Relações bilaterais
23 de abril de 2008Há quase dois anos, em meados de 2006, quando chefes de governo e Estado dos países da UE e da América Latina estiveram reunidos, as divergências entre os representantes dos dois continentes eram sensivelmente distintas: enquanto o presidente venezuelano, Hugo Chávez, aproveitava a ocasião para atacar a Europa e os EUA, os representantes da UE insistiam em não ceder no debate acerca dos subsídios agrários.
Acordos bilaterais
Em vez de decisões comuns em relação aos países latino-americanos, os europeus preferiram, até agora, assinar acordos bilaterais com o México, o Chile e em breve com o Brasil. Martin Schulz, presidente da bancada socialista no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, acentua a necessidade – por ocasião do próximo encontro de cúpula EU-América Latina, que acontece em maio próximo – de uma disposição maior em negociar e aproveitar as chances históricas.
Segundo o deputado europeu, a UE precisa da América do Sul na luta contra as mudanças climáticas e na defesa da floresta amazônica. "Em nenhum outro lugar do mundo que não a América Latina, a Europa conta com tamanho apoio e ressonância no combate aos problemas atuais. Por isso, não podemos mais nos dar ao luxo de, desta vez em Lima, somente repetir o que o premiê austríaco Schüssel disse em Viena, por ocasião do último encontro: que ótimo que podemos falar uns com os outros", lembra Schulz.
Crescimento econômico
Problemas sociais, proteção ao meio ambiente e questões energéticas são alguns dos assuntos a serem abordados entre os chefes de governo e Estado presentes na capital peruana, nos dias 15 e 16 de maio. Jacques Barrot, comissário da UE, salienta a importância do enorme potencial do continente latino-americano, tão rico em matéria-prima.
"Pela primeira vez, a economia da região apresenta, há cinco anos, um crescimento em torno de 5%. Os orçamentos públicos conseguem, desta forma, se recuperar. As reservas se consolidam e os problemas sociais da região, já conhecidos, começam a ser solucionados. Não esqueçamos, porém, que mesmo assim ainda vivem no continente 200 milhões de pessoas abaixo do limite da pobreza", diz Barrot.
A União Européia é o maior financiador de ajuda ao desenvolvimento a países latino-americanos, e as empresas européias têm no continente o principal destino de seus investimentos em todo o mundo. O parlamentar espanhol José Ignacio Salafranca lembra que 40% de todos os cereais cultivados no mundo vêm da América Latina. Embora nem apenas os fatores econômicos sejam relevantes, diz o deputado, uma vez que a Europa está, politicamente, mais próxima do continente latino-americano do que de qualquer outra região do planeta.
"Ligação histórica"
"Para a UE, a América Latina não é apenas um mercado, mas também um continente ao qual estamos ligados pela história e com o qual dividimos valores que deveriam ser implementados em todo o mundo, tais como liberdade, democracia, respeito pelos direitos humanos e pelo estado de direito", afirma o conservador Salafranca.
Para reafirmar tais valores, o parlamentar acredita que o próximo encontro de cúpula em Lima deverá debater seriamente sobre uma solução para a crise dos reféns de guerrilheiros na Colômbia, entre outros o caso da ex-candidata à presidência Ingrid Betancourt. "Nós nos solidarizamos com todos os prisioneiros na Colômbia. Com todos os reféns, inclusive, obviamente, com Ingrid Betancourt. Eles precisam ser libertados com urgência", acentua o deputado espanhol.
Marcar lugar
Já Martin Schulz, parlamentar alemão social-democrata, defende uma aproximação imediata dos governos europeus com Cuba. "Vamos acabar com isso e nos reconciliar, pois uma mudança através da aproximação é uma política melhor do que a isolação no estilo Bush". A opinião de Schulz, no entanto, não é compartilhada pelos parlamentares de partidos conservadores em Estrasburgo.
Para vários deputados do Parlamento Europeu, o bloco de 27 países deveria aproveitar os esforços dos vários governos latino-americanos de esquerda em prol de uma certa independência dos EUA, para ocupar espaço na região. Segundo os parlamentares, os europeus não devem deixar o lugar ser ocupado pelos chineses, que investem em massa na região, compram matérias-primas e adentram os mercados lociais com produtos de baixo custo.