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Unidos da Tijuca leva a "Alemanha encantada" para o Sambódromo

7 de fevereiro de 2013

Com enredo que vai dos irmãos Grimm à alta tecnologia, a escola de samba carioca vai homenagear a Alemanha no desfile de carnaval. Dificuldade em arrumar patrocinadores marcou preparativos.

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Foto: AFP/Getty Images

Geralmente associados a um perfil sisudo e introspectivo, os alemães querem virar o jogo na maior festa popular do Brasil. O país europeu e suas contribuições para o mundo serão os temas da apresentação da Unidos da Tijuca, atual campeã do carnaval carioca, neste domingo (10/02), no Sambódromo do Rio.

Com o enredo "Desceu num raio, é trovoada! O deus Thor pede passagem pra contar nessa viagem a Alemanha encantada", a escola de samba vai exibir na avenida uma mescla de elementos do folclore alemão com um lado mais moderno e festivo, representado pelas inovações tecnológicas e forte presença cultural.

Com o apoio do Consulado Geral da Alemanha no Rio de Janeiro e do Instituto Goethe, o desfile marca o lançamento informal do Ano da Alemanha no Brasil, celebração que promoverá uma série de apresentações culturais e intercâmbios entre os dois países, entre maio de 2013 e maio de 2014, com o objetivo de fortalecer e ampliar as relações já existentes.

"Queríamos aproveitar o carnaval para chamar a atenção para o programa", afirma Harald Klein, cônsul alemão no Rio. Para o diplomata, a maioria dos brasileiros ainda tem uma visão antiquada do país europeu. "Tem muitos que ainda não conhecem a Alemanha tolerante, sustentável e com forte inclinação cultural e tecnológica."

Dificuldades com os patrocinadores

A apresentação deste domingo à noite é o ápice de um projeto desenvolvido desde março passado. Logo após a vitória da Unidos da Tijuca, em 2012, o carnavalesco Paulo Barros, responsável pela criação do desfile, e alguns representantes da diretoria da escola de samba visitaram a Alemanha, a convite do governo local, para conhecer a faceta mais contemporânea do país e começar a desenvolver o enredo.

Deutschland Geschichte Wirtschaftswunder Familie mit VW am See
Este velho conhecido dos brasileiros tem lugar garantido no desfile da Unidos da TijucaFoto: picture-alliance/dpa

A colaboração, no entanto, não se traduziu em investimento direto do governo, que bancou apenas a viagem. Entre todas as empresas alemãs procuradas pela Unidos da Tijuca, apenas três aceitaram contribuir com a apresentação: a montadora Volkswagen, a farmacêutica Merck e a fábrica de ferramentas motorizadas Stihl.

O trio financiou cerca de 20% do desfile, orçado em R$ 10 milhões. Todos os outros apoiadores são brasileiros. Anualmente, o governo e a prefeitura do Rio de Janeiro, junto com empresas estatais nacionais, dão uma ajuda de custo às escolas de samba, complementada pela venda dos direitos de transmissão para a TV.

A falta de patrocínios desapontou a escola de samba carioca. "Houve preconceito por parte das empresas alemãs em participar do carnaval carioca. Elas associam o evento à zona, bagunça, quando na verdade é a maior festa popular do Brasil, em que cada escola tem 80 minutos de exibição na televisão e é vista pelo país inteiro", afirma Bruno Tenório, diretor de marketing da Unidos da Tijuca.

"Da mesma forma que nós quebraremos velhos clichês associados à Alemanha, ainda presentes na cabeça dos brasileiros, também seria ótimo que nosso desfile contribuísse para mudar a mentalidade alemã sobre o nosso carnaval. É incrível que eles não percebam a enorme oportunidade de negócios que desperdiçaram", complementa.

Da mitologia à era moderna

Dissonâncias à parte, a Unidos da Tijuca entrará na avenida, neste domingo à noite, com quatro mil integrantes e oito carros alegóricos. O desfile foi dividido em blocos temáticos, que homenageiam facetas diversas da Alemanha. "Nossa ambição é mostrar todas as contribuições positivas que os alemães tiveram para o mundo nos campos da arte, ciência e tecnologia. Eles têm uma cultura riquíssima, desde os tempos da mitologia até a era moderna", explica o diretor de carnaval da escola, Ricardo Fernandes.

Goethe in der Campagne von Johann Heinrich Wilhelm Tischbein
Goethe, maior poeta alemão, não poderia ficar de fora

Logo após a comissão de frente, um segredo guardado a sete chaves por Paulo Barros e pela diretoria da escola, surge a figura do deus Thor, que celebra a tradição da mitologia germânica junto a outros seres fantásticos, como gigantes, duendes, elfos e gnomos, protagonistas até hoje de histórias extraordinárias que misturam homens e divindades.

O setor seguinte é dedicado à influência alemã nas artes, com sua forte presença no cenário da música erudita, cinema e literatura. Neste bloco, serão feitas referências às sinfonias de Beethoven, à dramaturgia criada por Bertold Brecht e à literatura de Goethe. No carro alegórico virá um anjo azul, homenagem ao filme homônimo estrelado por Marlene Dietrich nos anos 30.

Logo depois, os irmãos Grimm também serão lembrados com seus contos de fada. Em um carro alegórico, os personagens dos autores, como a Branca de Neve e a dupla João e Maria, estarão escoltados por bonecos Playmobil, outra criação alemã. Haverá ainda um parque com tobogã e piscina, ilustrando o caráter lúdico do universo infantil.

Bildergalerie Brüder Grimm Märchen
João e Maria, dos irmãos Grimm, serão lembradosFoto: Brüder Grimm-Haus, Steinau

Em seguida, surgem as inovações tecnológicas feitas na Alemanha. Serão lembrados o dirigível zepelim, o raio-x, a impressão de manuscritos e os famosos carros germânicos. Num dos carros alegóricos haverá a réplica de um Fusca, automóvel popular da Volkswagen que fez grande sucesso no Brasil e no mundo na segunda metade do século passado.

O desfile é encerrado com a celebração da gastronomia e bebida alemã, em uma ala que exibe as famosas würsts (salsichas) alemãs e um carro que receberá imensas tulipas de cerveja. "Não há nada melhor do que terminar o desfile brindando com cerveja, o elemento que une os sambistas e os alemães", brinca Fernandes, confiante que a homenagem à Alemanha manterá o alto padrão alcançado pela Unidos da Tijuca nos últimos três anos, quando a escola foi campeã duas vezes, em 2010 e 2012, e vice em 2011.

Autor: Patrick Moraes, do Rio de Janeiro
Revisão: Alexandre Schossler