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Union Berlin – quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
30 de agosto de 2022

Com trajetória ímpar, modesto clube do leste da capital alemã divide a liderança do campeonato alemão com o poderoso Bayern. Sonhar é de graça, e muitos torcedores do Union já sonham com o título da Bundesliga.

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Julian Ryerson, do Union Berlin, e Thomas Ouwejan, do Schalke 04, em disputa de bola
Julian Ryerson, do Union Berlin, e Thomas Ouwejan, do Schalke 04, em disputa de bola no último sábado, quando o clube berlinense fez história com seu triunfo por 6x1Foto: INA FASSBENDER/AFP/Getty Images

Mais de 62 mil torcedores lotaram a Veltins Arena em Gelsenkirchen para ver o seu Schalke 04 ser desmontado e sucumbir diante um Union Berlin extremamente eficiente. Os fãs de camisas azuis, ainda atônitos, pareciam não acreditar no que acabavam de presenciar. No olhar perdido na multidão era possível perceber toda sua impotência, sua consternação, seu desespero e, afinal, seu reconhecimento: seu amado time "azul real" em quase nenhum momento do jogo foi capaz de fazer frente ao oponente de Berlim e impedir uma avalanche de gols. 

O Union fez história com seu triunfo por 6x1 sobre o Schalke 04 no último sábado (27/08). Foi o maior placar aplicado a um adversário desde que o clube berlinense chegou à Bundesliga, em 2019, e representou também sua primeira vitória sobre o clube de Gelsenkirchen.

A estrela que sobe

A cada temporada que passa, o Union sobe de produção. Como estreante no futebol de elite, ficou logo de cara num honroso 11º posto. Na temporada seguinte, subiu mais um pouco e, por sua boa colocação na tabela (7º), obteve uma vaga na Conference League. Não bastasse isso, na campanha de 2021/2022 terminou em 5º lugar, o que lhe garantiu uma vaga direta na Europa League, onde fará sua estreia na próxima semana contra os belgas do Royale Union Saint-Gilloise, no seu estádio raiz An der Alten Försterei (Antiga Guarda Florestal), na periferia do sudeste de Berlim, no bairro de Köpenick.  

É uma trajetória ímpar desse modesto clube do leste da capital alemã, especialmente se comparada à de seu primo rico do outro lado da cidade, o Hertha, que atualmente comemora seus 130 anos de existência, mas de fato não tem muito o que festejar. A "Velha Senhora" perambula, sem eira nem beira, pela zona de rebaixamento da tabela da Bundesliga.

Enquanto isso, o Union divide a liderança do campeonato alemão com o poderoso Bayern. Ambos ostentam dez pontos na tabela, e os bávaros estão à frente dos berlinenses apenas pelo saldo de gols (14 x 8). Os dois vão se encontrar no próximo fim de semana, quando o time comandado pelo suíço Urs Fischer receberá a rapaziada dirigida por Julian Nagelsmann.

O segredo do sucesso 

O Union Berlin melhora a cada rodada e, com a vitória sobre o Schalke 04, se tornou o caçador nº 1 do decacampeão alemão. Logo em sua primeira temporada no Union, em 2018, o técnico Urs Fischer levou o clube à primeira divisão e, no decorrer desses últimos quatro anos, formou uma equipe de respeito, que pode encarar qualquer outra sem fazer feio – como demonstrou no último fim de semana.

Fischer trabalha como um relojoeiro suíço, com extrema precisão e exatidão. No seu sistema 3-5-2, todos os jogadores precisam saber se posicionar e ficar atentos para o posicionamento do seu companheiro mais próximo. Até o distanciamento entre um jogador e outro nas linhas defensivas é pré-estabelecido. Se, durante o jogo, os defensores estiverem muito distantes um do outro, Fischer começa a gritar à beira do campo exigindo mais compactação.

Urs Fischer é um técnico bastante reservado. Só fala em público o absolutamente necessário. Prefere observar calmamente em vez de sair falando precipitadamente. Por outro lado, não suporta jogador folgado e chama a atenção de qualquer um assim que nota um relaxamento na concentração do atleta. Às vezes até exagera: depois da festa pela goleada sobre o Schalke 04, advertiu a rapaziada: "Vamos precisar melhorar nosso desempenho frente ao Bayern."

O técnico Urs Fischer, do Union Berlin
O técnico Urs Fischer trabalha como um relojoeiro suíço, com extrema precisão e exatidãoFoto: imago images/Contrast

Outro fator importante que explica o sucesso do Union é a política de compra e venda de jogadores implementada pelo diretor executivo Oliver Ruhnert. Enquanto outros clubes ainda estavam negociando transferências, o Union, apenas dois dias depois de abrir a janela de contratações, já havia contratado oito jogadores, dando tempo suficiente para que os recém-adquiridos pudessem se integrar à equipe.

O perfil do atleta também é levado em consideração. Qualidades como dinamismo, velocidade, complexão física e mentalidade forte são traços fundamentais para que o profissional a ser contratado possa atender as exigências formuladas pelo treinador.

O exemplo do Leicester City

O zagueiro Maya Yoshida do Schalke 04 fez uma declaração surpreendente sobre o Union logo depois da goleada sofrida por seu time: "Eles não têm a qualidade do Bayern de Munique, mas têm uma estrutura de jogo muito bem estabelecida, dentro da qual jogam um bom futebol muito parecido com a forma de jogar do Leicester City." Yoshida deve saber do que está falando, porque atuou na Premier League pelo Southampton de 2012 a 2020.

O modesto Leicester foi campeão inglês em 2016 – e não apenas isso. Na tabela, deixou para trás os poderosos times de Manchester, Londres e Liverpool com duas rodadas de antecedência. Foi um moderno conto de fadas que, no âmbito do negócio bilionário em que se transformou a Premier League, não poderia ter sido possível e que até hoje ainda carece de uma explicação lógica.

Sonhar é de graça, e há muitos torcedores do Union Berlin já sonhando com o título da Bundesliga porque afinal, "quem sabe faz a hora, não espera acontecer".

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.