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Union Berlin assume o poder futebolístico na capital alemã

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
25 de janeiro de 2022

Enquanto a estrela do Union sobe e sua torcida tem todo direito a sonhar alto com uma participação no cenário da elite europeia, o antes dominante clube da capital, Hertha Berlin, periga ir para a Segundona.    

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Max Kruse comemora gol com colegas do Union Berlin em partida contra o Borussia Mönchengladbach em 22 de janeiro
Max Kruse comemora gol com colegas do Union em partida contra o Borussia Mönchengladbach em 22 de janeiroFoto: Lukas Schulze/Getty Images

Anualmente a revista kicker faz uma pesquisa de opinião pública antes de começar uma nova temporada da Bundesliga. Um dos itens pesquisados diz respeito aos possíveis candidatos a rebaixamento para a segunda divisão.

Em 2019 o Union Berlin tinha acabado de subir à elite, e 51% de 105 mil usuários pesquisados não acreditavam que o modesto clube do sudeste de Berlim reunisse condições para aguentar o tranco da primeira divisão. Não apenas aguentou, mas na classificação geral ao final da campanha, ficou num honroso 11º lugar, com o mesmo número de pontos do seu rico arquirrival Hertha Berlin.

Em 2020 foi feita nova pesquisa, e dessa vez 30% de 144 mil usuários ainda continuavam céticos em relação aos "Unioner". Nova surpresa. O clube dessa vez acabou no 7º posto e garantiu uma vaga para disputar a recém-criada Europa Conference League. É ocioso dizer que antes da atual campanha 21/22, o Union nem apareceu na lista de candidatos ao rebaixamento. Foram apontados Greuther Fürth, Arminia Bielefeld e Bochum como mais prováveis vítimas da degola.

Enquanto sobe a estrela dos "ferreiros" de Köpenick (bairro da bucólica periferia berlinense), o até então dominante clube da capital, Hertha Berlin, mergulha em estonteante crise técnica e se vê às voltas com o perigo iminente de fazer suas malas e passar uma temporada na Segundona.       

E isso sem contar que perdeu a hegemonia no cenário futebolístico da capital - hegemonia essa que detinha há décadas - para o seu arquirrival Union. Perdeu em três níveis. Cantou de galo por muito tempo, já não canta mais.

A "velha senhora" ultrapassada pelos "ferreiros"

Na Bundesliga, o time comandado pelo técnico Urs Fischer desde 2018 atualmente ocupa o quarto lugar na tabela, posto que lhe garante a participação na cobiçada Champions League. Enquanto isso, o Hertha perambula no 13º posto, a apenas três pontos da repescagem e quatro do rebaixamento direto.

No DFB Pokal (Copa da Alemanha), as duas equipes se enfrentaram pelas oitavas de final na última quarta-feira (19/01) em pleno Estádio Olímpico de Berlim. Era a grande chance do Hertha ainda salvar a temporada, mesmo porque a final desse torneio é invariavelmente disputada nesse estádio, que é a sua casa. Nada feito. Placar final apontava Union 3x2 Hertha.

Até no número de sócios, a "velha senhora" foi ultrapassada pelos "ferreiros". O último placar de dezembro de 2021 apontava pequena vantagem para os últimos: 40.725 x 40.051. Não é pouca coisa, especialmente se forem considerados fatores extra-campo como respectivas origens e aspectos econômico-financeiros.

O jornal Bild não deixa por menos: "Union agora é o Big City Club! E o Hertha apenas o número 2. Nada pode mudar isso!"

Verdade. No confronto direto entre os dois na atual temporada só deu Union. Uma vitória no primeiro turno da Bundesliga e outra nas oitavas de final do DFB Pokal. Sem contar, a abismal diferença técnica entre as duas equipes.

"O Union tem tudo aquilo que o Hertha gostaria de ter"

O diário berlinense Tagesspiegel foi direto ao ponto logo depois do espetacular triunfo no mata-mata do Pokal: "O Union tem tudo aquilo que o Hertha gostaria de ter, mas não tem: um plano de jogo, uma estrutura tática, uma equipe funcional, a convicção de sua própria força e, talvez o mais importante, continuidade."

Desde que o treinador suíço Urs Fischer assumiu o comando da equipe em 2018, quando o clube ainda estava na segunda divisão, passaram pelo Hertha nada mais nada menos do que seis técnicos, inclusive o badalado Jürgen Klinsmann.

E tem ainda Oliver Ruhnert, o diretor de esportes, que desde 2017 conseguiu estruturar uma equipe que parece funcionar como um relógio suíço. Ao contrário do que acontece com o Hertha, o Union garimpou jogadores que ninguém mais queria, mas que acabaram formando um coletivo de dar inveja.

Só para citar um exemplo: o veterano atacante Max Kruse, de 32 anos, poderia ter sido contratado pelo Hertha em 2020, mas o diretor de esportes da época, Michael Preetz, o achou caro demais e confiável de menos. Hoje Kruse é um dos principais protagonistas do Union, com seis gols e sete assistências nos dois torneios nacionais, além de se constituir numa das lideranças em campo.

A torcida do Union Berlin tem todo direito a sonhar alto com uma participação no cenário da elite europeia, mas o tarimbado Urs Fischer prefere manter os pés no chão: "Vamos fazer de tudo para continuarmos na Bundesliga. Tudo o que vier a mais, é puro lucro."  

Um lucro, ainda que simbólico, o Union já obteve. O clube é agora o incontestável número 1 de Berlim. 

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.