Um dos maiores icebergs da história se solta na Antártida
12 de julho de 2017Um bloco de gelo de 5,8 mil quilômetros quadrados se desprendeu da plataforma de gelo Larsen C, formando um dos maiores icebergs já registrados e alterando o mapa da Antártida.
Cientistas que há anos vinham observando a crescente rachadura na plataforma Larsen C anunciaram nesta quarta-feira (12/07) que o iceberg de trilhões de toneladas finalmente se rompeu nos últimos dois dias e está agora à deriva no Mar de Weddell.
Entrevista: "Rompimento pode ter efeitos terríveis"
A ruptura acabou acontecendo mais rápido do que se esperava. Depois de avanços lentos ao longo de anos, a rachadura se prolongou por 17 quilômetros dentro de uma semana, em maio. A plataforma de gelo Larsen C foi reduzida em tamanho em um recorde de 10% e tem agora a sua menor extensão.
Embora o novo iceberg tenha pouco ou nenhum impacto imediato na região, na biodiversidade ou nos níveis do mar, os cientistas estão preocupados com os efeitos a longo prazo da separação.
Ciclo natural e mudanças climáticas
Rupturas de icebergs na Antártida fazem parte de um ciclo natural. O gelo constantemente avança sobre o oceano. Como resultado, a plataforma de gelo cresce em média 700 metros por ano. Em algum momento, uma parte dela se separa, reiniciando o ciclo. Por isso, cientistas afirmam que a formação deste novo iceberg não está necessariamente ligada às alterações climáticas.
"Este iceberg não aumentará os níveis globais do mar", disse a geofísica Daniela Jansen, do Instituto Alfred Wegener de Pesquisa Polar e Marinha em Bremerhaven, na Alemanha. "É como cubos de gelo num copo de água. Eles não aumentam a quantidade de água no copo quando derretem."
Mas a nova ruptura pode fazer com que a plataforma de gelo Larsen C se torne instável e, eventualmente, colapse. Ao norte, duas plataformas menores já passaram por esse processo. A Larsen A desapareceu em 1995. Sete anos depois, a Larsen B entrou em colapso.
Os cientistas atribuem esses dois colapsos e o recuo de várias plataformas de gelo da Antártida nas últimas décadas ao aquecimento global. "O colapso de Larsen A e de Larsen B foi associado ao aumento das temperaturas do oceano na Península Antártica", disse Jansen. "A questão agora é se a tendência vai se espalhar para o sul e desestabilizará também a Larsen C."
Os cientistas irão agora monitor a Larsen C para ver se ela manterá o ciclo natural e voltará a crescer ou se derrete ainda mais e, eventualmente, colapse. No entanto, dados do projeto da pesquisa Midas, na Universidade de Swansea, no Reino Unido, já apontaram para um eventual colapso.
Isso pode levar décadas. Mas, ao contrário dos icebergs que se desprendem da plataforma de gelo, a camada de gelo atrás dela está sobre a terra. Se esse gelo derreter, ele acrescentará água adicional ao mar, levando a um aumento nos níveis oceânicos.
Apesar do seu grande tamanho, o novo iceberg não é páreo para outros que já se desprenderam do continente gelado. Em 2000, por exemplo, o iceberg B-15, de 11 mil quilômetros quadrados, descolou-se da plataforma de gelo Ross. A própria plataforma de gelo Larsen C já deu origem a icebergs maiores, como um de 9 mil quilômetros quadrados em 1986.
Lições para o futuro
A Antártida é um sistema extremamente complexo, e os cientistas ainda não a monitoraram por tempo suficiente a ponto de detectar tendências e fazer previsões. Essa é uma das razões pelas quais a ruptura da plataforma de gelo Larsen C atraiu tanta atenção.
"Recebemos novas imagens de satélite a cada seis dias. É muito emocionante, porque agora podemos monitorar todo o processo, algo que não conseguíamos fazer antes", disse Jansen.
Ela acrescentou que as lições aprendidas com a Larsen C são muito importantes para o futuro. "Os dados nos permitem criar modelos capazes de gerar previsões de longo prazo para plataformas de gelo ainda maiores."
Os cientistas estão preocupados que o colapso das plataformas de gelo, assim como das camadas de gelo sobre a terra, possa desestabilizar as geleiras na Antártida Ocidental. A camada de gelo sobre a terra da Antártida Ocidental contém água congelada suficiente para aumentar o nível do mar em cerca de 6 metros caso derreta.