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a UE apoia totalmente os esforços de mediação entre o governo bielorrusso e a oposição, supervisionados pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
"Estamos prontos para acompanhar uma transição de poder pacífica e democrática em Belarus", disse. "Estamos do lado do povo que deseja liberdades fundamentais e democracia."
Von der Leyen também informou que o bloco "mobilizará um adicional de 53 milhões de euros em apoio ao povo de Belarus nesses tempos difíceis". Segundo ela, 2 milhões de euros ajudarão vítimas da repressão policial, e 1 milhão serão para apoiar grupos da sociedade civil e a mídia independente. A maior parte vai para assistência emergencial à crise do coronavírus.
As eleições presidenciais de 9 de agosto em Belarus terminaram oficialmente com a vitória de Lukashenko por mais de 80% dos votos. O resultado, divulgado pela comissão eleitoral do país, controlada por seu governo, é contestado pela oposição, que alega que a oposição foi fraudada, e desencadeou uma onda de protestos em massa no país europeu, que não faz parte da União Europeia.
As forças de segurança prenderam quase 7 mil pessoas e feriram centenas com balas de borracha, granadas de atordoamento e cassetetes nos quatro primeiros dias de manifestação. Ao menos três manifestantes morreram, e há relatos de atos brutais de violência contra os detidos.
Apesar da dura repressão policial, os atos têm crescido e se tornaram o maior movimento antigoverno desde que Lukashenko assumiu o poder, em 1994. Trabalhadores de empresas estatais realizam greves nesta semana, enquanto protestos sem precedentes corroem a autoridade do presidente conhecido como "o último ditador da Europa".
Antes da cúpula entre líderes da UE nesta quarta-feira, a líder oposicionista Svetlana Tikhanovskaya, que ficou em segundo lugar no pleito, com cerca de 10% dos votos, clamou pelo apoio dos europeus ao que chamou de "o despertar de Belarus".
"Eu peço que vocês não reconheçam essas eleições fraudulentas. Lukashenko perdeu toda a legitimidade sob os olhos da nossa nação e do mundo", disse Tikhanovskaya em vídeo a partir da Lituânia, onde se exilou após a eleição, temendo ser presa pelo regime de Lukashenko. Do país vizinho, ela vem convocando os bielorrussos a saírem às ruas a favor da democracia.
Lukashenko ordena limpeza das ruas
Nesta quarta-feira, pelo 11º dia seguido, centenas de manifestantes antigoverno voltaram a se reunir na capital bielorrussa, Minsk, desafiando uma nova ordem de Lukashenko, que instruiu suas forças de segurança a restaurarem a ordem nas ruas da cidade.
"Não deve mais haver qualquer desordem de qualquer natureza nas ruas de Minsk", declarou o presidente, citado pela agência de notícias estatal Belta, ao anunciar a nova repressão policial na capital. "As pessoas estão cansadas. O povo exige paz e sossego."
Porém, até o início da noite desta quarta-feira, não havia sinais de grandes operações para retirar os manifestantes das ruas. Centenas de pessoas se reuniram em frente ao Ministério do Interior, que comanda a polícia, gritando "Renuncie!". Um grande número de policiais estava estacionado no local em viaturas, mas não foi tomada qualquer atitude em repressão ao protesto.
Também nesta quarta-feira, o Ministério da Defesa de Belarus ordenou um aumento da presença militar ao longo das fronteiras com a Polônia e a Lituânia, segundo noticiou a agência de notícias TASS, citando a pasta. O ministério estaria planejando enviar uma divisão de mísseis guiados, tecnologia militar antiaérea e drones à região.
Em discurso durante um ato pró-governo convocado por Lukashenko no último domingo, o presidente havia expressado preocupação com exercícios militares da Otan nas vizinhas Polônia e Lituânia, lançando acusações de que a aliança militar estaria enviando tanques e aviões para a fronteira oeste de Belarus – o que a Otan negou.
EK/afp/ap/dpa/efe/rtr/dw
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