Um ano depois
24 de julho de 2011Há um ano, em 24 de julho de 2010, a festa de música eletrônica Love Parade, em Duisburg, chegava a um fim triste: 21 pessoas morreram durante o festival. A maior parte das vítimas perdeu a vida porque ao ser esmagada e sufocada durante um ataque de pânico coletivo. Mais de 500 pessoas ficaram feridas – as entradas para a festa eram muito estreitas, e as saídas de emergência estavam distantes do local do incidente ou bloqueadas.
Após a tragédia, promotores públicos tentaram investigar o que aconteceu exatamente na Love Parade. O relatório final, aparentemente, é bastante delicado, motivo pelo qual o governo do estado da Renânia do Norte-Westfália tenta mantê-lo em segredo. Os promotores, até o momento, não fizeram qualquer comentário sobre o trabalho e não deram entrevistas.
Ulli Tückmantel, chefe de reportagem do jornal Rheinische Post, foi um dos poucos que teve acesso ao relatório de mais de 400 páginas. Sua avaliação sobre o material é clara: "É um protocolo de erros e falhas."
Autorização equivocada
A Love Parade sediada em Duisburg nunca deveria ter sido autorizada. Essa é a conclusão da promotoria, segundo Tückmantel. O local onde a festa aconteceu era uma antiga estação de trem limitada por uma cerca, numa área inadequada para abrigar a multidão. O festival tinha autorização para receber até 250 mil pessoas. Mais de 900 mil, no entanto, estavam presentes.
A catástrofe era previsível. Especialistas avisaram aos organizadores em Duisburg sobre a situação de perigo em edições anteriores da Love Parade realizadas em Essen e Dortmund. No entanto, o alerta não provocou esforços extras em Duisburg, diz Tückmantel.
A única entrada para o evento do ano passado era um túnel, que se mostrou estreito demais para o número de visitantes. Os responsáveis pela emissão da autorização deveriam ter exigido saídas de emergência de 440 metros de largura. O organizador afirmou, no entanto, que 150 metros seriam suficientes. O túnel que servia de entrada e saída principal tinha apenas 30 metros de largura.
Tragédia anunciada
De acordo com a investigação da promotoria, as autoridades municipais ignoraram problemas potenciais do mega festival e ficaram passando a responsabilidade de um lado para o outro até que, no fim, adotaram o conceito de segurança proposto pelos organizadores.
Para Tückmantel, a responsabilidade pela tragédia não é apenas dos organizadores, mas também dos políticos. "Eles fizeram de tudo para receber a Love Parade em Duisburg", comenta o jornalista. De fato, a cidade estava com tão pouco dinheiro em caixa, que jamais poderia ter abrigado a festa.
O organizador do festival, Lopavent GmbH, uma empresa privada, colocou extrema pressão sobre o poder municipal para realizar o evento, apesar das considerações. "O imenso dano econômico e também de imagem que um cancelamento do evento pode trazer para os organizadores, para a cidade e para a região do Ruhr superam potenciais riscos", escreveu na época o escritório de advocacia Härting, numa carta ao prefeito de Duisburg, Adolf Sauerland.
A permissão final para a Love Parade foi assinada apenas três dias antes do festival. Foi só no dia do evento que as barreiras que dificultavam o tráfego no local foram removidas para que ambulâncias pudessem manobrar na área.
Lotação
Falhas antes do evento, falhas durante a festa. O número de seguranças era muito pequeno e muitos não conseguem dar conta do controle do fluxo de visitantes que chegam ao local. O mesmo pode se dizer da polícia: troca de mensagens naquele dia comprovam que houve erro, decisões equivocadas e falta de orientação.
A comunicação entre policiais também foi marcada por problemas, já que a rede de telefonia móvel foi afetada. Não estava incluído no planejamento um circuito privado de telefone celular, usado em casos de sobrecarga da rede.
Também não havia no local alto-falantes para anúncios emergenciais. Ao que tudo indica, não havia cabos suficientes para a instalação dos aparelhos.
Discussão presente
Depois do desfecho da última Love Parade, o temor na Alemanha é que outros grandes festivais também acabem em fiasco. Desde então, há poucos dias um ataque de pânico em massa foi evitado no último minuto em Freiburg, durante o festival de verão "Sea of Love". Novamente, o evento recebeu o dobro de visitantes esperados e as cercas dispostas no local para controlar o fluxo de pessoas acabaram bloqueando as rotas de fuga.
Desde a tragédia em Duisburg, novas regras de segurança passaram a ser exigidas em todo o país. Grandes eventos só poderão receber autorização se submeterem um detalhado conceito de segurança com antecedência.
Os acessos a locais de grandes eventos são alargados e mais rotas de emergências são inseridas, recebendo mais iluminação. Sistemas de vigilância de vídeo também observam o fluxo de visitantes. O número de forças de segurança também aumenta consideravelmente para que, em casos de emergência, haja pessoal suficiente para direcionar as pessoas.
O que aconteceu na Love Parade em Duisburg causou tamanho choque que muitas cidades, na dúvida, preferem cancelar grandes eventos.
Autor: Wolfgang Dick (np)
Revisão: Marcio Damasceno