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EducaçãoEstados Unidos

Universidades dos EUA sofrem evasão de alunos na pandemia

Timothy Rooks
20 de fevereiro de 2022

Tendência de queda no número de estudantes no país se agrava com crise de coronavírus. Em período de alta de salários, muitos optam por abandonar ensino superior para aceitar um emprego bem pago.

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Auditório em universidade mostra bancos vazios.
Nem todos os estudantes voltaram às salas de aula das universidades americanas depois da pandemiaFoto: picture alliance/chromorange/S. Schumann

Há muito o ensino superior é visto como o caminho para se conseguir um bom emprego. Muitas descrições de cargos listam explicitamente um diploma universitário como pré-requisito. Apesar disso, as matrículas de alunos em cursos de graduação vêm diminuindo gradualmente nos Estados Unidos, na última década, com a pandemia de coronavírus dando um empurrão adicional nessa tendência.

Desde o outono de 2019, as inscrições nas faculdades americanas caíram 6,6%, para pouco mais de 14,4 milhões de estudantes em período integral e parcial, de acordo com o centro de pesquisas sem fim lucrativos National Student Clearing House. Isso significa mais de 1 milhão de alunos a menos do que há dois anos.

Tanto universidades públicas que oferecem programas de bacharelado de quatro anos quanto faculdades privadas registraram declínio no número de alunos. Faculdades comunitárias, que oferecem principalmente programas de dois anos para associados e geralmente atendem alunos de baixa renda, de cor e mais velhos, foram as mais atingidas, com uma queda de 13% nas inscrições.

Mas se a escolaridade é tão importante, por que menos alunos estão se matriculando? E o que isso significa para o futuro deles e para a economia?

Michigan

Em quase todo o estado de Michigan, as matrículas de alunos para programas de dois e quatro anos caíram, em comparação com 2019. Nos últimos dois anos, o estado enviou 17.500 graduados do ensino médio a menos para a faculdade do que seria esperado, de acordo com pesquisa recente da organização de notícias Bridge Michigan.

Dawn Aubry
Dawn Aubry, da Universidade de Oakland, tenta convencer jovens de que o ensino superior vale a penaFoto: Courtesy of Oakland University

A Universidade de Oakland, uma hora a norte de Detroit, tinha bons números antes da pandemia. Atingiu um recorde de matrículas em 2016 e recebeu suas segundas maiores turmas de calouros da história nos segundos semestres de 2018 e 2019, de acordo com Dawn Aubry, do departamento de gestão de matrículas.

Após 2019, a instituição perdeu 2.100 matrículas, e hoje tem pouco mais de 12.500 alunos de graduação. Uma ligeira diminuição nas taxas de retenção aumentou o problema, à medida que os alunos foram deixando a universidade. Isso atingiu quase todos os grupos demográficos. "No entanto, alguns grupos foram impactados ainda mais do que outros. Estudantes de minorias menos representadas, em particular, tiveram taxas de retenção muito mais baixas do que nos anos anteriores", diz Aubry à DW.

Outro problema foram alunos aceitos no segundo semestre de 2021, mas que optaram por não frequentar a faculdade, 48% a mais do que no ano anterior. "Embora alguns deles possam optar por se juntar a nós num semestre posterior, nosso desafio agora é se reconectar com essa população de alunos para ajudar a explicar o valor do ensino superior e o benefício de obter um diploma de bacharelado", explica Aubry

Impacto de longo prazo na economia

Convencer futuros alunos não deveria ser muito difícil, no papel. Um estudo divulgado em outubro pela Universidade de Georgetown concluiu que trabalhadores com diploma de bacharel ganham em média US$ 2,8 milhões (R$ 14,3 milhões) durante a carreira: 75% a mais do que se tivessem apenas um diploma do ensino médio.

Além de maior potencial de ganhos, os dados mostram que um diploma abre as portas para mais oportunidades de carreira e maior satisfação no trabalho. Indivíduos com nível educacional mais alto são menos propensos a perder o emprego e, se isso ocorre, encontram um novo com mais facilidade.

"Embora a faculdade não seja o caminho certo para todos, ela oferece uma das melhores opções de mobilidade econômica ascendente. Se menos gente frequenta a universidade, isso poderá ter enormes impactos na segurança financeira da família e na economia no futuro", adianta Sarah Sattelmeyer, diretora de projeto de educação, oportunidade e mobilidade do programa de ensino superior da New America, um think tank com sede em Washington.

Campus da Universidade de Oakland
Campus da Universidade de Oakland: instituição registrou queda de matrículas após 2019 Foto: Courtesy of Oakland University

Adiando a faculdade, pelo menos por enquanto

Ainda assim, há muitas razões por que o ensino superior sofreu queda de adesão nos EUA. Devido a uma taxa de natalidade mais baixa, o número total de graduados do ensino médio não está crescendo e estagnou ou até caiu em alguns lugares. Isso significa que o fluxo de novos alunos está diminuindo.

Ao mesmo tempo, os custos das mensalidades sobem, colocando a faculdade fora do alcance de quem não não consegue uma bolsa de estudo ou não está disposto a pedir créditos estudantis.

A pandemia de covid-19 desempenhou um papel dramático, mantendo os recrutadores universitários longe das escolas de ensino médio, e os alunos, das visitas aos campus universitários. Durante os lockdowns, muitos estudantes rejeitaram pagar mensalidades integrais para ficar em casa e assistir a aulas apenas online. As restrições de viagem bloquearam completamente uma boa parte dos estudantes estrangeiros.

A pandemia também colocou muitas famílias em situação financeira precária. Para esses potenciais alunos, mais estudos não eram mais uma opção: eles tinham que trabalhar para pagar suas contas.

Trabalho em vez de faculdade

Outros em situação financeira menos apertada foram tentados por um mercado de trabalho onde os empregadores disputam os trabalhadores oferecendo salários mais altos. Esses empregados não veem necessidade de um diploma quando estão ganhando mais do que nunca, especialmente em hotelaria e empregos de baixa qualificação.

"Historicamente, a matrícula em faculdades tem sido contracíclica, especialmente em faculdades comunitárias. Quando a economia se contrai, mais gente volta aos estudos ou se matricula; quando se expande, muitos voltam ao trabalho", relata Sattelmeyer.

Jovens conversam diante de um mural
Estudantes da Universidade de Oakland: atraídos por bons salários, muitos optam por largar estudos e entrar no mercado de trabalhoFoto: Courtesy of Oakland University

Contudo, isso não se repetiu durante a pandemia de covid-19, pois muitos alunos em potencial nunca se matricularam ou deixaram os programas completamente. "Embora as matrículas tenham diminuído nos últimos anos por várias razões, a pandemia acelerou essa tendência, especialmente entre estudantes de graduação", ressalta Sattelmeyer.

O problema é muito maior do que apenas números de matrículas: os governos locais e estaduais ajudaram as faculdades durante a pandemia, mas essa nova situação ressalta a necessidade de investimentos de longo prazo em programas que realmente facilitem a graduação, de acordo com Sattelmeyer.

Como atrair os alunos de volta às salas de aula

No entanto, antes que mudanças estruturais possam acontecer, as entidades educacionais estão tentando trazer os alunos de volta o mais rápido possível, oferecendo programas de bolsas de estudo, fazendo campanhas especiais de recrutamento e indo atrás de alunos que desistiram.

Na Universidade de Oakland, a equipe de admissões está se empenhando para explicar por que nunca houve um momento tão bom para investir no futuro buscando um diploma. A fim de manter os alunos que têm e recuperar os que pararam de frequentar as salas de aula, desenvolveram o programa Golden Grizzlies Graduate.

A nova iniciativa é flexível e destina-se a ajudar os alunos a retornarem ou seguirem estudando. É uma abordagem holística, envolvendo "bolsas de estudo e recursos especializados para permitir que estudantes de graduação obtenham seus diplomas de bacharel", explica Aubry.